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(Para Nicanor Parra – 1914-2018)

Um louco não se anuncia.
Um poeta também não deve fazê-lo.

Postulados me cansam.
Ando troçando traumas, tratados e tratos.

Não tenho verdades para anunciar.
Apenas velhas e mastigadas questões me ruminam.

Trago apenas uma certeza:
a certeza de que não tenho certeza de nada.

Não professo nenhuma ordem, seita ou método.
Caminho nesse tabuleiro de possibilidades recheadas de dúvidas.

Navego nesse oceano de expressões populares, piadas, trocadilhos e ironias
para não naufragar na baixeza tosca desses homens embrutecidos.

Não tenho necessidade de redenção.
Por isso, esses antipoemas.

Sou um sujeito antipoético e ridículo.
Porque tudo é ridículo e só aderno no cansaço.

Adestrei-me no hábito de simular que era alguém
para que ninguém descobrisse que eu sou ninguém.

Trividido sob a identidade fundamental do existir, sonhar e representar,
ousei ser clown num lugar pleno de tecnocratas.

Como fazer poemas do Olimpo em um mundo em que
o sujeito acorda cedo, teme a deus, dorme mal e se mata de trabalhar?

Pratico um corte verbal que expõe nervos, fibras musculares, ossos e artérias.
Todos plenos da humana totalidade, munida de pensamentos, imagens e associações.

Temos de matar as vacas sagradas da literatura.
Só assim para que o verso popular volte a respirar.

O mundo tem beleza demais.
Por isso, sou esse antipoeta.

Por certo tempo odiei a América Latina, essa mãe velha,
que parece ser a inventora do mal de Alzheimer, mas generosa.

Montei meu esqueleto verbal sobre o decassílabo
porque não pude renunciar à coluna vertebral da minha linguagem-mãe.

Cuspi humor, ironia e sarcasmo – feito um anti-herói –
contra todas as ideologias deformadas.

E o alívio que me resta
é o de saber que nada termina comigo.

Obs: O autor é Jornalista e Gestor Cultural.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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