Padre Beto 1 de dezembro de 2020

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Uma família tipicamente italiana se reúne na casa da nonna para a ceia de Natal. Separados pela distância e estilos de vida bem diferentes, tudo transcorre em clima de festa, até que as verdadeiras personalidades de cada um dos irmãos vão sendo expostas e minam aos poucos, o clima festivo. O que resta da fraternidade familiar vai por água abaixo, quando os avós anunciam que decidiram morar com um dos filhos. A partir daí, começa um autêntico jogo de empurra-empurra, pois ninguém quer arcar com a responsabilidade. O filme “Parente…é Serpente” de Mario Monicelli nos faz refletir sobre o conceito de família e o que faz realmente um grupo de pessoas se tornar um núcleo familiar.

Em Gal. 5, 1, Paulo escreve uma das mais significativas frases do Novo Testamento: É para a liberdade que Cristo nos libertou. Diante desta frase surge, porém, a pergunta: do que Cristo nos libertou? Com sua morte e ressurreição, o Cristo nos liberta da morte como fato exterminador da vida. A partir da ressurreição a morte deixa de significar um “ponto final” e passa a ser uma condição de vida. O fato morte passa a ser uma passagem para a ressurreição, portanto, uma passagem para uma vida em completude. Desta forma, a morte é encarada como um estado que podemos ter na existência. Por isso que no texto de Paulo (Gal. 5, 13-18) logo após a frase sobre a libertação do Cristo, o discípulo discorre sobre a oposição entre carne e espírito. Porém, nós compreendemos a ligação a partir do momento que sabemos que carne (sarx) para Paulo não significa corpo, mas sim tudo que pode entrar em estado de decomposição. Como também, o espírito (pneuma) significa tudo que possa nos levar à vida, à transcendência. Não há neste discurso de Paulo nenhuma conotação moralista em relação à sexualidade, como poderíamos pensar. Carne é tudo que pode fazer deteriorar a vida. A inveja, o individualismo, a falta de diálogo são exemplos de carne, pois fazem deteriorar as relações humanas. Uma relação sexual pode ser tanto carne como espírito dependendo da forma como é vivenciada. A libertação dada pelo Cristo é a capacidade de discernimento entre aquilo que é carne em nossa existência, ou seja, aquilo que nos leva à morte e aquilo que é espírito em nossa existência, ou seja, aquilo que nos leva à transcendência. Nesta mesma linha Jesus prepara seus discípulos em Lc 9, 51-62 para certos aspectos que podem se tornar carne, uma existência em decomposição. “A raposa tem tocas e os pássaros tem ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar sua cabeça”. Jesus, com certeza, possui pelo menos sua casa em Nazaré, mas não é disso que ele está falando. O filho do Homem não tem onde repousar sua cabeça significa que Jesus não possui a ilusão da segurança na existência. Ele está totalmente livre para interagir com tudo que possa acontecer na vida. Desta mesma forma deve viver o seu discípulo, ele deve viver na liberdade para interagir com tudo aquilo que pode acontecer, pois tudo é possível em nossa existência. Tanto coisas ruins como coisas boas pertencem à vida. O desafio do discípulo é tornar toda experiência uma experiência do espírito, que nos leve à transcendência. “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos, mas tu vai anunciar o Reino de Deus”. O discípulo não deve se prender as situações que nos levem a viver uma vida-morte, ou seja, como mortos-vivos. Muitas vezes deixamos de fazer pelos vivos e choramos os mortos. Assim compreendemos que não basta ter, por exemplo, uma família, mas é necessário viver como família.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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