1. Falar de “novo normal” é falar do óbvio. Há milênios, a civilização humana sabe que “tudo corre, nada estaciona”. Aprendeu que pessoa, sociedade e natureza, na essência, são ao mesmo tempo, unidade e conflito. Essa permanente tensão gera movimento, que gera mudança, que faz a vida social e faz a história. Assim, tudo que foi construído, pode ser destruído e reconstruído. A normalidade seria a harmonia construída orientada por uma causa que cultiva valores humanitários. “Mudar sempre, para não mudar” porque se “todo cambia, no cambia mi amor, ni el recuerdo, ni el dolor de mi pueblo y de mi gente”.
  2. Anunciar que “logo voltamos à normalidade” ajuda a baixar a ansiedade e anima o povo à resistência quando acontecem mudanças aceleradas e inesperadas. Como não é fácil aguentar a pandemia, se pensa planos “pra quando voltar à normalidade”. Depois da tempestade, o que vem é a ambulância, a realidade com sequelas. Pregar a volta ao normal soa também como incutir no povo, a ideia de conformação e de fatalismo. Ensina a ter medo da mudança e manter as pessoas dependentes. Pobres já não serão pobres, nem negros discriminados, nem mulheres violentadas, nem vulneráveis maltratados?
  3. É doentio torcer contra vacina eficaz e desconhecer que o vírus cria limites indesejados. Levou gente ao desemprego, à tensão, ao stress, à angústia, à depressão, ao suicídio (como fuga da dor) e à morte. O Covid19 não criou a crise econômica, geopolítica, social, ambiental e sanitária. Apenas desnudou e acelerou crises existentes, no mundo. Os ricos sabem como ficar mais ricos nas tragédias e aproveitar a epidemia para ampliar seus negócios e seus lucros. Muitos governos fizeram reformas “de baciada”, se readequaram para continuar a ser a comissão que gerencia os negócios da minoria no poder.
  4. Quando alguém está ou se sente na prisão, o tempo é sempre longo. Mas, pandemia não pode ser vista como maldição dos céus e sim como oportunidade que forja atores capazes de encarar desafios e inventar saídas criativas, qualquer que seja a conjuntura. Pode ser a hora da criação, da reinvenção, da transição que se constroem nas ruínas e de transformar a morte em vida, o ocaso que anuncia uma aurora. Por isso, a esperança ativa precisa assumir o lugar da angústia e desespero e manter a fé no humanismo que renasce das cinzas da tragédia. É a resistência que significa, sobreviver lutando.
  5. O normal, hoje, é o exercício de fazer-desfazer-refazer o equilíbrio, na quarentena. Quem fez sugere: a) Ter como fim a derrota do vírus; b) Sobreviver de corpo e alma – seguir as orientações da saúde, sair para o essencial; c) Criar rotina diária para desfrutar a vida em casa (escutar, repartir tarefas doméstica, mostrar afeição…), ler, escrever, ver filmes, ouvir música, cultivar hobbies, iniciar algo novo, descansar, exercitar-se, caminhar, tomar sol; d) na tensão, animar e/ou buscar ajuda; d) Contribuir em ações solidárias; e) Avaliar o já feito, projetar o futuro e preparar-se para o normal na pós-pandemia.  novembro/2020
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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