Quando cheguei ao colégio Atheneu, em Aracaju, enfrentei, escalei e dobrei desafios. A mesma inteligência, habilidade e dedicação demonstradas pelos itabaianenses que antecederam minha geração eram exigidas de todos os estudantes procedentes do colégio Murilo Braga. Inteligência não é contagiosa e o brilho excessivo dos primeiros itabaianenses naquele colégio turvou demoradamente a minha presença e a de muitos outros.
Durante os primeiros meses do curso cientifico, foi fácil perceber que os estudantes se confrontavam por meio da nota mensal de avaliação. A nota 10 em física, química ou matemática, representava aumento do território de admiradores entre os colegas e professores, e um fascinante orgulho. Dediquei-me com afinco aos estudos e superei minhas limitações, que eram inúmeras. Em pouco tempo adaptei-me ao currículo e às exigências da escola. Incorporei o máximo da sabedoria de professores de vasta e profunda instrução, adquirida fundamentalmente pela leitura e pelos muitos anos de profissão. Passei a ser olhado como referencial na turma, e quando um professor apresentava tarefa individual para a classe, estimulando a troca de informações entre os alunos, muitos destes se aglomeravam ao meu redor. Concluído o curso cientifico, vinha o temido vestibular. Tinha perfeita consciência de que o ingresso na universidade não ocorria por sorte, mas sim por merecimento. Era tempo de renunciar espontaneamente às praias, cinemas, retretas e até mesmo aos prazeres das paqueras noturnas. Agarrei-me aos livros com dedicação exclusiva, utilizando toda a força física e intelectual disponível.
A aprovação no vestibular foi gratificante e afrodisíaca. Passei a despertar certo magnetismo no sexo oposto e fui assediado à luz do dia por uma moça jovem que estava de férias em Itabaiana. Era graciosa, alegre, transbordava vivacidade e causava admiração. Possuía uma variedade de atributos capazes de produzir sensações agradáveis que agitavam minha alma de forma intensa e sufocante. Rosto bonito e bem maquiado, com batom afogueado em seus lábios carnudos, sempre a estimular os lábios alheios.
Moderna, já não escutava todos os conselhos dos pais e seguia suas próprias convicções. No primeiro encontro, trajava um conjunto que irradiava sensualidade. O decote de sua blusa, intencionalmente rasgado, deixava descobertas as partes mais atraentes dos seios. A mini-saia, bem curta, se estendia até pouco abaixo das virilhas, expondo bonitas e bronzeadas coxas que me embriagavam e perturbavam o meu tino. Ao contemplar, com olhar de ximão, suas partes abundantes e belas, sentia sensações estranhas, no entanto agradáveis. Meu coração batia forte, a respiração ficava ofegante e minha voz se tornava afável e manhosa.
No segundo encontro, ela fez sua estreia no clube da cidade. Dançamos com maior intimidade e animação nos cantos menos iluminados do salão. Abraçava-me com suavidade e força progressiva até as partes intimas se tocarem de leve. Esfregava com delicado atrito seus seios no meu tórax. Entre um movimento e outro, mordia com seus lábios, sem machucar, o meu pescoço e sussurrava pedindo um beijo. Meu juízo ficava atormentado com intenso afago. Seus estímulos encantadores provocavam um comichão inquietante dentro de meu corpo e aumentava o fluxo sanguíneo nas partes mais caladas. Seus afetos pervertiam meus sentidos, mergulhando-me num cio intenso e demorado.
Nenhuma emoção podia ser comparada à aprovação no vestibular. Além do alvará para entrar na universidade, trouxe-me a atração pela primeira namorada admirável, uma jovem que nasceu para seduzir, encantar e amar. Nada quebrava seu fascínio, sua forma e seu ânimo.
Suas férias terminaram no dia seguinte à sua estreia. Viajou e desapareceu para sempre. Inexperiente e com saudade de tanto prazer, mantive a bela felina grudada em meu coração por alguns verões.
Obs: O autor é médico e membro da Academia Itabaianense de Letras.