Dinheiro chorado, dinheiro amaldiçoado.
Conforme o tempo foi passando a falta de juízo os erros de relacionamento começaram a pressionar pouco a pouco os filhos de Leogácia a tomarem o rumo de volta à casa da mãe. Era uma boa idéia? Claro que não! Mas a necessidade faz o artista. Não tinha jeito, o casamento da filha mais velha Leonília acabou. Na verdade este casamento tinha sido uma opção errada. Assim como sua mãe, não houve muito cuidado na escolha do marido.
Assim como seu falecido pai Francinaldo, Clodoaldo seu marido era policial, mulherengo, mentiroso e dissimulado. Estava claro que isso não ia dar certo, mas vamos lá! Quem entende coração apaixonado. O cara era bom de papo, tinha carisma, sambista, carioca da gema, cheio de truques. Deu no que deu. Clodoaldo engravidou a vizinha, então; com três filhos Leonília foi morar numa casinha ao lado da mãe. Para Leogácia isso foi o fim! Menos um aluguel, menos dinheiro na poupança.
Nunca mais a vida de Leonília teve estabilidade. Mesmo após ter saído da casinha de Leogácia, de vez em quando ainda precisava de ajuda financeira e isso criou o elo terrível, como já havia dito um conhecido da família: dinheiro de Leogácia é dinheiro maldito, não rende na mão dos outros, evapora. E quem o recebe sempre vai necessitar de mais por ter ousado pedir. Mesmo quem eventualmente trabalhava para Leogácia também reclamava disto.
O curioso do fato seria que toda essa usura nunca trouxe conforto ou qualidade de vida. Muito menos saúde ou prosperidade, mas só desavença, lágrimas e maldição. Foram dias muito difíceis os enfrentados por Leonília. Morando naquela casinha que pertencia a sua mãe, ela não tinha recursos para pagar aluguel, mas Leogácia não deixava por menos, enquanto a filha estava trabalhando para sustentar seus netos, ela sorrateiramente, uma vez que possuía cópia da chave da casa, surrupiava a despensa da filha. Não podia ficar de graça!
Vantagem era a lei, não interessa em cima de quem! O arroto do demônio tinha impregnado aquela alma. A colheita não seria agradável no acerto de contas. O estímulo da usura falava mais alto, não havia como não atender ao desejo ensandecido de enganar. Trapaça, a principal ferramenta de Leogácia. Filhos e netos provariam e muito dessa característica. No calor da planície sublimava a ética no braseiro da contradição. O que poderia se tornar união se fez desgraça em sentença.
O cheiro do vinhoto das usinas de cana impregnava a atmosfera. Essência indecorosa que junto ao calor insuportável da região acariciava os sentidos dos habitantes da terra. Só um pano de fundo peculiar para vidas duras, porém não doces como o caldo das moendas que mastigavam a cana, assim como a vida mastigava o destino dos homens.
Seria delírio se não fosse verdade narrar que a segunda filha de Leogácia até que casou bem. Levilha conheceu um estudante de odontologia, tinha um futuro promissor! Claro! Leogácia investiu nisso. Nerildo, um camarada sério e dedicado, não tinha a mínima idéia do que lhe esperava. Destino cruel esse que morde a alma e tira nacos que um dia irão fazer falta. Aquele casamento até poderia dar certo, mas; nesta partitura havia uma nota chamada Leogácia. Não haveria chance de felicidade.
Assim como a cana nas moendas, Nerildo teria sua alma triturada pela ambição e pela falta de decoro de sua sogra. De nada adiantaria o primeiro arroubo de felicidade e prosperidade com a profissão que tinha escolhido. Como fuligem de temporada de colheita, seus sonhos iriam pairar no entardecer cálido da cidade, e como esta, sua vida no fim iria para a sarjeta. Azares da vida, quando a premonição se torna castrada perante o olhar da maldade.