Assim falou o chefe dos sacerdotes de Bethel para o profeta Amós: “Vidente, vai te embora daqui, vai para a terra de Judá e ganha lá o teu pão profetizando. Mas não continues a profetizar em Bethel, porque aqui é o santuário do rei, uma residência real”. Amós 7, 12
O rei da Samaria faz o que ele quer. Um “reforço do Alto”, que o santuário promete, é bem vindo para ele. O chefe dos sacerdotes cobra obediência, mas o profeta não se retira. Se precisa de profetismo, é agora. A situação está tão séria que Javé diz: “Não continuarei a perdoar o pecado!” Amós 8,2 – Será que o Misericordioso vai esquecer da sua misericórdia?
Esta é a situação no Brasil: A consciência se acha desligada. A brutalidade escalou aos poucos sem grandes protestos e se apresenta como normalidade. Está tudo bem. Amós está desesperado, porque ninguém quer ver o que está escancarado. O problema é o profeta: VAI EMBORA PARA TUA TERRA.
O fogo infernal na Amazônia não é problema. A alta de mortes pela epidemia não é problema. O profeta prediz: “Haverá dias em que enviarei fome sobre a terra, não uma fome de pão ou sede de água, mas fome de ouvir a Palavra do Senhor. Andarão errantes de um mar ao outro e não a encontrarão e de sede desfalecerão”. Amós 11-12. Não tem perdão quem tem a vista boa e se faz de cego.
O profeta está no fim das forças. O que lhe resta? Somente resta anunciar a catástrofe. Mas não tem um mal que seja suficiente para acordar o povo. O pantanal está em chamas! – Eu sei! – Na Amazônia estão se extinguindo povos inteiros! – Eu sei! – Os brigadistas de fogo foram impedidos a fazer a defesa! – Eu sei! Deixa de ser chato!
Surgiu uma esperança, quando o Governo blasfemou contra Senado e Supremo que ensaiavam uma resistência, mas agora se fala de novo em HARMONIA DOS PODERES. De onde virá o socorro?
Onde está Amós? Ele voltou realmente para sua Judeia? Não. O profeta incentivou 152 Bispos a redigir um documento que deveria inflamar os corações; eis aqui um pequeno resumo: “…..Os planos do Presidente são antiéticos e se baseiam numa política mortífera. O Brasil passa pelo período mais dramático de sua história e é sacudido por uma tempestade. Juntam-se uma crise de saúde como nunca se viu e um desabamento da economia: uma tensão que em grande parte é causada pelo atual presidente. O governo não se preocupa com o Bem da Nação, quando faz uma política mortífera que só pensa no lucro do mercado. Toda hora ouvimos discursos que contradizem a ciência, e banalizam a epidemia. As “reformas” da Lei Trabalhista pioraram a situação, deserdando mais ainda os que estão desprotegidos. O controle da exploração da Amazônia é ineficiente. O Bem Comum e a paz social estão em perigo….”
Realmente impactante! Mas o apelo dos bispos está lá como se não estivesse. O presidente já está em tempo de nova campanha eleitoral, e os apoiadores são muitos. O problema é o silêncio dos fiéis: “O que você tem? Está tudo em paz!” Como se dissessem: “Eu gosto de você, mas deixa de falar de política”. É o desespero de Jesus que tenta dizer em Mat 16, 6: “Guardai-vos do fermento (das ideias) dos Fariseus e Saduceus”. E eles, tão alheios, pensam que Jesus está preocupado com falta de pão: “Ainda não compreendeis…?” Se o Mestre se desesperou e não conseguiu abrir os olhos dos discípulos, o que será de nós?
O que é que Amós pode fazer? Voltar realmente para sua terra de Judá? – Nunca! Se é para atravessar o VALE DAS SOMBRAS, ele vai junto. O que o segura são os HUMILDES DA TERRA que são mencionados no Sl 35, 20. Eles já gastaram seus argumentos e agora só fazem aguentar em silêncio, que a tempestade não derrube tudo. É para eles que Amós ainda pode falar. No abandono atual é importante saber QUE AINDA HÁ PROFETA EM ISRAEL. Exílio é quando a gente não entende a língua da terra. É isto que já ouvi várias vezes: “O Senhor não entende!” Realmente para mim não dá para entender. Mas você está entendendo isto? Teresina, dia 26 de outubro de 2020
Obs: O autor é Frade Franciscano, nasceu na Alemanha em 1940.
Chegou ao Brasil como missionário em 1964. Depois de completar os estudos em Petrópolis atuou no Piaui e no Maranhão. Exerceu trabalhos pastorais nos anos 80 em meio a conflitos de terra. Desde 1995 vive em Teresina no RETIRO SÃO FRANCISCO onde orienta pessoas na busca da vida espiritual.