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Hoje é 15 de novembro. Data da proclamação da República. Podemos dizer que foi mais um golpe sofrido pelas terras tupiniquins. O primeiro golpe foi a tomada das terras do pau Brasil pelos portugueses. Ignorando os povos nativos, os indígenas, tomaram posse da terra, e não só ignoram que a terra já tinha dono, como escravizaram os habitantes originais.

O ser humano é assim, desumano por essência. Que contradição!

Para falar sobre as invasões e escravizações de povos nativos da história da humanidade, precisaria de bem mais linhas do quedevo escrever nesse artigo. Vou mencionar, só de passagem, algumas, porque o meu propósito não é escrever aqui uma aula de história.

As invasões e a escravizações de povos nativos, como o fizeram os egípcios e os romanos, por exemplo, estão registradas até na Bíblia. Nos tempos mais antigos, os invasores eram chamados de conquistadores. Nos tempos mais próximos (não tão próximos, mas menos distantes que os tempos dos conquistadores), eram chamados de colonizadores.

Quando estudamos história mundial, vemos que o mundo passou a ser comandado pelas potências do momento, como se o resto do mundo fosse, digamos assim, um nada. O mundo já foi comandado pela França e Inglaterra, Pela Espanha e Portugal, pelos Estados Unidos e União Soviética, depois só pelos EUA, todos usando o mesmo método em relação a países politicamente mais fracos: invadir e conquistar. Os motivos para as invasões iam desde implantar o comunismo ou combater a implantação do comunismo, a coibir armamento como a construção de bombas atômicas até armas químicas invisíveis. Claro que o petróleo é um grande incentivador de invasões. Mas que invasor admite isso?

Mas deixando as invasões de lá de fora, vamos falar de um país invadido, colonizado, que se tornou escravagista e que tem síndrome de Estocolmo e nunca mais se livrou dessas coisas?

Pois é, se você falou Brasil, acertou em cheio. Colonizado pelos portugueses, invadido pelos holandeses (o Recife até agradece essa invasão), o Brasil é fruto de uma mistura maravilhosa de raças, embora a essa mistura tenha entre sua origem a escravidão.

Depois de ser uma colônia de Portugal por 322 anos, numa atitude supostamente heroica (só que não), Dom Pedro I dá um suposto golpe em Portugal e promove a “independência” do Brasil. Sessenta e sete anos depois, em mais um ato supostamente heroico, o marechal Deodoro da dá o Golpe Republicano nas terras que poderiam se chamar Ilha de Vera Cruz ou Terra de Santa Cruz.

A proclamação da República foi um golpe de estado político-militar, que instaurou a forma republicana presidencialista de governo no Brasil, encerrando a monarquia constitucional parlamentarista do Império, destituindo o então chefe de estado, Dom Pedro II, que recebeu ordens de se exilar na Europa.

Avançando no tempo, nos deparamos com o golpe de 1964, que instaurou uma ditadura militar por 21 anos, sangrenta e cruel e que acabou com o sentimento nativista de uma boa parte dos brasileiros que, em lugar de ter orgulho de seu País, tinha vergonha das violações aos direitos humanos, onde a prisão, tortura e o extermínio de opositores, era uma prática regular.

A ditadura acabou, mas a mania do brasileiro em acreditar nas promessas vãs e nos salvadores da pátria, seguiu em frente, levando à presidência um farsante, que deu golpe nas economias da população, com o tal do empréstimo compulsório.

De 2003 a 2016 o Brasil viveu tempos gloriosos, economia crescendo, em torno de 43 milhões de pessoas saindo da linha da pobreza, a população recuperando o poder aquisitivo, os mais pobres podendo comprar TV e geladeira, porque a luz chegava, finalmente à sua casa e também podendo por comida na mesa. Finalmente no Brasil a população mais pobre era ouvida e tinha acesso a bens de consumo que antes nem sonhava ter.

Mas, para uma parte da população, elitista e preconceituosa, lugar de pobre é na favela, longe dos shoppings e aeroportos. E se consegue se alimentar ou  não, não estão nem aí. É aquela parcela da população que pobre só serve para lhe servir, a baixos custos e que, mesmo trabalhando em suas casas e apartamento dos bairros nobres, não têm o direito de comer o que os patrões comem.

Essa parcela, nem sempre rica em dinheiro, mas, certamente, rica em preconceito de todas as categorias, gritou contra os mais médicos cubanos, contra as cotas nas universidades, contra a PEC das domésticas, contra os aeroportos cheios de gente que, para eles, no máximo, deveriam viajar de ônibus e nunca de avião, enfim, gritou, fez barulho e conseguiu mais um golpe, dessa vez, parlamentar, que destituiu uma presidenta eleita legalmente, que conduzia seu governo de forma a abranger toda a população e não apenas a elite.

Dois anos depois um golpe jurídico impediu que o candidato favorito nas eleições presidenciais, que deixou o segundo mandato de presidente da república com a aprovação mais alta da história do país e, com uma população contaminada pela mídia e pelas campanhas das elites, com o candidato favorito preso e impedido de se candidatar, o pior candidato de todos chegou à presidência da república e, desde então, a tal da Pátria Amada só vem sofrendo golpes, em sua dignidade e nos direitos dos seus cidadãos e cidadãs.

O Brasil que, durante 13 anos, ascendeu ao patamar de nação respeitada pelas grandes potências, que saiu do Mapa da Fome, hoje, tristemente retornou ao mapa da fome e é um país desacreditado e ridicularizado, nos quatro cantos do mundo.

Hoje é dia 15 de novembro, um feriado que caiu no domingo e que, por causa da pandemia, voltou a ser, como antigamente, dia de votar.

Hoje todas as pessoas em idade de votar, vão ter a oportunidade de escolher o prefeito ou prefeita e o os vereadores ou vereadoras de sua cidade. Os vereadores e vereadoras são os políticos mais próximos da população. São os que podem ouvir as suas reivindicações e o seu sofrimento. Eles e elas são a voz de cada cidadão, de cada cidadã nas Câmeras Municipais e que podem cobrar os prefeitos e prefeitas as ações que as cidades precisam para atenderem às reais necessidades da população.

Hoje, quando você for escolher seus representantes, suas representantes no parlamento municipal e quem vai administrar a sua cidade, escolha com cuidado e responsabilidade. Não vote em quem só aparece a cada quatro anos, fazendo promessas que nunca cumpre. Não vote em quem defende causas que você sabe que não são as da pessoa.

Para quem é da classe média pra cima, que não precisa dos serviços públicos, vote em quem irá ajudar a melhorar esses serviços para a população que precisa.

Quando digitar os dois números para prefeito/prefeita e os cinco para vereador/vereadora, vote pensando no bem que essas pessoas trarão para a coletividade.

E lembre-se, quem não está nem aí para política, quem não gosta de política, é governado por quem gosta, mas que, nem sempre, exerce seu mandato com a dignidade que ele merece.

Vou encerrar contando uma pequena história. Morreu um deputado e, para sua surpresa, foi recebido por um anjo. Perplexo ele perguntou se estava no céu. Ao que o anjo respondeu: ainda não. O protocolo manda que você escolha onde quer ficar, se no céu ou no inferno.

Animadíssimo pela possibilidade de ficar no céu, respondeu logo de imediato: quero ficar no céu. Não tenho nenhuma dúvida. Mas o anjo lhe respondeu que o protocolo mandava que ele primeiro passasse 24 horas no inferno. Depois passasse 24 horas no céu. E, só depois dessas 48 horas, ele poderia decidir.

Contrariado o deputado entrou no elevador e foi para o inferno. O anjo voltaria no dia seguinte para buscá-lo.

Chegando lá o deputado se deparou com um gramado maravilhoso e uma choupana, todos os amigos já falecidos, muita música, comida e bebida a valer. O diabo, sem nenhum rabo ou chifre, o recebeu pessoalmente e mostrou o lugar que era pura diversão.

No dia seguinte, ao chegar ao céu, encontrou um clima muito agradável, uma paisagem reconfortante, música suave e uma rede perfeita para descansar da farra do dia anterior. Quando questionado sobre sua opção, respondeu com firmeza: prefiro o inferno. E assim foi feito.

Quando desceu do elevador, qual não foi a sua surpresa, ao se deparar com uma imagem totalmente diferente da que vira antes. Nada de choupana, nada de gramado, um calor insuportável, as pessoas sendo torturadas, o diabo em sua forma original, um caos. Então o deputado pergunta ao diabo o que estava acontecendo, por que não havia mais gramado, bebidas, diversão? E o diabo respondeu: é que ontem, deputado, nos estávamos em campanha. Hoje já conseguimos o seu voto.

Pensem nisso na hora de escolher quem vai lhe representar e administrar a sua cidade nos próximos quatro anos. A propaganda nem sempre é igual à realidade.

Um bom e certeiro voto para você.

Obs: A autora é jornalista, blogueira e Assessora de Comunicação do IDHeC – Instituto Dom Helder Camara.
Site – jornalistasweb.com.br
blogs – misturadeletras.blogspot.com.br 

jornaloporta-voz.blogspot.com.br
encontrodapartilha.blogspot.com
 institutodomhelder.blogspot.com

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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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