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O tempo da escola é um tempo singular,
justamente pela semeadura dos sonhos e
pela mistura das expectativas juvenis
de um mundo melhor.

Uma triste coincidência deixa em luto uma das maiores escolas de Ensino Médio na cidade de Passo Fundo: o Instituto Estadual Cecy Leite Costa. Em menos de uma semana, 04 jovens morrem, de forma trágica e inesperada, e marcam a todos por sua passagem em razão de suas trajetórias únicas neste educandário. Seus nomes são: Emily, Guilherme, Nicoli e Marco.

A morte de alguém deixa vazios e resgata as mais singelas e importantes lembranças, mesmo que sejam breves. Neste momento, resgatamos as histórias e as trajetórias destes estudantes com os quais compartilhamos dois ou três anos de intensa convivência, seja como colegas ou como professores ou professoras.

Diga-se, de forma oportuna, que a escola é sempre o lugar das memórias mais ricas na vida da gente pela convivência saudável e organizada entre os jovens, tutelados pelos adultos, seus professores e professoras. O tempo da escola é um tempo singular, justamente pela semeadura dos sonhos e pela mistura das expectativas juvenis de um mundo melhor.

Todo o jovem tem este intrínseco desejo de mudança do mundo, o que, às vezes, rotulamos, indevidamente, teimosia, birra ou aborrescência. Na verdade, a rebeldia é a base da transformação do mundo, historicamente impulsionada pelas novas gerações.

A ausência da presença física destes queridos estudantes remete agora para necessárias reflexões em torno do sentido da vida que todos precisamos construir para que as suas e a nossa passagem não sejam em vão. Fazer a memória dos entes queridos é olhar para a história deles e “pinçar” ensinamentos e lições para que continuemos vivendo melhores, aproveitando tudo de bom que a vida pode nos dar.

Coincidência é que estes quatro jovens saíram para se divertir e, no meio do caminho, perderam suas vidas. Fizeram como o fazem milhares de outros, em busca de diversão e alegria, mesmo em tempos que ainda o bom senso cobra cuidados com aglomerações, em função da pandemia. Quiseram tão somente a alegria e a diversão, justamente porque estas promovem a vida mais intensamente.

Estes tristes fatos que chocaram a comunidade escolar do Instituto Estadual Cecy Leite Costa, alertam a todos e todas que a vida, nosso maior e precioso dom, deve sempre ser cuidada, protegida e preservada, na tentativa de minimizar os riscos que atentam contra ela. Afinal, morrer jovem é abortar os sonhos mais precoces.  Apontam como é triste para pais e mães, professores e professoras enterrarem jovens estudantes, pois estes são como uma extensão da vida da gente. Professores e professoras vivem os sonhos com os estudantes, projetam-se também na vida deles.

Quero homenagear a juventude e fazer memória dos jovens que, precocemente, deixaram de sonhar o seu e o nosso mundo, através de uma citação do poeta e músico Gonzaguinha e através de uma breve reflexão sobre as características da juventude, quase sempre incompreendida na sociedade.

“Eu acredito é na rapaziada/ Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na fé da moçada/
Que não foge da fera e enfrenta o leão”. (Gonzaguinha)

“Ao longo dos tempos, os jovens resistem e mantêm acesa a ideia de mudar o mundo. Desejam, profundamente, que ideais e mundo sejam uma nota só. Seus sonhos projetam ideias em teimosia.

Os jovens sempre gostaram de desafiar os adultos, embora nunca tenham dispensado o apoio sincero e franco, a escuta compreensiva e a orientação bem intencionada dos mais velhos. O inconformismo que caracteriza os jovens é a força renovadora que move o mundo, mas também algo que incomoda os já acomodados.

Acomodados, despreparados ou desconhecendo a realidade do universo juvenil, muitos desqualificam a juventude, vendo-a como um incômodo ou como uma fase de passageira rebeldia. Ao invés de emancipar, desejam controlar, dominar, moralizar.

A rebeldia é o sinal de que a juventude continua sadia, cumprindo com o seu papel de provocadora de mudanças. A rebeldia, aos olhos da filosofia, é atitude de quem quer ser sujeito de sua história, não seu coadjuvante. A filosofia, como o inconformismo, motiva cada um na busca de seus próprios caminhos. Se os jovens mantiverem senso de direção, terão o poder de mover mundos.

O fato é que os jovens de hoje vivem o seu tempo a partir de suas percepções, vivências e leituras. Seremos capazes de compreendê-los em nosso momento histórico? Teremos disposição para o diálogo e a escuta, buscando entender os desejos, sonhos, medos e angústias que os movem?”

25/10/2020

Obs: O autor é professor, escritor e ativista em direitos humanos, desde Passo Fundo, RS

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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