15 de novembro de 2020
- Quase Cem dias Sem Pedro. Ao ler mais de cinquenta testemunhos saudosos, mas felizes, sobre ele, construí uma síntese dessa oração. Pedro, ao voltar à Plenitude de onde saiu, se espalha e rompe o limite de um corpo. Torna-se um dever cultivar a memória desse mártir que, a exemplo do Mestre, se entregou pelo Reino e, por isso, se tornou bem-aventurado.
- Sua grandeza foi fazer-se pequeno e encarar os desafios do seu Combateu o bom combate e guardou a Esperança, um ato de rebeldia. Frágil agigantava-se e incendiava com sua voz de trovão e língua de profeta. Mas, a palavra não basta se não vira ação. Ser o que se é/Falar o que se crê/Crer no que se prega/Viver o que se proclama/Até as últimas consequências.
- Pedro deixou o povo maior, se espraiou, se multiplicou e continua nessa gente com anel de tucum, crentes na construção do novo tempo, aqui e agora. Tornou-se símbolo de compromisso com as causas do povo e nisso brilha de forma mais intensa. Foi pedra no caminho da ditadura e seus sócios na iniciativa privada e por isso, foi tantas vezes ameaçado.
- Era apenas Pedro. Não fez caso de títulos e cargos. Não foi bispo recebido, de joelhos, porque ajudou o povo a se levantar, a reagir e erguer santuários aos que sangraram nas mãos dos poderosos. Foi também pedra na edificação da igreja na Amazônia. Em muitas dioceses, nunca seria aceito nem para ser coroinha de paróquia, quanto mais padre ou bispo!
- Casaldáliga nos ajuda a integrar a dimensão carismática da fé e, sem dicotomia, o caráter subversivo e politicamente revolucionário do Evangelho. Conseguiu, pela denúncia intrépida, pelo testemunho arriscado, pela profecia inconveniente, pela poesia cortante, pela mística e pela espiritualidade, contagiar uma multidão de missionários… Foi fiel ao Deus de todos os nomes, de todos os povos e nações, acima de igrejas e religiões.
- É fácil matar o profeta que incomoda: torná-lo santo, citar suas palavras, deturpar suas ações, esquecer o que semeou e repartiu com os mendigos da felicidade. Recordar é ecoar seu nome entre os vivos para que sua memória não desapareça. Vive ao se falar seu nome, morre ao matar seu testemunho, se imortaliza ao tornar-se inspiração e referência para novas gerações.
- Enterrado, num obscuro cemitério, não será mais visto, ouvido, tocado…Ele que “para descansar/ só queria uma cruz de pau/ com chuva e sol/ sete palmos de chão/ e a Ressurreição”. Já não está entre nós, porque estará em nós... Suas palavras e testemunhos permanecem. Pessoas assim não morrem, não podem morrer. Pois, não há dúvida atingiram a imortalidade. novembro/2020
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.
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