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Nos países do norte, o Halloween, dia das bruxas, está ligado ao costume de exorcizar os espíritos e energias maléficas. Diferentemente, na cultura mexicana, a celebração do dia dos mortos vem mais da tradição indígena e  cristã de celebrar a nossa comunhão com os antepassados. A sociedade capitalista incorporou o Halloween quase como brincadeira de crianças e, através disso, manifesta sua simpatia por zumbis e vampiros.

Nestes dias, o povo da Bolívia teve uma eleição na qual exorcizou as bruxas do império norte-americano e os vampiros da elite local. Há um ano, estes tinham dado um golpe e tomado o poder. Durante este ano, cometeram muitos crimes e violências contra o povo. Assim, mostraram tudo do que são capazes para garantir o seu domínio e seus privilégios. Os povos indígenas e seus aliados não se intimidaram e votaram pela democracia, pela liberdade e bem-viver para todos/as.

No mesmo caminho está o povo da Venezuela que, daqui a um mês, no dia 06  de dezembro terá eleições para a Assembleia Legislativa. Assim, segundo as Constituições do país, vai se renovar o Parlamento. A guerra midiática do império e seus aliados tenta de todos os modos criar obstáculos ao processo, mas o povo e o governo bolivariano resistem.

No primeiro dia de novembro, a Igreja Católica e algumas evangélicas celebram a festa da comunhão de todos os santos e santas do céu e da terra. É o modo de dizer que, mais do que qualquer vírus, a fé, o amor solidário e a esperança em um mundo novo também se propagam por atração e provocam encantamento com o projeto divino no mundo.

De acordo com o ensinamento das Igrejas, todas as pessoas batizadas são santificadas pela graça divina. O costume da Igreja Católica é proclamar como santos canonizados, homens e mulheres que possam servir de exemplos de santidade para todos. Durante séculos, os papas privilegiavam pessoas que cultivavam virtudes pessoais e caminhos de perfeição interior.

Em dias tão turbulentos como estes que vivemos, o papa Francisco tem chamado a atenção para o exercício da santidade como testemunho e esforço de construirmos uma sociedade mais justa e mais humana.

Em nossas línguas, o termo santidade só se diferencia de sanidade por um t a mais. É santo ou santa quem vive a sanidade de uma vida humanizada e trabalha por um mundo mais humano e amoroso. Hoje, se vive esta vocação da santidade quando se toma como projeto de vida que todos os homens e mulheres do mundo possam ter uma vida de acordo com o propósito divino da paz, da justiça e da comunhão com o universo.

O processo social e político tem avanços e também obstáculos. Trata-se de um caminho com etapas. Nele, há limitações e mesmo pode haver erros. Não podemos exigir perfeição de projetos históricos e humanos. No entanto, como diz a Bíblia, há projetos que, mesmo com limitações e defeitos,  servem à Vida e se ligam à fraternidade universal, como propõe o papa Francisco na encíclica: Somos todos irmãos e irmãs. Ao contrário, há outros que até podem parecer mais atrativos, mas, em seu bojo mais profundo, provocam desamor, violência e morte. É preciso saber discernir e não perder a noção de que a prioridade é a Vida e a Justiça eco-social.

Dom Oscar Romero, arcebispo de San Salvador e proclamado santo pelo papa Francisco, afirmava: é preciso restituir a dignidade da Política com P maiúsculo, aquela que coloca como objetivo o bem comum.

Ao proclamar bem-aventurados pobres, aflitos e pessoas com fome e sede de justiça, Jesus revela a dimensão social e política da santidade.

No Brasil atual, Deus nos confirma que são bem-aventuradas as pessoas que ousam assumir como projeto de vida o sonho de um mundo novo possível. Certamente serão acusadas de ser de esquerda e até comunistas. Jesus e os melhores profetas que tivemos também foram incompreendidos. O importante é acolhermos como chamado divino a proposta de ensaiar uma nova forma de organizar o mundo e a vida.

Obs: O autor é monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares.
É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 57 livros publicados no Brasil e em outros países. O mais recente é Teologias da Libertação para os nossos dias (Vozes).

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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