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– Acho que devemos dar um tempo.
Foi pego de surpresa. Horas atrás tudo ia às mil maravilhas.
– O que foi que eu fiz?
– Nada com você. Bem, não totalmente…
– Entendi. Tem outro na jogada.
– Não é por aí. O problema somos nós dois, não entende?
– Gostaria de entender.
– Estamos muito grudados. A gente se isolou neste nosso mundinho…
– Que eu adoro.
– … e nos esquecemos de tudo.
– Podemos sair mais. Não é difícil de resolver isso.
– Sim, mas eu quero mais espaço para mim. A verdade é que me cansei dessa nossa vida, desculpe.
– Eu amo essa nossa vida.
– Eu também amei, mas agora eu quero conhecer gente nova. Ir a novos lugares. Cansei desse apartamento, das maratonas de séries, da comilança…
– Das nossas farras.
– Sim, tudo isso foi bom, mas cansei. Sou jovem demais para ficar aqui confinada com você. Você também é jovem demais para ficar aqui em cativeiro comigo.
– Eu trabalho em home office. Estou acostumado às paredes.
– Não devia. Faz mal tanto confinamento. Seja como for, não dá mais. Me sinto sufocada.
– Se é assim… Posso ao menos saber de quanto tempo vai precisar?
– Não sei ainda. O que sei é que, repito, eu preciso de ar. De novos ares. De gente nova. Circular em novos espaços.
Ele não insistiu mais. Viu ela arrumar a pequena mala, chamar um uber e partir do seu apartamento. Escurecia. A sala, iluminada apenas pela luz da TV, parecia agora outro lugar. Um local frio e desconfortável. No telejornal, o apresentador falava de uma epidemia que também ameaçava o Brasil. Mas ele nem deu bola para o noticiário. Pensava nela. Na vida nova que ela teria dali para frente: conhecendo outras pessoas, outros lugares nessa grande metrópole paulista.
Tinha razão o seu horóscopo. 2020 seria um ano difícil.
Obs: O autor é escritor e editor. Também é sócio-proprietário da Editora Penalux.