Há muitos anos, quando a internet era discada, vi um vídeo com o poema “Mude”, de Edson Marques. Não me lembro onde nem quem me mostrou, mas a mensagem eu nunca esqueci. Foram muitos anos no esquecimento até que eu pudesse resgatá-lo em minha memória (que já não é das melhores) e hoje acordei com ele em mente. Porque se eu tinha medo de mudança, pelo menos desse mal não sofro mais. E acho que aprendi tarde até sobre a impermanência da vida, mas aprendi. Talvez foi por isso quando meu chefe anunciou a mudança de nome da escola onde trabalho, após 25 anos, não me surpreendi. Fiquei feliz por trabalhar com uma equipe tão corajosa, audaz e capaz.
“Só o que está morto não muda”. Nos últimos anos mudei absolutamente tudo na minha vida, foi um período de desconstrução que veio com a força de um vulcão, se existe algum simbolismo com a tal idade de Cristo, hoje acredito nele, essa mudança começou aos 33 anos.
Mas engana-se quem acha que mudar é fácil. Ninguém muda e sai ileso. Para mudar tive que perder muita coisa e eu perdi a mais dolorida das perdas: meus pais. Perdi meu pai, mãe e avô, me desfiz de crenças antigas e medos absurdos que me paralisavam. O bom de desconstruir-se é que podemos escolher terreno mais propício para (re)construir alicerces que sejam mais duradouros. Mas, quando eles desmoronarem, pois isso também mudará, sei que posso recomeçar em qualquer lugar, porque o mais importante que é todo esse aprendizado, esse sim não muda, carrego para sempre em mim.
Mudar exige esforço, mudar exige uma sede inesgotável de querer ser quem se deseja e trabalhar para isso. Exige uma força para agarrar a vida pelas mãos e acreditar que darei conta do que vier. Exige dizer não para o que me parece pouco. Exige não me acomodar ou contentar-me com menos do que desejo. Exige fé. Exige entrega. Exige confiança nas forças do Universo e nas minhas próprias forças. Exige abraçar o vazio, o desconforto, as frustrações e a solidão. Exige ser forte e não ceder à carências. Porque sim, todos nós estamos carentes (de muita coisa) e sempre estaremos. Mudar exige dizer não. Muitas e repetidas vezes. Fazer escolhas mais saudáveis, mudar de opinião, seguir em frente, tentar, errar, tentar novamente, cair, levantar, cair novamente.
Por isso não me admiro que tanta gente tenha medo de mudar. A vida fora da zona de conforto é mesmo assustadora. Nenhuma mudança é “smooth”, mas enquanto estivermos vivos, mudar é inevitável. Só quem está morto não muda. Mudar exige uma flexibilidade que eu não sabia que era capaz de ter. Eu nunca entendi o conceito de resiliência, parece algo que se molda e é capaz de voltar a sua forma original, eu não quero voltar a minha forma original, quero continuar mudando, crescendo, errando, evoluindo, respirando. Mudar é estar vivo.
Só o que está morto não muda, mudar exige vida. E enquanto eu respirar, enquanto estiver viva, pretendo sempre, mudar.
Mude- de Edson Marques –Interpretação Antônio Abujamra
Obs: Vídeo enviado pela autora.