Há não mais de dois meses escrevi um texto intitulado: CHEGA NÃO QUERO MAIS; quando expus minha indignação com o que estava acontecendo com a pandemia causada pelo Covid-19. Relatando que não dava mais para aguentar tantos descalabros. Mencionei  até que não queria nem ouvir falar, daquela terrível doença.  Contudo, lendo o artigo do Professor Márcio Rego da UNICAP (O Novo Normal), publicado em um conceituado jornal de Pernambuco, percebi que meu sentimento não era isolado, bem como estamos criando uma situação fictícia. O citado professor mencionara em seu artigo, com referência a essa maldita doença: “O que talvez não estejamos percebendo é que não teremos um normal, nem tampouco um novo normal se mantivermos a mesma mentalidade que antecedeu a pandemia. Teremos sim um novo anormal”. E acrescentou: “Antes do Covid-19, o nosso “normal” já era anormal, injusto e desigual”. O mesmo propôs a ideia de um “MELHOR NORMAL” e  eu acredito que assim já evoluiríamos de uma forma mais humana e consistente para o nosso futuro.

Realmente se deixarmos as mazelas ocorridas nesse período de pandemia, nas mais diversas áreas, a falta de sensibilidade de alguns gestores, o oportunismo de alguns políticos, as informações irresponsáveis de alguns “especialistas”, talvez possamos otimizar e ampliar as boas iniciativas empreendidas nesse período. O Prof. Márcio Rego, fez uma extraordinária análise da conjuntura atual considerando o aspecto socioeconômico dentro do que seria o “melhor normal” e, me levou a refletir, como professor e pesquisador: o quanto estaríamos evoluídos cientificamente se tivéssemos tido, pelo menos um pouco,  do respeito e da consideração que agora, nesse período pandêmico, estão nos dando?

O que seria da humanidade sem a participação efetiva dos cientistas nesse desafiador período que vivemos? Identificando o vírus, caracterizando sua  patogenia, promovendo  estudos e formulando protocolos  epidemiológicos, avaliando alternativas de tratamento e, fato nunca ocorrido na história, criando a possibilidade, de forma extraordinária, da produção de uma vacina. Fantástico! Todo esse trabalho vem sendo desenvolvido por cientistas, aqueles indivíduos que acreditam e praticam a ciência. E estão conscientes que a ciência deve ser única e exclusivamente para o bem da humanidade. Isto precisa “ser gritado” ao mundo: são cientistas que estão em um esforço sobre humano, trabalhando para nos salvar, sob a luz do nosso Deus Pai todo poderoso. Sim não podemos perder a fé, vamos acreditar no proclamado “tudo vai passar”, porque mesmo um dos maiores cientistas do século XX Albert Einstein afirmou: “ Tanto a  ciência como a religião têm poder. Mas, a ciência sem religião é manca e a religião sem ciência é cega”

  Não me recordo, apesar do esforço contínuo dos pesquisadores desse país, tanta ênfase a ciência. A “conversa” era rotineira: não dispomos de recursos para investir em ciência. Infelizmente há alguns anos ouvimos até a lastimável afirmação de um presidente “intelectual”: “é mais interessante comprarmos do que investirmos em ciência.”  E assim era o nosso “normal”.

Sabe-se que 95% da ciência produzida no Brasil é originada das instituições públicas, o que, sem dúvida, deixa claro a qualidade de seus pesquisadores. Acrescente-se  que nossos pesquisadores no Brasil, obtiveram a marca de 250 mil artigos publicados na base de dados da Webb Com no período de 2011-2016. Então por qual motivo esses mesmos pesquisadores ainda necessitam  de um “pires na mão” para captação de recursos, para investirem em suas pesquisas?

Não queremos ser totalmente injustos, portanto, reconhecemos a contribuição de alguns editais das agências financiadoras e do considerável apoio na formação de recursos humanos por parte da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível  Superior -CAPES. Entretanto esses recursos são ínfimos para a real necessidade de investimentos para desenvolver  o país  como  inovador científico/tecnológico  e, principalmente, a discrepância regional na disponibilidade desses recursos, chega a ser uma agressão a federação do país. “Os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres”, ou seja: as maiores e mais tradicionais  instituições   conseguem captar praticamente todos os recursos destinadas à pesquisa, ficando as instituições em crescimento praticamente “a ver navios”. A disputa por  recursos é irracional. E há muito não se muda esse quadro, isso é “normal”. Cientistas nós temos, em todo país, e podemos dizer bons cientistas. Evidentemente algumas regiões encontram-se  mais desenvolvidas (correspondendo ao apoio sistemático que tem recebido) e  as outras regiões, que também tem pesquisadores qualificados, que poderiam contribuir muito, não só para suas regiões, mas com certeza para  todo o país, sofrem, infelizmente, a  falta de apoio, de respeito  e consideração rotineiramente.

Do mesmo modo, a pandemia trouxe-nos à tona o total descaso que tínhamos na saúde, isso era o normal. Hospitais abandonados, programas de saúde quase inexistentes, investimentos em prevenção próximo do zero, apoio à pesquisa insuficiente e completamente descontinuado, reconhecimento e respeito a ciência e aos cientistas desestimulantes, aproveitadores desse caos, uma enormidade.

Os profissionais que trabalham na área de saúde certamente aumentariam essa lista “normal”, levando-a  a uma relação que, provavelmente, não seria concluída. Tudo isso era “normal”. E a resposta era sempre: não dispomos de recursos, apesar que, constitucionalmente, os estados devem destinar 12% da receita à saúde e os municípios 15%. Essa conta, contudo, não é fácil de entender e nunca fecha, pelo menos no que se tem visto quanto a assistência  à saúde. É lamentável e tragicamente isso é “normal”.

Como compreender esse “novo normal”  se  as mudanças são só as causadas pelas consequências da Covid-19, a mentalidade, o oportunismo, a maldade enraizada no coração de muitos, a falta de caráter etc. etc. não mudarem?

Os cientistas, de modo geral, são boas sementes.  Vamos retomar a parábola do semeador (Mateus:13:8) quando relatou, quanto a boa semente: “outra ainda caiu em boa terra, deu boa colheita, a cem, sessenta e trinta por um”. Vamos adubar (apoiar) o terreno trabalhado pelos pesquisadores (a ciência) para que possamos colher bons frutos dos seus trabalhos. Como mencionou o Prof. Márcio: “O MELHOR NORMAL é possível. Em meio a dificuldades aprendemos que somos capazes de quebrar paradigmas, de ser solidários e de cuidar dos que mais precisam. Fizemos coisas que  jamais imaginávamos sermos capazes de fazer em tão pouco tempo”.  E ele concluiu: “ Eu acredito no Melhor Normal e você”?

Que bom se nós míseros mortais, antes de querer nominar um “NOVO NORMAL”, ou mesmo o MELHOR NORMAL, possamos  almejar que: “toda paz venha do alto, que todo amor venha de dentro, que todo o bem esteja ao redor”.

Obs: O autor, Prof. Dr. Rômulo José Vieira é Acadêmico da Academia de Ciências do Piauí; Acadêmico da Academia de Medicina Veterinária do Piauí; Acadêmico correspondente da Academia de Medicina Veterinária do Ceará; Acadêmico correspondente da Academia Pernambucana de Medicina Veterinária.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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