E eis que chegou o período do B-r-o bro, assim chamado o período cujos meses têm como última sílaba o bro. O calor começou a aumentar, a umidade caiu drasticamente e as reclamações são de todos os tipos. E é só o que ouvimos: este ano está mais quente que o ano passado! nossa, faz um calor insuportável! não aguento mais, não consigo nem respirar direito. É, tudo isso nos incomoda bastante, mas vejam que esse período se repete desde os primórdios do Piauí. O Piauí sempre foi quente, muitas vezes sendo até um “prato cheio” para os humoristas, os quais enriquecem seus anedotários, criando hilárias piadas. Alguns desses “engraçados” (ou será desgraçados?) nem conhecem o Piauí. Aqueles que fazem piadas, mas que conheceram o Piauí, felizmente, reconhecem que o calor humano do piauiense é muito maior que o calor climático. E as nossas riquezas, naturais e culturais deixam todos entusiasmados. Já no seu Hino, Da Costa e Silva proclamara:

“Salve a terra que aos céus arrebatas
Nossas almas nos dons que possuis
A esperança nos verdes das matas
A saudade das serras azuis”

Sim, vamos cantar nossas riquezas, Piauí terra querida. Neste período tão quente, precisamos nos aprofundar em nós mesmos. Vamos fazer uma “conta de chegar” nos nossos dias. Vejamos o quanto recebemos, de graça, da natureza. Façamos uma análise do nosso HD – winchester (nosso disco rígido interno) para eliminarmos tudo que não nos traz crescimento, tudo que não nos faça mais humanos. Esqueçamos as mágoas, as frustações, tudo aquilo que continuamos carregando, como uma cruz, mais pesada do que a que realmente merecemos carregar, por nossas culpas. Assim (quem sabe?), poderemos ver os presentes que recebemos todos os dias.

Observem que as dádivas começam com a oportunidade de mais um dia de vida. Um dia para renovação, para corrigirmos os erros do dia anterior, um dia para ficarmos mais leves, abandonando aqueles “arquivos mortos” que só nos trazem tristezas, aborrecimentos e nos impedem de ver o brilho magnífico do sol como um acolhimento.

O sol nos aquece e mesmo que a gente fique incomodado com nosso B-R-O BRO, imaginem se não tivéssemos esses dias! Se tudo fosse só escuridão. Não teríamos uma nova manhã, renovando nossas esperanças. Não ouviríamos o cantar do galo. Também não seria possível vermos o lindo azul celeste. Para onde iriam as nuvens? Sem o alvorecer, não viríamos o desabrochar das flores, não desfrutaríamos do voo das andorinhas, das gaivotas, das garças, dos beija-flores. E a sinfonia dos pardais? O canto do sabiá? O encantamento do rouxinol? O canário da terra, a patativa, o curió, quanta beleza! E tantos outros cantos lindos de pássaros que parecem soprar nos nossos ouvidos, convidando-nos para apreciarmos o novo dia. Se não tivéssemos esse novo dia para celebrarmos a renovação, o que seria de nós? Precisamos compreender o que disse o Mestre: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos, e tu vai e anuncia o Reino de Deus”, segundo Lucas, IX: 59-60.

Deixemos tudo que nos traga peso na caminhada e assim poderemos contemplar a beleza que nos rodeia, entregue a todos que estenderem seu coração. Façamos uma limpeza nos nossos “arquivos” desnecessários. Caminhemos, mas caminhemos sempre para frente. A sabedoria nos impulsiona para frente. Se tropeçarmos, ou mesmo cairmos, levantemo-nos e prossigamos até a nova parada.

E o calor? Que calor que nada! O afago da natureza! Ele nos quer aquecidos para que nosso coração não esfrie perante nossos irmãos.

Estamos vivendo um período também muito difícil, com esta pandemia terrível, mas se não tivéssemos esse calor emanado do nosso magnífico sol, poderíamos cumprir as recomendações para prevenir o contágio? Não, certamente ficaríamos mais aglomerados ainda, contrariamente a todas as orientações e mesmo assim estaríamos distantes, devido ao medo. Estaríamos juntos, mas negando-nos a aproximação de corações. Esse calorzão nos permite manter o coração aquecido, pela esperança do reencontro.

Com o pôr-do-sol, temos certeza da bela, tranquila e apaixonante noite. Podemos contemplar toda a beleza da lua e o brilho das estrelas, que permanecem encantando os apaixonados, inspirando os poetas, que nos trazem mensagens de amor, de paixão, de esperança, de agradecimento. Ah! e como os poetas gostam de cantar a saudade e nós momentaneamente nos entregamos a ela, sem querermos, repentinamente estamos completamente envolvidos por ela. Mas que essa saudade não prejudique o “rodar do nosso HD”, não devemos deixar que ela nos impeça de ouvirmos o seresteiro em homenagem à amada. Não podemos impedir o carinho da brisa nos nossos rostos, murmurando que Deus está a cuidar de nós.

Noites de sonhos, de esperança de dias melhores; noites de agradecimentos por mais um dia; noites de acalento, de paz. Que maravilha a ordem divina, sempre nos concede novos dias para novas conquistas, novos acertos. Noites para reflexão, busca da correção dos erros cometidos. Noites para ouvirmos a voz do coração para que nunca estejamos sós. Noites para súplicas de benção e finalmente dormirmos e, se possível, encontrarmos com nossos anjos.

Percebamos que nesse B-r-o bro, temos mais que agradecer do que pedir e muito menos do que reclamar. Viva o nosso Piauí.

Obs: O autor, Prof. Dr. Rômulo José Vieira é Acadêmico da Academia de Ciências do Piauí; Acadêmico da Academia de Medicina Veterinária do Piauí; Acadêmico correspondente da Academia de Medicina Veterinária do Ceará; Acadêmico correspondente da Academia Pernambucana de Medicina Veterinária.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


busca
autores

Autores

biblioteca

Biblioteca

Entrelaços do Coração é uma revista online e sem fins lucrativos compartilhada por diversos autores. Neste espaço, você encontra várias vertentes da literatura: atualidades, crônicas, reportagens, contos, poesias, fotografias, entre outros. Não há linha específica a ser seguida, pois acreditamos que a unidade do SER é buscada na multiplicidade de ideias, sonhos, projetos. Cada autor assume inteira responsabilidade sobre o conteúdo, não representando necessariamente a linha editorial dos demais.
Poemas Silenciosos

Flickr do (Entre)laços
[slickr-flickr type=slideshow]