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As eleições diretas fazem parte da democracia, mas quando seu resultado não leva a própria democracia ao plano da economia, da partilha da riqueza e dos direitos humanos, a inércia do dia a dia das engrenagens do capital faz dessa democracia um faz-de-conta, sendo necessário reinventá-la em seus fins.
No faz-de-conta, quando eleita, a maioria das candidaturas que se espalham em diversos partidos e coligações não altera o curso da história baseada na exploração, na acumulação de riquezas e de seu irmão siamês, o poder.
Fala-se da renovação na política, de uma nova política, argumentos que são apenas a mudança de roupa para o mesmo corpo e sua velha fisiologia.
Em 1982 o Brasil, ainda sob um regime militar que durou 21 anos, recuperou as eleições para governadores de estado. Em 1985 foi a vez das capitais e áreas de segurança nacional e em 1989 vieram as eleições para o comando da república.
Em sete campanhas presidenciais e para os demais cargos máximos dos outros entes da federação não se alteraram estruturalmente as engrenagens da sociedade do capital, seja na matéria tributária, ainda regressiva, indireta e refém da sonegação contumaz dos gigantes empresariais, seja no sistema financeiro ultra concentrado, como na comunicação e no secular latifúndio de bases primárias de produção.
O plano nacional de educação de 2001 foi abandonado em 2007 e o de 2014 se arrasta inconcluso.
Com Pedro Ferreira de Souza e Fábio Castro, Marcelo Medeiros, sociólogo e pesquisador do IPEA, explicou a face econômica disso, combinando cifras do imposto de renda e informações domiciliares do IBGE.
Para ele, a desigualdade no Brasil é disfuncional para a democracia.
Para isso antigos políticos regionais e nacionais são substituídos por filhos, netos e bisnetos, cuidando-se para que os sucessores tragam novas caras para a cena política, mas a concentração de poder e de riqueza busca se perpetuar.
Partidos tradicionalíssimos que sustentaram o regime militar trocam de denominação como as cobras mudam de pele, seguindo os mesmos rastros de antes, enquanto permanecem as engrenagens do capital a moer a sociedade segundo seus interesses, num estágio de acumulação e reprodução que, na prática, o torna incompatível com a autêntica democracia e a soberania dos estados nacionais periféricos.
Movido pela lógica da financeirização ao mesmo tempo esvazia e arrasta o velho processo produtivo. O que esperar, contudo, das classes patronais frente aos financistas hoje dominantes, nos quais muitos de seus integrantes se espelham em busca do lucro divorciado da produção?
Nesse contexto, às vésperas de mais um ritual eleitoral, a tarefa das forças que se opõem à inércia da política, à exploração e à acumulação do capital acima de tudo e de todos é realizar o debate apresentando um programa frente às brutais desigualdades estruturais locais articulado com o combate às políticas que, no plano nacional, tentam lançar o país no túnel do tempo, de volta aos séculos XVI, XVII e XVIII, fazendo da nação uma nova colônia para as grandes metrópoles e seus núcleos financeiros no primeiro terço do século XXI.
Há 20 anos o Recife é governado por um triunvirato de siglas, mas segue a capital mais desigual do país e o impacto da COVID-19 nas periferias agora é um retrato do abandono da reforma urbana.
Tais legendas se acomodaram no aparelho de estado, com a inércia e o faz-de-conta, abdicando das verdadeiras transformações.
Nada, porém, que não possa ser alterado e colocado em movimento, tarefa essencial para mudar as coisas, em vez de apenas contemplá-las.
Afinal, a prática é o critério da verdade.
Obs: O autor é professor, Mestre em Educação pela UFPE e Doutorando em Educação.
Foi Deputado Federal da Comissão de Seguridade Social e Família, autor da Emenda que destinou 50% do fundo dos royalties do pré-sal para a educação e saúde em 2013.
Criador e 1º. Coordenador da Frente Parlamentar de Combate à Corrupção (2004)
Na Câmara Federal foi autor da PEC 162, propondo o Plano Nacional de Desenvolvimento Urbano.