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Somos nós que fazemos a vida/ Como der, ou puder, ou quiser…/
E a pergunta roda/ E a cabeça agita/
Eu fico com a pureza da resposta das crianças/
É a vida, é bonita/ E é bonita…(Gonzaguinha)

A família e a escola foram constituídas, historicamente, alicerces da formação humana. Delas se espera que construam ferramentas que permitam aos indivíduos, de um lado, inserir-se socialmente e, de outro, realizarem-se como seres desejantes, física, moral e espiritualmente. Neste sentido, é imprescindível a espiritualidade, tomada como “unidade sagrada do ser humano (…), convivência dinâmica de matéria e de espírito entrelaçados e inter-retro-conectados”.(Leonardo Boff)

Nas aulas de ensino religioso, para além do conhecimento de diferentes credos e crenças, buscamos estimular opções de vida e comportamento que tragam sentido de vida às crianças e adolescentes. Ensinar sentido de vida pressupõe processos educativos que implicam na autonomia, na responsabilização das ações na medida das forças de cada um, na vivência da liberdade, na abertura do eu para com o outro.

As crianças produzem as mais puras obras da sensibilidade humana e nos orgulham com seus ingênuos e inocentes encantos. Na infância e adolescência, os sentimentos são mais efervescentes, por isto a necessidade de educar em e para os sentimentos.

Educar para os sentimentos não significa trabalhar conceitos abstratos e acabados, mas exercer perene e permanente escuta para que, ao dizer seus sentimentos, as crianças e adolescentes possam construir e re-construir seus próprios conceitos. E para que, ao interagir com os demais, possam enriquecer as suas idéias, alargando os horizontes de sua compreensão sobre si mesmo, sobre o mundo e sobre os outros. Afinal, “educar é ajudar a ser, nascendo aos poucos para a luz; é fazer passar do seio materno da natureza em dependência e ignorância para o reino da verdade e da liberdade, que é o reino do espírito. Educar é possibilitar o nascimento do ser…. Dá-se à luz não para deter, mas para que o outro possa ser; isto é, para que possa percorrer seu próprio caminho e construir o seu próprio lugar no mundo” (Moreno, Ciriaco Izquierdo, Educar em valores, Paulinas 2001).

É difícil, senão impossível, educar os outros sem educar-se primeiro. Não basta um bom método, é preciso também ter fé na vida, amor e sensibilidade para escutar. Atentos e vigilantes, abramos nossos olhos para ver, nossos ouvidos para ouvir e nossa boca para falar, serenamente. Pois quando reina na gente a insensibilidade, esta gera auto-suficiência, arrogância e rancor, qualidades que não cativam e não agregam ninguém.

Ao apreendermos e compreendermos o universo infanto-juvenil, podemos impulsionar novas e renovadas percepções de vida, de ser humano e de beleza. No filme Tesouros da Neve (produzido por Nigel Cooke, LPC Produções), a partir de um desentendimento entre três crianças: Lucyen, Annete e Denny. O perdão é abordado sob a forma de um drama humano, de difícil aprendizado, mas necessário para quem quer seguir vivendo. Demonstra, ainda, a necessidade da compreensão e apoio, para quem está arrependido e quer se reparar com os outros. A consciência humana cobra permanentemente pelos eventuais erros cometidos: “quando fazemos algo errado, recebemos o castigo sem ninguém interferir”.

Esta extraordinária história do filme nos ajuda a compreender pequenos grandes dramas juvenis que necessitam de nossa atenção e apoio, na condição de pais, mães, avós ou avôs ou educadores/as. Crianças e adolescentes vivem os seus dramas; esperam nossa compreensão e nossa luz para que possam se assumir sujeitos de suas histórias. Crianças espiritualizadas são aquelas que conseguem compreender seus dramas e os dramas do mundo, apontando soluções para superá-los.

Obs: O autor é professor, escritor e ativista em direitos humanos, desde Passo Fundo, RS

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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