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“Quem espera sempre alcança”, afirma o ditado popular. Não creio que seja assim. Na verdade, nem sempre alcançamos aquilo que esperamos. Tampouco, regularmente esperamos tudo o que alcançamos. É de supor ainda que em certas ocasiões não conseguimos esperar como deveríamos. E, se não bastasse, muitos há que já deixaram toda esperança se acabar.

Com frequência também ouvimos dizer que “a esperança é a última que morre”. A afirmação nos faz pensar na capacidade da esperança nos projetar para o futuro. Por outro lado, o adágio acena para a possibilidade do fracasso desta projeção, dado que a esperança pode “morrer”. E em morrendo, instala-se o caos. Esta parece ser a nossa situação nos tempos atuais em que os índices de ódio e violência crescem, a arrogância se aprofunda e as pandemias tomam conta.

A esperança é mais que um sentimento ou um simples componente cultural. É um constitutivo antropológico que dá estrutura, direção e sentido à vida pessoal e social, quer no nível histórico ou para além da história. Ela permite que se distribua no tempo e no espaço os desejos e ansiedades inerentes à condição humana. Quem espera, formula convicções e faz apostas. Portanto, ao pensarmos o perfil da esperança estamos, em última análise, pensando no horizonte utópico que possibilita enfrentar desafios e crises.

Nas mais diversas circunstâncias da vida, apoiamo-nos na esperança. Assim, ao fazermos uma viagem, esperamos voltar ilesos de acidentes ou assaltos. Quando vamos ao médico, esperamos que ele diagnostique nosso problema e dê o tratamento correto. Quem é cristão, entre outras, alimenta a esperança da ressurreição final. Quando elegemos um governante, depositamos nele a esperança de dias melhores. Mas, nem sempre é assim. Muitas vezes nos decepcionamos. E muito!

A esperança é algo dinâmico, assim como a própria vida. Diante de qualquer situação, ela pode se manter inalterada, aumentar ou diminuir de intensidade. Pode também virar desencanto e ceticismo. O cético é um “crente” que perdeu a confiança em si e/ou nos outros; que se desincompatibilizou com a esperança. Este fenômeno parece cada vez mais intenso em relação à política, à democracia, às instituições, à vida familiar e social… O ceticismo gera instabilidade, insegurança, confusão e angústia existencial. Anuvia horizontes, congela utopias e enfraquece as lutas.

Na ordem do dia, o fim da esperança pode ser visto e assumido de duas maneiras distintas: 1) Como vitória do ceticismo e da indiferença, paralisando e inviabilizando qualquer esperança possível. 2) Como finalidade, meta, objetivo a ser buscado, não obstante as dificuldades existentes. Que nunca nos cansemos de renovar as esperanças e de dar-lhes razões pelas quais valha a pena viver e lutar. A vitória de quem espera é esperançar a vitória. Que não esperemos apassivados por dias melhores. Certamente não viveremos somente de esperanças, quando a solidariedade for o caminho! 24.04.20

Publicado em
http://www.ihu.unisinos.br/598323-a-esperanca-na-ordem-do-dia

Obs: O autor é Doutor em Sociologia, pós-doutor em Educação e professor da Universidade Federal do Sul da Bahia

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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