Para esclarecer o bom êxito da PAMEN na formação de crianças e adolescentes e suas famílias, podemos destacar a ênfase no, “aprender-se relacionar”. A base do bom relacionamento está citado no Novo Testamento na referência aos seguidores de Jesus Cristo nas primeiras comunidades cristãs: “Vejam como eles se amam”! Na aprendizagem de amar todas as pessoas, querendo o bem delas, vamos ter uma capacidade cada vez maior de relacionar-se bem com elas.

Isso também direciona a formação do seu modo de SER que é a maneira que a pessoa se apresenta INTEGRALMENTE na convivência da sociedade. Tudo na vida da pessoa EDUCA: conduz para o BEM ou conduz para o MAL. Na PAMEN são promovidas ações para a boa formação e, no meio dessas atividades, o EDUCADOR está presente para apoiar, incentivar ou chamar atenção quando alguém precisa: Acompanhamento com cuidado, valoriza o outro.

 Uma Experiência Humana – Uma Experiência de Deus!

 “O corpo não mais seria “objeto” alheio, mas sim, preciosidade individual, merecedora de todo cuidado e valorização….passa a ser visto como instrumento artístico, capaz de atuar como fonte transformadora e geradora de vida”.        (Educadora de grupo de dança na PAMEN de 1996-2004, Ana Michelle Martins)

A DANÇA é uma experiência de vida que dá bons resultados na formação do Modo de Ser dos participantes!

O relato seguinte é incluído para mostrar como a educação, que acontece durante as atividades promovidas pela PAMEN, contribui na formação integral dos participantes da Dança.

Ana Michelle Martins. irmã mais jovem da educadora, Bernadete de Lourdes Martins, acompanhava os participantes da dança durante o período de 1996 a 2004.  A própria Ana Michelle relata sua experiência com as meninas da dança da PAMEN no seu tese de graduação universitária:

“Dança como ingresso social, de crianças e adolescentes em vulnerabilidade a partir do projeto da Pastoral do Menor no Município de Santarém/PA.

Em dezembro de 1996 recebi convite para participar da festa natalina que a PAMEN oferecia para as crianças e adolescentes atendidos na entidade.  O encantamento da apresentação resultou em um novo convite, ministrar aulas de dança para crianças e adolescentes atendidas pela PAMEN.  Convite aceito, sem precisar fazer nenhuma reflexão. Simplesmente, sim.  Até então não se imaginava que o “sim” enfrentaria, de cara, muitas discriminações, pois aos olhos da sociedade as crianças e adolescentes atendidas pela PAMEN representavam “perigo”, frente ao convívio social.

 Os rótulos discriminatórios e adjetivos foram muito presentes no início do trabalho voluntário. Eu, ainda adolescente, com apenas 15 anos, foi necessário aprender a lidar com a realidade da discriminação no olhar “sofrido” das alunas. Carência afetiva, falta de higiene corporal, baixa autoestima, foram situações percebidas com facilidade, entre as meninas que faziam as aulas de dança. Seria muito cômodo somente “copiar” exercícios sequencias e coreografias das aulas já praticadas, mas, diante do percebido, por opção, desenvolveu-se um trabalho de construção de identidade corporal, através da pesquisa do movimento, embasada no que oferecia a dança contemporânea. Assim, a partir das experimentações corporais das meninas, foi dado o primeiro passo, início da construção da nova realidade.

Não tínhamos um método pronto para desenvolver as aulas. Percebeu-se que o ponto de partida para que a dança servisse como ponte de resgate das meninas, seria mesmo partir da identidade de cada uma delas. E assim, seguiu-se pesquisando, construindo e estreitando laços.

Dentro desta perspectiva de uma dança que impulsiona a pesquisa, ao entendimento de poder ser explorada como ferramenta de educação, e, por consequência, como geradora de conhecimento para construção de um desenvolvimento integral entre corpo e mente, o trabalho corporal foi sendo construído de maneira sólida.

Na perspectiva de estabelecer diálogo entre a dança e a vida das alunas, inicialmente as “aulas” aconteciam em uma maloquinha de palha, sem nenhuma característica de uma sala de dança. Entretanto, tal condição não comprometeu que o trabalho pudesse ser desenvolvido a partir do entrelace entre dança e educação.  Com o passar dos anos, a tão sonhada sala de dança com piso de madeira, espelhos e barras, chegou para gerar mais motivação frente a pesquisa das possibilidades corporais. As aulas eram desenvolvidas em dois dias na semana e aos sábados. As alunas recebiam orientações religiosas com base na Bíblia Sagrada e em seguida participavam de atividades de esporte e lazer.  Um destaque sobre o perfil da PAMEN é de oferecer para as crianças e adolescentes atendidos na entidade, orientações de vida e para a vida, através do embasamento Bíblico.

Baseado nos princípios: “Promover para Integrar” e “Educar para Prevenir”, a PAMEN acredita que atividades sócio educativas, em um ambiente seguro, podem prevenir situações problemáticas e melhorar a conduta pessoal dos participantes. As atividades e cursos oferecidos podem contribuir para uma qualidade de vida melhor, promover talentos e valores humanos, levantar a autoestima. As famílias são esclarecidas sobre seus deveres e direitos como cidadãos (as) brasileiros (as).  A PAMEN procura orientar todos para viverem como irmãos e irmãs, filhos e filhas do mesmo Pai, DEUS.

Todas as ações socioeducativas são propostas e desenvolvidas com o intuito de proporcionar ao público atendido, uma educação integral onde habilidades e a estima sejam fortalecidas e sirvam como meio de superação, que os encaminhe ao enfrentamento de dificuldades, seja no campo emocional ou social, junto à família e ao meio que estão inseridos.

As atividades desenvolvidas com as meninas traziam a dança como mecanismo de combate à vulnerabilidade social à qual estavam expostas, bem como uma forma de resgate de suas identidades pessoais e de suas autoestimas.

A realidade vivenciada junto de crianças e adolescentes da PAMEN, permitiu a interação com diferentes realidades corporais. Corpos violados, espancados, desnutridos e sem perspectivas de vida, eram realidades comuns entre o público atendido pela PAMEN, de modo geral.

A compreensão corporal precisou inicialmente partir de maneira muito pessoal. Foi necessário um olhar de igualdade junto àquela realidade diferente das relações até então estabelecidas. Aceitar conviver com o diferente foi o ponto de partida.

 Assim, desenvolveu-se a percepção, a compreensão e a ressignificação corporal em comunhão com as alunas.

 A ressignificação e o autoconhecimento corporal foram fundamentais na superação das marcas que cada uma delas trazia. Passar, através da dança, a perceber o corpo como fonte de libertação e não mais de opressão, reafirma o potencial da arte no resgate para a reinserção social.

 O corpo não mais seria “objeto” alheio, mas sim, uma preciosidade individual, merecedora de todo cuidado e valorização. Através das aulas de dança, as marcas negativas passaram então a serem superadas a partir do entendimento da necessidade da valorização corporal. O corpo passa a ser visto como instrumento artístico, capaz de atuar como fonte transformadora e geradora de vida.

A partir da ressignificação corporal, ao longo do trabalho desenvolvido, foram percebidos resultados expressivos no comportamento das alunas.  O cuidado com a imagem e higiene ficaram evidentes, a nova rotina do uso de roupas a evidenciar o corpo, a postura ao andar e falar, também passaram por transformações através das aulas de dança.

Não há como não mensurar o amor, quando se realiza a proposta de trabalho junto as alunas.  Esta condição harmoniosa entre nós, como consequência, facilitou os muitos resultados positivos alcançados através da compreensão e ressignificação corporal. Tudo era realizado com muito prazer e dedicação.  A verdade corporal por nós encontrada, foi fonte libertadora e realizadora, durante todo o período de trabalho.

Sendo a PAMEN uma instituição coordenada por um irmão da Congregação de Santa Cruz (Irmão Ronaldo Hein) e vinculada à Diocese de Santarém, as atividades realizadas seguiam orientações de acordo com a Igreja Católica.

Segundo o Catecismo da Igreja Católica (27): “Somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar”.

Neste sentido, a PAMEN, diariamente, caminhava e construía sua história no resgate de vidas de crianças e adolescentes, embasada nos ensinamentos deixados pelo Padre Basílio Moreau, fundador da Congregação de Santa Cruz.  Padre Basílio Moreau, sabiamente, acreditava em uma educação voltada para o ser humano de forma integral (corpo, mente e espírito), uma educação de vida e para a vida, consolidada com  a espiritualidade. Partindo sempre do direcionamento da valorização do ser humano como imagem e semelhança de Deus, a oração se fazia presente como um grande potencial de resgate para as crianças e adolescentes, antes do início de qualquer atividade. Nos momentos de oração, o amor e o cuidado com o próximo eram evidenciados e trabalhados a partir da luz do evangelho, facilitando o entendimento da necessidade de atuarem como agentes de paz e de amor no seio de suas famílias e demais relações estabelecidas. Tal conduta, refletia nas ações socioeducativas desenvolvidas, dentro das aulas de dança, como também das outras atividades socioeducativas oferecidas na entidade.

Neste sentido, a valorização da imagem corporal era pertinente. Também passamos a pesquisar movimentos e a compor coreografias a partir de músicas religiosas e, através destas composições, o grupo de dança passou a receber convite das comunidades para apresentações artísticas.

Desenvolvemos então um trabalho também de evangelização através da arte de dançar. Assim os registros do Evangelho passaram a serem vivenciados e partilhados nos lugares onde o grupo fazia apresentações.

É imprescindível afirmar que a transformação da realidade das alunas aconteceu com muita força, através do diálogo entre arte e a espiritualidade.

Como nos diz o salmista, “Mudaste o meu pranto em dança, e a minha veste de lamento em veste de alegria, para que o meu coração cante louvores a ti e não se cale, Senhor, meu Deus, eu te darei graças para sempre”. (Sl 30,11-12)

A forte ligação entre a arte e a evangelização foi algo experimentado ao longo do trabalho desenvolvido junto às alunas. Através desta relação estabelecida, o evangelho passou a ser vivenciado por meio da arte de dançar, ou seja, uma arte construída através dos ensinamentos deixados pelo maior e Grande Artista de todos os tempos, Jesus Cristo.

Era preciso que todas as ações tivessem significado e que, portanto, a dança não acontecesse de maneira isolada, mas sim, em consonância com as necessidades individuais das alunas. Dialogar as propostas de educação religiosa evangelizadora de acordo com os fundamentos deixados pelo Padre Basílio Moreau. Através dos direcionamentos do Gestor, Irmão Ronaldo, a arte foi o caminho que contribuiu para um fortalecimento das crianças e adolescentes em uma perspectiva integrada, espiritual, corporal, emocional, educacional e social.

A palavra chave era “Dança”. Então, ao longo dos anos, a partir desta arte as alunas eram estimuladas, além da pesquisa de movimentos e composições coreográficas, a produzir textos, a realizar seminários e rodas de conversa, a vender iguarias para compramos figurinos, entre outras atividades.

A  atuação transcendia os movimentos. As alunas eram estimuladas a se dedicaram com afinco nos estudos. Por vezes, durante as aulas, externava-se a necessidade de que elas precisavam sonhar com a “Faculdade”, com o curso que imaginavam cursar, enfim, o estimulo de que buscar a educação era algo permanente em nossas práticas. Por isso, as leituras, as redações, as rodas de conversa, os seminários eram propostos com facilidade

Um destaque para registrar é de que, ao longo do trabalho desenvolvido, percebeu-se que através das apresentações e das coreografias junto às comunidades e igrejas, a autoestima das crianças e adolescentes melhorou significativamente.

Como pessoas atuantes na sociedade, elas passaram a se perceberem como agentes transformadoras de realidades, pois, através da arte corporal, levavam o encantamento da arte para diferentes públicos, já que as apresentações eram feitas em comunidades ribeirinhas, escolas, igrejas, etc.

Assim, a partir do momento que passaram atuar através da arte de danças, a magia da Educação Corporal passou a acontecer de maneira muito natural”.
Ana Michelle da Silva Martins.

Obs: Texto retirado do Livro do autor Pastoral do Menor, com a sua autorização.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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