1 – Domingo de Pedro
Mt 16,13-20
Simão é o primeiro dos discípulos a confessar solenemente sua fé em Jesus: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!”. Por esta razão, Jesus lhe dá um nome novo, conferindo-lhe, assim, uma nova missão: ser “a pedra” sobre a qual será edificada a sua Igreja. Sua responsabilidade será a de confortar a fé dos demais (cf. Jo 21,15-17). No correr da história, ele será chamado, de “Príncipe dos Apóstolos”. Mas, o próprio Simão Pedro, nem vai fazer tanta questão dessa sua “posição’, pois, para ele, a verdadeira “pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida, e valiosa aos olhos de Deus”, é “o Senhor”. E o mais importante, para Pedro, é que cada cristão, cada cristã, todos e todas nós, nos sintamos unidos a Jesus, como “pedras vivas” do “edifício espiritual” que é a Igreja, do qual Jesus é” a pedra angular”, (1ª. Carta de Pedro 2,4-7).
Simão Pedro terá sempre a consciência de que é “filho de Jonas”, um ser humano com todas as potencialidades, limitações e fraquezas de outro qualquer. De fato, num momento seguinte à esta cena, Simão Pedro vai discordar de Jesus, diante do anúncio antecipado da sua morte, e, pior ainda, mais adiante, quando as coisas acontecerem, irá negá-lo, por medo de ser pego juntamente com “o galileu” condenado. Que bom que, entre várias e “melhores” possibilidades, Jesus escolhe justamente a Pedro para ser o grande companheiro de todos nós. Como nós, tantas vezes gente “de pouca fé”, nos sentimos mais à vontade, por exemplo, no momento da celebração, e o nosso canto se faz mais confiante e até mais alegre!*
Nossas Igrejas, ao longo de suas histórias têm sido essa mistura de virtudes e santidade junto com fragilidades e pecado. A atual conjuntura e fatos recentes como o da menina de 10 anos com um a triste experiência de 4 anos de estupros, têm sido séria oportunidade de nós, cristãos e cristãs, mostrarmos quem somos… Há pouco, nos despedimos saudosos do Irmão Pedro Casaldáliga, que deu sua vida pela causa indígena e de todos os excluídos deste país… Mas quanto farisaísmo, quanto fundamentalismo hipócrita, quanta covardia no comportamento de tantos e tantas de nós, leigos e clérigos, diante da situação do povo em geral, e diante dessa frágil criança duplamente vitimada! São Pedro, rogue por nós!
E os poderes do reino das trevas
Jamais poderão contra ela!
De uma carta do Ir. Marcelo Barros para nós, nestes dias de quarentena:
(… …)
Nestes dias, uma menina de dez anos foi estuprada e, infelizmente, foi obrigada a proceder a um aborto clínico para salvar sua vida. Médicos especialistas em atender meninas que engravidam de 10 a 14 anos declararam que manter a gravidez acarretaria alto risco de morte. Como discípulo de Jesus e como a maioria das pessoas conscientes, sou contra o aborto. No entanto, como propõe o Papa Francisco, compreendo que um problema complexo como este, só se pode resolver com diálogo interdisciplinar e ação solidária comum. Na exortação Gaudete et Exsultate, o papa Francisco afirma: “A defesa do inocente nascituro deve ser clara, firme e apaixonada, … mas igualmente sagrada é a vida dos que já nasceram e se debatem na miséria, no abandono, na exclusão…” (GE n. 101). Na Laudato si, o papa reflete: “Realmente, é ingênuo pensar que os princípios éticos possam ser apresentados de modo puramente abstrato, desligados de todo o contexto” (LS 199). (… …) “Durante muito tempo pensámos que, com a simples insistência em questões doutrinais, bioéticas e morais, sem motivar a abertura à graça, já apoiávamos suficientemente as famílias, (…) Também nos custa deixar espaço à consciência dos fiéis, que muitas vezes respondem o melhor que podem ao Evangelho no meio dos seus limites e são capazes de realizar o seu próprio discernimento perante situações onde se rompem todos os esquemas. Somos chamados a formar as consciências, não a pretender substituí-las” (n. 37).
Não é fácil dizer à própria Igreja que “a lei foi feita para o ser humano e não o ser humano para a lei” e que “a letra mata e só o Espírito faz viver”. É preciso repetir sempre que “onde estiver o Espírito de Deus, aí há liberdade” (2 Cor 3, 6 e 17).
2 – DOMINGO DO “VAI PARA TRÁS, SATANÁS!”
Mt 16,21-27
Quem diria que alguém, que fizera tão firme e bela profissão de fé, haveria de demonstrar tanta ignorância a respeito do seu Mestre e dos planos de Deus!
A fé de Simão, mesmo inspirada pelo Pai de Jesus, ainda estava misturada com os temperos culturais do triunfalismo de sua gente, que só conseguia imaginar um Messias glorioso, descendo do céu!
Em vez disso, Jesus se apresenta muito mais como o “servo solidário” anunciado por Isaías, que irá realizar a redenção do seu povo e de todo a humanidade, colocando-se a serviço dos mais precisados e marginalizados, e morrendo como vítima dos abastados e poderosos.
E o mais sério é que, quem quiser segui-lo, tem que ir pelo mesmo caminho, “tomar a cruz” da fidelidade ao Pai, do compromisso com a justiça e com os injustiçados da terra… Tem sido essa, a nossa experiência de vida? Assim passamos a semana?… Que temos para celebrar e cantar?…
Três anos atrás, na proximidade do Dia da Pátria, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil nos convidava a fazer um dia de jejum e oração pelo nosso país. E nós nos lembrávamos daquela passagem do Evangelho, onde os discípulos perguntam a Jesus por que não foram capazes de expulsar certos demônios, e ele responde: “Essa espécie de demônio não pode sair a não ser pela oração e pelo jejum” (Mt 17,21). E não é difícil identificar os demônios que infernizam hoje a vida do povo brasileiro… Importante é atender à convocação da Pastorais Sociais, das CEBs, dos Movimentos Populares e do Movimento Sindical: 26º. GRITO DOS EXCLUÍDOS e EXCLUÍDAS! Dia 7/9, 9h. Parque 13 de Maio, caminhada até o Pátio do Carmo: VIDA EM PRIMEIRO LUGAR! <<BASTA DE MISÉRIA, PRECONCEITO E REPRESSÃO! QUEREMOS TRABALHO, TERRA, TETO E PARTICIPAÇÃO!>>. E esse será nosso jejum e nossa oração! E nosso jeito de tomar a Cruz e seguir a JESUS!
27 de agosto,
DIA DA PROFECIA!
Feliz e significativa coincidência: no mesmo dia 27 de agosto, fizeram sua “Páscoa” e foram para Deus os profetas Dom Helder Camara (1999), Dom Luciano Mendes de Almeida (2006) e Dom José Maria Pìres (2017). É só uma coincidência?… Ou sinal de Deus?…
Três santos Bispos, três grandes Profetas, roguem nós, roguem
– pelo nosso país esfacelado por tão graves crises… precisando reencontrar-se com seu destino de grande nação… precisando retomar os caminhos da igualdade, da justiça social, da PAZ;
– por nossa Igreja, em grande parte, ausente e distante dos sofrimentos do povo… precisando retomar os caminhos de Medellín e Puebla, a opção evangélica pelos oprimidos/as e excluídos/as… precisando fortalecer os Movimentos de Evangelização Libertadora, as Comunidades Eclesiais de Base, as Pastorais Sociais! AMÉM!
Obs: REGINALDO VELOSO, presbítero leigo das CEBs (essa é minha condição eclesiástica atual, o que me deixa particularmente feliz)
– Membro do MTC (Equipe Maria Lorena – Recife) (terminou meu “mandato” como “Assistente Regional”)
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