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XIII
Recife, Rua Afonso Celso, 182- AP.902 – Tamarineira, 21 de abril de 2020.
Aqueles, naquela hora da noite, que olham a vista pelas janelas de seus apartamentos se depararam com uma cena inédita! Uma mulher correndo na rua com as mãos para cima, só Deus sabe o destino daquela desarvorada! Muitos ficaram com pena. Outros com inveja…Outros até compreenderam a razão dessa corrida desembestada perante o nada.
Apenas a corredora sabe quantos metros tem que correr. Só que fazia dias que não arriscava a sua corrida diária. Presa num apartamento minúsculo não tinha como exercitar sua corrida. Até que a liberdade proporcionada pela corrida falou mais alto em suas veias e ela na felicidade corria naquele horário noturno que escolheu por quase não ter gente e que continuará a fazer. Apenas hoje, levanta seus braços aos céus, na alegria da liberdade de correr na rua solitariamente junto ao vento e a Deus.
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XIV
Recife, Rua Afonso Celso, 182- AP.902 – Tamarineira, 23 de abril de 2020.
Adolescendo na pandemia
Lá vem ela me chamando pela milésima vez falando da hora… Sem contar as vezes que entrou no quarto fazendo barulho. Já desligou o ar faz é tempo e agora, levanta a cortina e abre a janela. Me cubro até a cabeça mesmo com calor. Agora me avisa do horário da minha aula virtual. E eu que pensava que seria um top de isolamento aqui dentro do meu quarto, fazendo minha hora e conversando com meus brothers, tá ligado?
Nossa que hoje, ela tá pistola. Levanto puto da vida. Me arrasto para o banheiro levando meu cel para saber das paradas. Posto para a mina: “ e ai bebê vem de zap? “ agora recomeça a ladainha do bater na porta e dizer o que já sei até de cor. É ela falando de lá e eu repetindo daqui baixinho imitando na frente do espelho: “ olha a hora””. “Não esqueça de fazer cama”, não deixe toalha molhada em cima dela, “não demora no banho”…. e “não deboche de minhas palavras!!!!” PÔ, o que mudou de meu inferno diário ? Saco!
Obs: A autora é poeta performática, membra da União Brasileira de Escritores (UBE), da Associação dos Amigos do Museu da Cidade do Recife (AMUC), parceira da Cultura Nordestina Letras e Artes. É integrante dos grupos “Confraria das Artes” e “Grupo de Estudos em Escrita Criativa”. Seus três primeiros livros publicados são coletâneas de poemas, Pura Impressão (2008), Um Coração que Canta (2011), Querido Diário Peregrino (2014). Seu quarto livro trata do gênero infanto-juvenil e é bilíngue: A menina e a árvore – The girl and the tree (2017). Seu quinto livro- Sessenta e um Poemas Para Uma Vida – foi lançado em 2019. Tem participação em várias apresentações poéticas e performáticas. Contatos: www.bernadetebruto.com e [email protected]
Imagem da autora.