10 – A Graça de Deus Faz a Diferença!
“O Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”. (Lc 19. 10)
Fizemos um trabalho, por algum tempo, com as gangues que estavam se organizando em bairros periféricos da cidade. A Sra. Inez Pinho de Carvalho, junto comigo, realizamos vários encontros em casas de famílias que tinham contato com os meninos e as meninas envolvidos nesta realidade. Os encontros consistiam em oração, “slides” (não tinha data show naquela época), diálogo e dicas para um “projeto de vida”. Em vez de deixar o tempo passar, deveriam pensar e planejar o seu presente e futuro. Mesmo estando numa situação de risco, deveriam aproveitar as oportunidades oferecidas. Mesmo sendo poucas, é melhor proceder de uma forma construtiva do que destrutiva.
Sempre enfatizamos a importância de estar na escola, levando a mesma a sério para poder ter a capacidade de fazer cálculos de cabeça, de aprender ler e escrever, fazer redação e aproveitar o ambiente para aprender se relacionar com outras pessoas, com boas maneiras e sem agredir com palavrões ou praticar qualquer tipo de agressão ou violência..
Uma das orientações era para tirarem da cabeça querer ser valorizado como alguém valente, que provocava medo nos outros, satisfeito em ver as pessoas se assustarem na sua presença ou ao ouvirem o seu nome. Não é desta forma que Deus nos criou para serem valorizados.
O que fazer para que mudem estas atitudes negativas e que assumam atitudes mais positivas e mais humanas? O processo de orientação adotado ajudou para que alguns mudassem de vida. Em alguns casos, como os líderes de gangues não queriam perder a sua posição de “Chefe”, acabaram sendo mortos pela polícia ou pelos rivais, ou por pessoas que estavam sofrendo por causa do tumulto que as gangues provocavam. Dois chefes de gangues que foram mortos bem jovens, a Rosinha e o Ratinho, participavam destes grupos que se reuniam conosco. O Galigal foi outro “chefe” de gangue e conhecido nosso que desapareceu.
Padre Valdir Silveira, um padre diocesano do sul do Brasil, que veio prestar serviço em Santarém, fez um bom trabalho na tentativa de conciliar as gangues. Eles, periodicamente, brigavam e causavam ferimentos sérios ou mortes. Com muita paciência, durante mais ou menos dois anos, ele, com um grupo de ajudantes, conseguiu reconciliações impressionantes entre algumas gangues, com um impacto positivo na cidade de Santarém. Depois ele foi chamado de volta para a sua diocese de origem e não mais retornou. A atuação das gangues na cidade continuou, mas em número reduzido, devido ao trabalho dedicado do Padre Valdir Silveira e a sua equipe.
Podia-se ver como o trabalho da PAMEN incluía o envolvimento no dia-a-dia da vida dos meninos e das meninas. Acompanhávamos não só quando estavam presentes no Centro (CAPT) da PAMEN ou nos Núcleos ou na rua mas, também, na família, na escola, na delegacia e no Fórum.
Algumas pessoas perguntavam por que não arranjávamos um local para receber estas crianças e adolescentes, para facilitar um acompanhamento de 24 horas. Queríamos cultivar com eles o sentido de pertencer a uma família, fortalecendo os vínculos familiares, para que as famílias assumissem a responsabilidade de acompanhá-los. Também, naquela época, o Brasil tinha fechado quase todas as casas de recolhimento de menores em todo o país, por causa dos abusos que estavam acontecendo contra os internos dentro destas instituições
A política da PAMEN da época era “acompanhar” e não prender os meninos e as meninas num lugar fechado. Além de colocá-los numa situação sem referência familiar e de possível abuso, este tipo de estrutura também exigiria muito em recursos humanos e financeiros. Quem teria as condições de bancar estas despesas?
O maior problema com o trabalho de acompanhamento de menores, internados ou não, era encontrar educadores bem formados, que assumiam sua responsabilidade com maturidade, empenho e respeito. Por isso, sempre tínhamos cuidado na escolha dos educadores que queriam trabalhar na PAMEN. Mesmo com este cuidado, tivemos que demitir algumas pessoas quando descobríamos que não tinham a maturidade necessária para servir como educador de vida integral para os meninos e as meninas.
Utilizávamos citações bíblicas, e outras leituras referentes aos princípios que queríamos que o educador desenvolvesse para conduzir os menores por caminhos bons; que os levassem para um “sucesso” pessoal, em primeiro lugar, como pessoa humana integrada, membro positivo da família e da sociedade.
A Páscoa é a comemoração maior da Igreja de Jesus Cristo, Católica e Cristã. Jesus Ressuscitado continua com as chagas no corpo, confirmando que é Ele mesmo, Deus e Homem, com a sua natureza Divina e Humana. São Tomé toca nas feridas de Jesus Ressuscitado e confirma a sua fé Nele, com as palavras: “Meu Senhor e meu Deus”!
Nós também podemos confirmar a nossa fé tocando nas feridas dos outros (que é Jesus Cristo em pessoa) que vem ao nosso encontro no dia-a-dia, atendendo cada um com atenção, com o toque do abraço, da bênção, duma merenda, sempre com a ternura e misericórdia do nosso Mestre, Jesus, que penetra no SER do outro, antes ferido, agora curado, porque encontrou com o Mestre através de nós. Foi servido, valorizado, amado…….curado!
Obs: Texto retirado do Livro do autor Pastoral do Menor, com a sua autorização.