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Quase um bilhão de seres humanos não possui uma alimentação saudável.
A maioria que passa fome é constituida por mulheres e crianças. As mortes por fome, segundo dados da ONU, suplantam as mortes por sida, malária e tuberculose.
Se todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, os seres humanos, antes de mais nada, precisam de comida para viver e sobreviver.

A fome é a mais violenta negação dos direitos humanos.
Grande Josué de Castro, que merece estátuas modeladas em ouro, em bronze, ou simplesmente em pão, em todos os Horizontes e em todos os Continentes, inclusive na sede da ONU!
Josué de Castro denunciou a fome como “problema social”.
Graciliano Ramos, nos seus romances, mostrou que  a fome não brota do céu.  A fome tem causas na terra, nas injustiças imperantes.
Josué e Graciliano sofreram exílio e prisão.

Parecem-nos chocantes as sociedades que estabeleciam ou estabelecem expressamente a existência de “párias”, na escala social; mas temos, na estrutura da sociedade brasileira, “párias” que não são legalmente ou expressamente declarados como tais, mas que “párias” são em verdade.

São “párias” e têm seus descendentes condenados à condição de “párias”.
São “párias” porque estão à margem de qualquer direito,
à margem do alimento que a terra produz,
à margem da habitação que a mão do homem pode construir,
à margem do trabalho e do emprego,
à margem da participação política,
à margem da cultura e da fraternidade,
à margem do passado, do presente, do futuro,
à margem da História,
à margem da esperança.

Só não estão à margem de Deus porque em Deus confiam.
No Brasil, a grande figura profética, na luta contra a fome, foi o sociólogo Herbert de Souza, ou simplesmente o Betinho, como ficou carinhosamente conhecido.

A fome tem pressa, disse Betinho, com extrema racionalidade.
Condenado a morrer, Betinho lutou, até o último momento, pela vida.
Mas não tanto pela sua vida.
Lutou muito mais pela vida do povo brasileiro, dos marginalizados e oprimidos, dos que são massacrados pela injustiça brutal que é a fome.
Morto Betinho, a luta continuou e prossegue, sob a inspiração desse ser humano incomum que, com muita razão, Frei Leonardo Boff proclamou como “santo”.

Que se multiplique por este país, de todas as formas possíveis, o eco ao apelo que Betinho fez, em nome dos que não têm calorias nem para protestar.

A vida concedeu-me a felicidade de ter três encontros com Betinho: no Rio, na sede do IBASE, para atender uma convocação sua no sentido de escrever um livro sobre a Constituinte.
Mais uma vez no Rio, na Universidade Santa Úrsula, para participar de um debate com ele.
Finalmente, em Belo Horizonte, para comparecer ao lançamento de um livro seu.

Obs: O autor é magistrado aposentado (ES), escritor, professor, palestrante. 
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2197242784380520
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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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