8 – Construir o seu modo de SER, dia após dia, e SEJA uma boa presença onde anda, agora e no  futuro.

”O que o homem tiver semeado, é isso que vai colher.  Quem semeia na sua própria carne, da carne colherá corrupção. Quem semeia no espírito, do espírito colherá a vida eterna”. (Gl 6,7-8)

Para desenvolver as suas atividades no período de 1990 a 1992, a PAMEN já contava com um terreno próprio e uma casa. Isso facilitava o atendimento dos meninos e, logo depois, as meninas, que vinham todos os dias da semana, de segunda a sábado.

Este Centro já tinha um nome escolhido pelos meninos em 1987: “Centro de Apoio ao Pequeno Trabalhador (CAPT)”. Nesta época já se tinha chegado a um atendimento de 400 meninos e meninas. Trabalhavam na PAMEN Centro dez funcionários, todos remunerados, nove educadores e um vigia. Eu, como Coordenador da Catequese Escolar Diocesano, já era pago pela prefeitura. A própria Prefeitura oferecia esta ajuda para poder garantir a presença do trabalho do OPV (Orientação Para a Vida) nas escolas do Ensino Médio do Estado, que vinha sendo desenvolvido pela equipe da Pastoral Escolar.

A MISEREOR (Entidade da Alemanha que ajudava em projetos desenvolvidos com menores) arcava com o pagamento dos primeiros educadores da PAMEN Centro. Essa entidade também forneceu uma KOMBI nova, ano 1988. Este meio de transporte nos serviu até o ano 1998, quando ganhamos uma Kombi nova do Rotary Clube de Santarém, em parceria com o Rotary dos Estados Unidos, através de ajuda direta de um amigo meu e ex-Irmão da CSC, Julius Wadekamper. O mesmo era presidente do Rotary de Fairbault, Minnesota, naquela época.

Um outro grupo de apoio foi o Conselho Administrativo da PAMEN, composto de membros de ex alunos meus do Colégio Dom Amando. Este grupo, até hoje, continua ajudando no acompanhamento das finanças, na transparência, com sugestões para uma melhor administração e nas relações internas entre os membros da equipe. O grupo verifica, também, a continuidade do  desenvolvimento da Mística da PAMEN que é a Educação Integral na Fé dos participantes e das suas famílias. Esta educação tem como alvo principal o desenvolvimento do jeito de SER da pessoa humana. O TER, FAZER, SABER, são meios para alcançar este SER; uma pessoa humana plenamente viva. É importante viver em harmonia com esta conexão entre Corpo, Mente, Coração e Espírito. O desenvolvimento da nossa humanidade depende desta clareza de equilíbrio durante a nossa jornada aqui na terra.

Um dos grandes problemas hoje é que a sociedade coloca como principal alvo para o jovem, o TER muito dinheiro e riqueza, ou o FAZER como empresário, bancário, médico, etc.. Ou o SABER, como um grande intelectual, universitário, alguém “importante”, de “sucesso”, sem querer reconhecer que o que deve dar o sentido da vida é o MODO de SER, saber conviver e se relacionar com as pessoas, consigo mesmo, com o meio ambiente e com Deus.

Desde os primeiros passos da PAMEN sempre tivemos uma preocupação com a saúde dos meninos e meninas e das condições de vida das suas famílias. Bernadete de Lourdes Martins, a Berna, é a pessoa que acompanha este trabalho desde o início em 1987, até hoje.  Ela é conhecida na cidade pelo contato que tem com médicos, dentistas, enfermeiros, cartórios, hospitais, clínicas, Conselhos Tutelares, Juízes, farmácias, etc.  Ela consegue abatimentos em consultas, remédios, tratamentos de saúde e exames, como Raio-X, ultrassonografia, etc. Sua perseverança tem ajudado muitas pessoas no atendimento para a recuperação da saúde, até de salvar vidas. Chegou ao ponto de ajudar pessoas para não precisar amputar algum membro do corpo.

Por causa deste reconhecimento da PAMEN, de não deixar ninguém desamparado, muitas pessoas batem à nossa porta com a esperança de serem atendidas nas suas necessidades. Durante o atendimento, a história da pessoa é escutada e analisada para poder determinar, na medida do possível, como seria seu encaminhamento. Sempre lhes é oferecido um lanche, cafezinho ou almoço, pois a maioria  chegam com fome.

Às vezes essas pessoas moram longe e vem caminhando para a PAMEN. Outros vem de ônibus ou de bicicleta. Depois do atendimento, da merenda e descanso, é avaliado como retornar para casa. Às vezes, a  passagem de ônibus é adquirida com o dinheiro arrecadado através de uma coleta entre a equipe ou alguma sobra das doações recebidas pela  PAMEN.

É gratificante fazer parte de um trabalho onde as pessoas pobres e desamparadas nos procuram, na esperança de receberem um atendimento de atenção e de compaixão, até serem bem cuidados. De fato, uma parte da cura acontece através do atendimento fraterno, pois são tratados como se fossem parte da nossa família, da família PAMEN. A ternura e a compaixão são bons remédios para qualquer pessoa, especialmente a desamparada e excluída da sociedade.  A Assistente Social, em alguns caso, tem que ser firme com algumas mães que se deixam levar pelas promessas dos parceiros e acabam prejudicando as suas famílias.

O trabalho da Berna também consiste em encaminhar meninos e meninas ao programa do Menor Aprendiz. Ao longo destes mais ou menos quinze anos que este programa funciona em Santarém, ela conseguiu colocar mais de 200 meninos e meninas no mercado do trabalho. Após um ano de estágio na empresa, loja ou banco, vários menores conseguiram ficar como empregados permanentes, com carteira assinada. Alguns deles subiram como funcionários dentro da empresa, chegando ate a serem chefes de setor. É sempre bom lembrar que estas pessoas foram orientadas para trabalharem o seu Modo de SER, e a sua maneira de relacionar consigo e com os demais.  Esta orientação é fundamental para que o menor sabe se apresentar no meio social com a autoconfiança.

 Estes exemplos demonstram que  meninos e meninas que vem de um ambiente de pobreza são também inteligentes, tem talentos, e sabem relacionar-se com as pessoas. Eles precisam somente de uma oportunidade para demonstrarem seus potenciais. Ficam agradecidos às pessoas que proporcionam estas oportunidades para eles, e a Deus, por eles terem conseguidos desenvolverem seus dons que estavam escondidos, mas depois foram revelados.

O êxito do programa Menor Aprendiz não aparece na televisão nem  no Jornal Nacional, mas, nos olhos de Deus e da PAMEN é tão importante quanto as notícias consideradas interessantes pela sociedade.

De dois em dois meses a Berna, com a ajuda de alguém da equipe, reúne com os jovens aprendizes, junto com seus pais ou responsáveis, para conversarem sobre o ambiente no lugar do trabalho e a atuação dos jovens no emprego e como estão utilizando o seu salário.

Desde o início deste trabalho, notamos a tendência de alguns menores aprendizes querendo excluir o seu responsável no uso do salário que recebem. Sempre dávamos orientações a esse respeito. O menor pertence a uma família que cuida da sua saúde, o que vestir, alimentação, abrigo, etc. Portanto, quando recebe seu salário, em primeiro lugar o menor deve olhar as necessidades da sua família e não pensar somente em si e querer determinar sozinho como gastá-lo.

 Sempre os orientamos que uma parte deve ser entregue para a mãe, para ajudar nas despesas da família. Uma parte do restante deve ser dividido entre os seus irmãos e irmãs maiores por estarem cuidando da casa, lavando louça, lavando a roupa, etc. Uma parte deve guardar na poupança, para o seu futuro, uma parte para a Igreja ou a caridade e, finalmente, uma parte deve ser destinado para os seus gastos pessoais.

Na primeira reunião com os responsáveis dos menores aprendizes, verificamos como estava caminhando o processo de receber o salário e repartir com a família. Foi bom saber que a maioria estava seguindo as nossas orientações, com um bom resultado, sendo sensíveis ao seu dever de agradecer a família e ajudar nas suas necessidades.

Infelizmente, alguns menores aprendizes pensavam mais em si do que nas necessidades da família. A primeira coisa que alguns compravam era um celular. Seus pais não tiveram pulso para orientá-los com firmeza.  Estes menores foram dominados pelo individualismo, um mal que vem ameaçando a sociedade.

 Nos primeiros anos deste programa, um dos meninos aprendizes entregava todo o salário para a mãe, para que ela pudesse construir uma cozinha; ele queria que ela tivesse melhores condições de preparar as refeições da família. Este menino que, naquela época, já demonstrava ter boas qualidades, amadureceu e hoje está bem de vida, casado e bem empregado. É um exemplo de quem teve boa orientação na família e aceitava nossas orientações, qualidades que o levou a conquistar uma vida digna na sociedade.

Obs: Texto retirado do Livro do autor Pastoral do Menor, com a sua autorização.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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