1 – Domingo do TESTEMUNHO e da PERSEGUIÇÃO
Jeremias 20,10-13 / Mateus 10,26-33
Seria impossível ser um fiel discípulo de Jesus e continuador de sua missão sem correr o risco da perseguição.
Antes, a perseguição é inevitável. É sinal de fidelidade e marca registrada de autenticidade.
O Senhor que nos convoca e nos envia, cada semana, há muito tempo que nos tem colocado em estado de alerta para o que, inevitavelmente, mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou de outra, acontecerá.
Nosso encontro semanal com o Ressuscitado é que nos ajudará a manter o coração confiante no Pai, que saberá cuidar de nós, tão bem como cuidou de seu Filho.
Nosso canto, então, alimentará esta fé, esta confiança, esta coragem, frente ao que der e vier.
E a proclamação do cap. 10 do Evange-lho segundo Mateus vai ocorrendo justamente nestas semanas, que já são meses, de pandemia, de distanciamento social, de trapalhadas e escândalos na conjuntura política, de abandono do povo por quem mais devia cuidar do povo. Um tempo de trevas que desafia a nossa Esperança e o nosso Compromis-so de cristãos e cristãs.
Quão importante seria poder celebrar presencialmente, em Comunidade, o Sacramento, por excelência, do Reino de Deus: a Ceia do Amor, a fortalecer nossa Solidariedade, criativa e militante! Imaginemos que um dia, em circunstâncias como estas, superado todo o clericalismo que nos emperra e atrofia, as famílias cristãs se sentirão em plenas condições de viver este momento ímpar da vida de fé: Comer a Ceia que o Senhor nos entregou em sua memória. Assim como as famílias do povo de Israel celebravam a Páscoa.
Aproveitemos esse tempo da melhor maneira para nos informarmos melhor sobre a realidade… entendermos com mais clareza o que está em jogo neste momento da Humanidade e do nosso país. É aí que Jesus está à nossa espera.
É aí que precisamos dar conta de nossa missão: viver e testemunhar a Esperança
que não ilude, nem engana…
2 – 29 de junho: Festa de São Pedro do Povo de Deus
Por que apenas São Pedro?…
Porque, de fato, é de quem o povo se lembra, todo ano, por sinal, no dia mesmo que a tradição reconhece como o dia do seu martírio, 29 de junho, “dia de São Pedro!”. Por razões práticas, pelo fato de o dia 29 de junho não ser mais feriado, quando esta data não cai no domingo, no Brasil, a celebração litúrgica acontece no domingo mais próximo do dia 29 de junho, seja antes seja depois.
São Paulo, em que pese sua importância para a vida das Comunidades cristãs e para toda a Igreja, entre nós, não caiu no gosto popular. E como já tem uma grande cidade, a maior do país, com seu nome, comemorando seu aniversário justamente no dia em que a Igreja comemora, liturgicamente, a “conversão de São Paulo”, parece pastoralmente mais conveniente, celebrar este grande Apóstolo, por sinal o Apóstolo das Nações, nesta data. Semelhantemente ao que ocorre, no Brasil, com o dia 29 de junho, quando o dia 25 de janeiro não cair no domingo, poderia celebrar-se a sua festa no domingo mais próximo. E haveria o “Domingo de São Pedro” e o “Domingo de São Paulo”.
Mas vale a pergunta: por que apenas São Pedro caiu no gosto do povo?…
É possível que o fato de ser de Paulo gente da elite, tanto religiosa, quanto civil (haja visto que possuía cidadania romana), seu jeito “fariseu”, de grande rigor moral, e seu nível intelectual, o tenham tornado menos simpático ao povão.
Pedro, ao invés, ora “faroleiro”, como todo pescador, ora fraco, como todo pecador, parece mais próximo da experiência existencial e cotidiana do povo, cativando assim, mais naturalmente, sua simpatia.
É interessante perceber como Jesus, em sua divina grandeza e coerência, tanto sabe premiar este pobre pescador com a distinção de considerá-lo o “primeiro servidor” entre os Apóstolos, pela espontaneidade e entusiasmo da sua fé: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo!” (Evangelho de Mateus 16,16), quanto sabe misericordiosamente perdoá-lo nos seus momentos de fraqueza, sem por isso, diminuir a sua consideração ou retirar-lhe a incumbência. Vale a pena recordar a cena da “negação”, tal como retratada no Evangelho de Lucas:
<<Eles prenderam e levaram Jesus à casa do sumo sacerdote. Pedro seguia Jesus de longe. Acendram uma fogueira no meio do pátio, e sentaram-se ao redor. Ora, uma criada viu Pedro sentado perto do fogo. Encarou-o bem, e disse: “Este aqui também estava com Jesus!” Mas Pedro negou:” Mulher, eu nem o conheço.” Pouco depois, outro viu Pedro e disse: “Você também é um deles.” Mas Pedro respondeu: “Homem, não sou, não.” Passou mais ou menos uma hora, e outro insistia: “De fato este aqui também estava com Jesus, porque é galileu.” Mas Pedro respondeu: “Homem, não sei do que você está falando.” Nesse momento, enquanto Pedro ainda falava, um galo cantou. Então o Senhor se voltou, e olhou para Pedro. E Pedro se lembrou do que o Senhor lhe havia dito: “Hoje, antes que o galo cante, você me negará três vezes.” Então Pedro saiu para fora e chorou amargamente.>> (Evangelho de Lucas 22,34-61).
A este mesmo Pedro, após a sua ressurreição, Jesus perguntará, coincidentemente, por três vezes: “Simão, filho de João, você me ama?”… E esse diálogo, exigente e insistente, assim foi descrito por João, no quarto Evangelho:
<<Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de João, você me ama mais do que estes outros?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo” Jesus disse: “Cuide dos meus cordeiros.” Jesus perguntou de novo a Pedro: “Simão, filho de João, você me ama?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo” Jesus disse: “Tome conta das minhas ovelhas.” Pela terceira vez Jesus perguntou a Pedro: “Simão, filho de João, você me ama?” Então Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou três vezes se ele o amava. Disse a Jesus: “Senhor, tu conheces tudo, e sabes que eu te amo.” Jesus disse: “Cuide das minhas ovelhas.”>> (Evangelho de João 21,15-17).
E o discípulo, que por três vezes negara seu Mestre, precisou professar por três vezes seu amor ao mesmo, para receber dele, por três vezes, igualmente, a missão de cuidar do rebanho, até o ponto de dar a vida pelo mesmo, como fizera seu Mestre (cf Evangelho de João 21,18-19).
Mas o mais interessante vai ser encontrar o próprio Pedro, mais tarde, em pleno exercício do seu ministério, escrevendo para pessoas recém-batizadas (pasmem!) essas solenes e grandiosas palavras:
<<Aproximem-se do Senhor, a pedra rejeitada pelos homens, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus. Do mesmo modo, vocês também, como pedras vivas, vão entrando na construção do templo espiritual, e formando um sacerdócio santo, destinado a oferecer sacrifícios espirituais que Deus aceita por meio de Jesus Cristo. (… …) Vocês, porém, são raça eleita, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido por Deus, para proclamar as obras maravilhosas daquele que chamou vocês das trevas para a sua luz maravilhosa. Vocês que antes não eram povo, agora são povo de Deus (…).>> (1ª. Carta de Pedro 2,4-10).
Que maravilha, escutar este pescador de peixes feito “pescador de gente” (cf Evangelho de Mateus 4,19), considerado por Jesus como “pedra” de base da sua Igreja (cf o Evangelho de hoje: Mateus 16,18), humildemente reconhecer, primeiro que a “pedra fundamental” mesma da Igreja é Jesus. Em seguida, olhar para todos e todas nós com essa compreensão grandiosa: vocês todos e todas são pessoas chamadas a fazer parte da construção do “Templo” verdadeiro de Deus… Vocês são as “pedras vivas” deste Templo!… Mais: vocês são chamadas e chamados a exercer um “sacerdócio santo”, a “oferecer sacrifícios espirituais que Deus aceita por meio de Jesus Cristo”… E como “raça eleita, sacerdócio régio, nação santa”, como “Povo de Deus”, vocês são as pessoas destinadas a “proclamar as obras maravilhosas” de Deus, ou seja, vocês todos e todas são as testemunhas do Evangelho.
Pelo visto, a Igreja confiada por Jesus aos cuidados de Pedro nada tem a ver com uma Igreja clerical, onde cordeiros e ovelhas ficam o tempo todo dependendo da iniciativa e das ordens dos pastores… Pelo visto, a Igreja confiada a Pedro por Jesus é coisa de todos e todas nós: quando nos encontramos reunidos e reunidas em nome de Jesus, “ele está no meio de nós” (cf Evangelho de Mateus 18,20), somos com ele e nele o Templo vivo de Deus… Todos e todas somos sacerdotes e sacerdotisas, a ofertar o que realmente agrada a Deus, nossas vidas, em Jesus, com Jesus e por Jesus a Deus (cf Carta de Paulo aos Romanos 12,1-2), Eis o que celebramos no “ofertório”, cada vez que fazemos a Ceia do Senhor… Todos e todas, testemunhas assumidas da Palavra que liberta e salva a humanidade…
Eis a Igreja, NÓS! Que, já no Sermão da Montanha, somos gente destinada a ser “sal”, que fertiliza, dá sabor e conserva… “luz”, que resplende pelas “obras”, as quais levam as pessoas a “louvar o Pai”… “fermento”, que transforma toda a massa (cf Mt 5,14-16; 13,33).
Imaginem quando, pelo menos, boa parte das pessoas batizadas se conscientizarem disso e o assumirem!
Imaginem o que seria o Brasil, “o maior país católico do mundo”, se todas as pessoas que, desde o início da colonização, 520 anos atrás, tivessem sido evangelizadas de modo a desenvolverem e exercerem essa consciência, essa postura, esse desempenho profético, sacerdotal e régio-pastoral!
São Pedro, pescador e pastor, servidor de um povo com esse perfil, rogue por nós!
Reginaldo Velos
Presbítero leigo das CEBs
Quanta falta faz a presença de cristãos e cristãs que exerçam sua missão profética nesse nosso país, nessa conjuntura tão desafiante, que lembra aquela “multidão” da qual Jesus teve compaixão “porque eram como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9,36)!… Que escândalo as tais TVs e Rádios “de inspiração católica”, dia e noite enganando o povo com uma visão alienada da realidade e uma espiritualidade descomprometida com a Vida do povo, carente de tudo, morrendo à míngua, vítima da pandemia, mas muito mais, desse “pandemônio” genocida que ocupa a presidência da República! Perguntem-se o que faria, hoje, o Profeta São João Batista, um dos grandes festejados do mês de junho, diante desse “Herodes” de hoje…
Gente, “em nome de Jesus”, vamos acordar uns aos outros, umas às outras, para clamarmos pelos direitos do povo, denunciarmos o desgoverno que já tem durado tempo de mais, e contribuirmos para a reconstrução da VIDA, nesse país doente, desigual, injusto, violento, que tem tudo para ser a TERRA PROMETIDA, onde corra o leite da justiça e o mel da PAZ, a Terra do BEM VIVER! Comecemos em nossas casas a abrir os olhos uns dos outros, umas das outras… E fiquemos de olho, desde já, nas próximas eleições municipais, vamos tomar juízo de uma vez por todas! Santo Antônio, São João e São Pedro, Santos do Povo de Deus, roguem por nós!
Obs: REGINALDO VELOSO, presbítero leigo das CEBs (essa é minha condição eclesiástica atual, o que me deixa particularmente feliz)
– Membro do MTC (Equipe Maria Lorena – Recife) (terminou meu “mandato” como “Assistente Regional”)