Rômulo Vieira 1 de julho de 2020

Papai que bom que nos ensinastes a ser fortes, se não hoje no aniversário de sua mudança para a vida eterna estaríamos sofrendo muito, mas graças a seus ensinamentos estamos apenas resignados pela saudade. E olhe que aprendemos que homem que é homem chora.

Interessante como tivemos algumas discussões. Mesmo em teu silêncio debatíamos muito, porque nos desse mais que palavras, nos desses exemplos e esses exemplos nos conduzia a mudanças.

Sua paixão pelos livros fez com que chegássemos onde hoje nos encontramos. Lembro com muita intensidade quando nos contavas: “meus problemas começaram quando aprendi a ler, o mundo me ficou pequeno, mas os livros me levaram sempre aonde eu quis ir”.

Essa sua sede pela aprendizagem que chegava a nos dizer com seu jeito próprio: “é aprendendo que se aprende”, é que nos fez também ver que pelos livros poderíamos, nos modificar e assim compreender e viver melhor nesse mundo.

Eu, já na adolescência, relembro com alegria que me dissestes que aprendi a ler na revista do Bolinha e destaco que ela nunca me faltou para ler. Me estimulastes sempre a leitura e aprendi muito por sua influência.

E sempre foi assim papai, nunca nos deixastes faltar nada, principalmente se fosse para que pudéssemos estudar mais e mais. Poderias deixar de comprar os seus cigarros, mas faltar livros, revistas para leitura e aprendizado nunca.

Fostes um grande exemplo para todos nós, especialmente por teres sido um autodidata. Como era rico seus debates com Marcos, nosso irmão, nas questões da nossa língua portuguesa e Marcos, às vezes, terminava dizendo: “papai eu não concordo com esse seu ponto de vista, mas respeito, principalmente porque o senhor é meu pai”. Era assim, o respeito que lhe tínhamos era enorme, porque nos davas sempre o exemplo.

Eu já na faculdade quantas vezes tive debates super agradáveis consigo em questões de fisiologia, farmacologia e até de patologias e eu ficava “encucado”. Como se eu preciso estudar tanto essas matérias e papai parece que já sabe de tudo? Eram os livros, sua paixão. Eu, à época, estudava quase por obrigação, por isso a dificuldade. Hoje eu fico mais orgulhoso ainda do senhor. Como o senhor era sábio e como me ensinou a  estimar os livros, vê-los sempre como grandes amigos.

Quisera eu que todos os meus genes, de sua herança, fossem ativados, ou pelo menos parte deles. Quisera eu ainda vir a aprender  escrever aquelas maravilhas que sempre escrevestes. Quisera eu entender, com propriedade, conhecimentos diversos como o senhor tinha. Quisera eu ser o artista que o senhor foi. Ah! se um pouco de seus dons me fossem permitidos. Trabalhavas com mecânica, eletricidade, marcenaria, desenhavas, etc. Eras praticamente  um verdadeiro “papai sabe tudo”. Quanto orgulho me destes meu velho pai.

Lamento que não encontrastes sua musa inspiradora. Como dissestes uma vez em seus escritos: “uma mulher dos olhos verdes sempre me encantou”. Mas encontrastes uma mulher guerreira, de um coração gigantesco que sempre lhe apoiou em tudo especialmente na nossa criação, nossa querida mãe, inesquecível Dona Joséfa, como todos a conheciam. As vezes ficávamos sem entender o amor de vocês. Porque voces não namoravam como nós jovens que vivíamos trocando beijos constantemente?. Que pobreza nossa que não percebíamos que o amor de vocês era superior àquele joguinho que tínhamos nos namoros. Hoje eu entendo que vocês realmente se amaram, de uma maneira diferente, mas se amaram. Espero que estejam juntos na eternidade, não como casal, evidentemente, mas como seres de luz a nos proteger a todos.

A benção papai! Estejas em paz.

Obs: O autor, Prof. Dr. Rômulo José Vieira é Acadêmico da Academia de Ciências do Piauí; Acadêmico da Academia de Medicina Veterinária do Piauí; Acadêmico correspondente da Academia de Medicina Veterinária do Ceará; Acadêmico correspondente da Academia Pernambucana de Medicina Veterinária.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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