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Lembro-me de que esse era o título de um pequeno artigo de jornal, que escrevi há muitos anos atrás, sobre o significado do Carnaval como expressão simbólica do poder popular. Na verdade, desde as grandes manifestações de 1968 (Passeata dos Cem Mil, contra a ditadura civil-militar), de 1984 (Diretas Já) e de 1992 (Caras Pintadas – Fora Collor), só se via o povo concentrado em estádios de futebol, em shows musicais (pouco importa se de artistas populares, cantores evangélicos ou modernos padres cantores, pois o resultado é mais ou menos o mesmo) ou no carnaval.

Eis que, de repente e inesperadamente, o corpo do povo reaparece nas ruas, avenidas e praças do país. Que maravilha, contemplar a imensa massa de mais de cem mil, qual caudaloso rio, a deslizar lentamente pela famosa Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro! Reiteradas multidões em São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Recife, tantas outras capitais e até cidades do interior do país… No Recife, junto com gente de mais de uma Igreja, também eu estive a desfilar na tarde do dia 20 passado, pela Avenida Conde da Boa Vista, no centro da cidade, literalmente tomada pelo povo, na largura e no comprimento, seguramente muito mais que as cinquenta mil pessoas apregoadas oficialmente.

Como explicar que, depois de tantos anos, agora o povo resolva mostrar o próprio corpo e fazer-se um corpo só¿ Como explicar que, para surpresa geral, as ruas sejam ocupadas e as janelas se abram e se iluminem para dizer que “estamos aqui”? Há anos, os chamados movimentos sociais se acham bastante encolhidos, até o tão organizado MST parece que só faz ocupar beiras de estradas, com a Reforma Agrária tendo saído da agenda do Executivo e do Parlamento, há muito tempo, talvez porque assentar pequenos agricultores seja considerado solução precapitalista, como se agora só interessasse o grande latifúndio, chamado de “agronegócio” para exportar. Algumas pessoas ousam explicar esse refluxo, aludindo a cooptação de lideranças, até corrupção de algumas dessas, beneficiadas por benesses decorrentes de financiamentos públicos. Doutro lado, desde os anos de FHC, e seguindo adiante com ainda maior incremento, a população mais pobre se tem acostumado a variados tipos de “bolsas” de auxílio à pobreza. Não que as “bolsas” não sejam necessárias e até questão de justiça, assim como as famosas “quotas” em universidades, desde que a Abolição foi decretada sem reforma agrária e sem educação das massas, como queriam Joaquim Nabuco e outros abolicionistas. Mas, lamentavelmente, o auxílio tem chegado como “política de compensação” e não de “reestruturação” da condição do povo. Baste pensar num caso exemplar: o assessor especial do ex-presidente da República, Frei Betto, amigo pessoal do Presidente e histórico militante de esquerda, fora nomeado justamente para liderar o processo de mobilização popular em torno do Programa Fome Zero. Pasmem, durante dois anos de exercício do cargo, não teve um tostão do orçamento da União para executar a tarefa e se sentia um estranho no ninho. É só conferir seu livro-diário “Calendário do Poder”. Assim funciona a máquina do Governo, mesmo quando se diz “popular”. Os dirigentes do poder, também desde os tempos de FHC e em seguida, por reflexo de arrogância típica de elite, têm transmitido às massas uma subliminar mensagem: “Fiquem quietos, nós entendemos do assunto, estamos arrumando a casa, na hora H vocês vão ver os resultados e vai dar tudo certo, paciência, é só esperar o momento…” e o povo parecia estar a escutar “a voz dos palácios” e aguardar “obedientemente“. Afinal, temos a tradição das Capitanias, de reconhecer alguns como “donos” do país e os melhores como “pais dos pobres”… Baste ler historiadores como José Honório Rodrigues e Raimundo Faoro. O jogo parece restringir-se ao Palácio do governo e ao Parlamento, em infindas e, às vezes, pouco claras negociações de projetos e cargos, como se os movimentos sociais – o povo — não devessem ser o ator principal na arena.

Como se explica, então, que, agora, o povo decida sair às ruas e dizer sua palavra¿ E até mesmo no dia de hoje ainda estejam grupos e multidões, em menor quantidade, é verdade, pelas ruas do país? Espanta que o movimento como que tenha brotado do chão, sem lideranças explícitas, sem organizações à frente, sem palavras de ordem… multidão que marcou encontro pelo “facebook”. As pessoas portavam cartazes, inumeráveis, quase na totalidade artesanais, feitos em casa, a mão, com lápis de cor ou pincel atômico, em cartolina, como se tivessem saído de uma classe de escola a mostrar seu “dever de casa” em dia de festa. Brilhava o espetáculo da espontaneidade. Não se ouvia carro de som com consignas ou comando de organização, não se aguardava no final nenhum comício, nenhum discurso… Símbolos de partidos políticos e de certas organizações eram rechaçados. Só importava e bastava, como motivo de mobilização, “caminhar”, “ocupar a cidade”, mostrar o próprio corpo e, como um só corpo, feito de multidão de corpos, fazer escutar o grito rouco de “a voz das ruas”.

UM CORPO QUE EXPÕE SOFRIMENTO DIFUSO
É verdade, o povo feito um corpo só, a gritar diversidade de motivos de sofrimento. Quem sabe, aquele “sofrimento difuso”, de que, há anos, vêm falando sociólogos e antropólogos, e que marca nossas cidades. Dor que dói da ponta dos cabelos à ponta dos pés, desde que se sai de casa cedinho para pendurar-se ou apertar-se no transporte público, mas que não dá pra localizar exatamente. Talvez, por isso, o movimento não possa ter uma meta precisa, uma proposta clara de reivindicação, pois, como no “Maio de ”, dizia o filósofo Marcuse, especificar propostas diluiria a força do protesto, uma vez que se trata é de “mudar o Brasil”, de refazer o mundo… De alguns anos para cá, analistas da sociedade vêm dizendo que o povo quase não tem melhorado “economicamente”. Na verdade, os meios de produção se têm concentrado e os negócios e a renda dos mais ricos é que têm aumentado de forma astronômica, são poucas as empresas que controlam a produção no mundo. Mas, dizem, os índices de “bem estar social”, apesar de tudo, têm-se elevado: moradia, educação, saúde, expectativa de vida, transporte, mesmo com toda a precariedade constatável. E levantam a pergunta: Será que o povo vai se contentar com o pouco que se lhe tem dado até agora e não vai dizer: Por que só isto e não mais? Quem sabe, é essa pergunta que está começando a ecoar.

A CRISE É GLOBAL E PROFUNDA
É quase impossível avaliar a amplidão e a profundidade do drama social e cultural que vive nossa gente. Há uma crise da civilização mundial, a começar do Ocidente. Quais os valores que nos guiam? A produção já não é mais para a reprodução e o bem estar da vida, mas tem sentido em si mesma, alienada de sua finalidade que é satisfazer necessidades humanas pessoais e coletivas. Para que se produz? Certamente, para amontoar dinheiro. Já que se produz, é preciso criar no povo necessidades de consumo, para fazer escoar a produção. A vida se torna sempre mais artificial, e, assim, as relações entre as pessoas. Consumir se erige a símbolo de Ser. Os meios de comunicação, instrumentos da economia, assumem a tarefa de incutir nas pessoas novas necessidades, sempre mais supérfluas. Sem falar do estrago da Natureza, que a está levando à agonia, com a própria vida ameaçada, milhares de espécies em extinção a cada dia. Se quisermos ter o nível de consumo de países como os Estados Unidos da América do Norte, vamos precisar de cinco planetas Terra.

É terrível perceber a que chega a irresponsabilidade humana por causa da idolatria do dinheiro: à margem do desperdício, povos inteiros na África, e até entre nós, ainda morrem de fome e de desnutrição. Que difícil é para a humanidade amadurecer! Parece que estamos ainda na fase oral, com o prazer de “devorar” todas as coisas, e na fase anal, de comprazer-nos ao “expelir” o máximo de lixo possível. A sabedoria popular de há muito já nos advertia: os olhos se deixam facilmente enganar pelo “gato que caga dinheiro”, pela “galinha dos ovos de ouro”, pelo “poder do rei Midas” que, para sua desgraça, tudo o que toca transforma em ouro… Não esqueçamos, “dinheiro” é “obra de nossas mãos”, termo que pode designar produção e, ao mesmo tempo, fezes, dejetos… Lida nas devidas proporções, ainda tem sentido a sentença do grande filósofo espanhol Ortega y Gasset : “A técnica é a produção do supérfluo”, porque o necessário se faz com bem pouco. Como dizem os orientais, “vivere parvo”, é preciso viver com pouco, a saber, com sobriedade. Ora, entre nós, a crise mundial se agrava pela rapidez do processo de urbanização. Em sessenta anos estamos tendo de fazer a passagem da roça para a cidade, processo que a Europa fez por séculos. Daí, a grande confusão de princípios, valores, normas e costumes. Nada mais tem firmeza, já não se sabe o que vale e o que não, o que é principal e secundário, o que é bom e o que é mal; afrouxam-se os vínculos sociais e a disciplina de convivência, as patologias e taras perdem o freio, e a vida humana já não significa mais nada. O país convive a cada dia com violência crescente e cada vez mais absurda, mata-se por um pedaço de pizza ou uma discussão banal… e a doce “flor da idade” que é nossa juventude produz, paradoxalmente, o amargo fruto da bandidagem.

DEMOCRACIA PARTICIPATIVA E PODER POPULAR
Ninguém é tão simplista de pensar que tudo está acontecendo por causa de vinte centavos de aumento nas passagens de ônibus, como parecia nos primeiros dias. Já vamos muito além do Movimento Passe Livre. Está mais que claro que não era esse o motivo de tanta gente sair às ruas. Em outras ocasiões, as tarifas subiram e nada aconteceu, só um pequeno grupo de estudantes reclamava. Foi apenas o sintoma para fazer aparecer o “sofrimento difuso”. Baste ler os cartazes: Mais Educação, Saúde Padrão FIFA, gastos excessivos em estádios, qualidade de serviços públicos, mobilidade urbana e transporte público de qualidade, fim da corrupção que se difunde nos três poderes e se dissemina nos costumes privados, abaixo a PEC 37… Um desejo é claro: mais de “democracia participativa” e menos de “representativa”. Já não dá para confiar em “representantes do povo”, com um Congresso tão corrupto e despreparado, com tantos de seus membros sob processo na Justiça ou ocupados em questões menores. O ex-Presidente já falara de uma turba de “mais de trezentos picaretas”. E, conta Frei Betto, em reunião dissera que cerca de 45% das verbas federais liberadas não chegam ao destino. Trágico reconhecimento da falência da sociedade e do Estado, que não sabem ou não querem controlar o que lhes pertence. Como esperar que o povo acredite nos “políticos”?

Chama a atenção o que pode ser o aspecto mais relevante de todo o movimento: a experiência de poder que o povo está a fazer. Primeiro, os governantes têm lidado com o fenômeno com extrema cautela. A Presidente da República tem tentado transmitir equilíbrio e atitude democrática e republicana ao país, ao dizer estar atenta ao que tem chamado de “a voz das ruas”. O Parlamento parecia ausente e na moita, mas resolve agora mostrar a cara. A polícia foi orientada a comportar-se com moderação e sensatez, tão diferente de outros tempos, embora com episódios isolados, lamentáveis, de excesso e truculência. E isto num país que se tem tornado sempre mais Estado policial (câmeras de monitoramento da população em toda parte, ocupação de favelas, “pacto pela vida”, investimentos crescentes em segurança, além do bilionário aparato da segurança privada). Em segundo lugar, imediatamente, medidas têm sido tomadas e outras anunciadas: baixou o preço da tarifa de transporte e se analisa a possibilidade do passe livre para estudantes; a PEC 37, que tinha significativo apoio e havia gerado horas de debates e interminável negociação, de repente, é derrubada de noite, por quase unanimidade na Câmara, e novas leis estão sendo aprovadas ou em pauta, com inédita abundância e rapidez, baste ver a pauta do Senado; a Presidência da República acena com propostas para a educação, a saúde, a reforma política (finalmente), o combate à corrupção, e bilhões para os transportes… é de esperar que nossas ferrovias sejam tiradas do lixo. A oposição também se levanta com sugestões, inclusive de diminuir o inflado ministério federal, árvore que multiplica os galhos para pendurar interesses da enorme fila de “aliados”. Sem dúvida, fica a lição que temos de aprender com o princípio constitucional, que é a revelação da verdade última da realidade política: ”Todo poder emana do povo e em seu nome tem de ser exercido”. Quando o povo quer, não há governo que resista, o máximo que pode fazer é matar, mas não “vencer”. O problema é o povo decidir-se a querer, e o primeiro nível, o mais elementar do processo, é ser informado honestamente da realidade que o cerca e na qual está mergulhado (a quem servem os meios de comunicação?), e aprender a analisá-la para, enfim, “conscientizar-se” e tomar decisões corretas. E isto tem de começar em cada residência, nas escolas, nas comunidades, nas associações de bairro, nas igrejas, no ambiente de trabalho, até chegar às organizações profissionais, de classe, e aos partidos políticos.

PREOCUPAÇÕES QUE SE LEVANTAM E PERMANECEM
1. Por que as manifestações explodem justamente em coincidência com a Copa, quando os olhos do mundo todo estão voltados para o Brasil? Haveria setores interessados em mostrar ao mundo que o povo está insatisfeito com seus governantes e o país se acha desgovernado?

  1. Por que, em manifestações tão massivas e pacíficas, há atos de tanta violência? Seguramente, no clima de violência social de hoje, foragidos da polícia, bandidos, ladrões e arruaceiros se aproveitam para destruir e saquear. Mas não haveria pelo meio pessoas interessadas em criar provocação, para obrigar as forças policiais a reagir e, destarte, ou exibir a fragilidade de um governo que não reprime suficientemente, ou expor a violência e truculência do aparelho de Estado?
  2. Por que os meios de comunicação social, particularmente a televisão, estão bem mais interessados em mostrar as arruaças do que a marcha pacífica da cidadania? Por que se dá tanta importância a esses episódios marginais, quando milhões de pessoas marcham pacificamente e se comportam com dignidade cidadã? A marcha do Recife foi exemplar, por isso mereceu muito pouco destaque na chamada mídia. Haveria gente interessada em mostrar que o país está mergulhado na desordem e, assim, criar clima de medo, de covardia e até de desestabilização?
  3. Nas marchas se fazia presente sobretudo a classe média ampliada de hoje e, particularmente, a juventude. Estaria lá mobilizada pelo receio de que a inflação venha afetar seu ímpeto de consumo? Se sim, a questão já não seria a mudança do país, mas a manutenção de seu bem estar individual. A chamada “classe popular” tem ensaiado aparecer só nestes últimos dias. Seria sintoma de que as organizações mais populares estariam desmobilizadas?
  4. Uma constatação é que, em movimento tão amplo e com bandeiras tão várias, o espectro da população vai, naturalmente, da esquerda à direita, com um “centro” que não se identificaria absolutamente com essas designações. Isto era claro pelo desencontrado das reivindicações mostradas nos inumeráveis cartazes. Por que tanta rejeição a qualquer tipo de organização política, desde sindicatos até partidos? Rejeitar as organizações políticas em bloco e sem nenhum discernimento, inclusive com atitude de certa intolerância, seria sensato, não é preocupante esse “vazio”, com sabor de reacionarismo? Não foi assim que ao longo da história se prepararam golpes?
  5. Dá a impressão de que as marchas ainda estão no nível das reivindicações “sociais”, à procura de um país de bem estar. Bem longe ainda de alçar-se ao nível “político” de organização para, realmente, confrontar o poder estabelecido e obrigá-lo a tornar-se realmente “popular”. Chama atenção que não se explicitem, no conjunto dos cartazes, as reivindicações que seriam típicas da classe trabalhadora, emprego, condições de trabalho e renovada organização sindical, rompendo com o peleguismo e a corrupção; a reforma agrária está ausente, assim como a crítica ao latifúndio; a condição dos povos aborígenes e a demarcação de suas terras também, inclusive logo depois dos bem recentes problemas que temos tido no Mato Grosso; não se alude à gestão política dos setores de saúde e educação, nem aos mecanismos de controle social sobre eles, ao contrário, o que vemos é a classe média fugir para os planos de saúde privados, e, na educação, para os colégios particulares, quando, tempos atrás, em Alagoas, por exemplo, os filhos do governador e dos secretários de Estado cursavam colégio público, tal a sua qualidade;
  6. O protesto contra a corrupção quase se reduz a grito de indignação moral, sem alcançar o nível “político” de aludir à reforma política e ao reordenamento do Estado, para superar sua “privatização” e generalizada ausência de controles eficazes e eficiente e moderna gestão.

CONCLUSÃO
São questões que se mantêm no ar. Torcemos para que este seja um momento realmente novo na vida do país, mais um passo para que sejamos cada vez mais um povo que assume sua cidadania e se sente sujeito do próprio poder, e se organize para tal.
Deus nos ajude, ilumine e nos dê coragem de avançar! Só avançaremos, porém, se a multidão de pobres que se acham entre nós tiverem, também eles, cada vez mais, olhos para enxergar que o país também lhes pertence a pleno direito. Sem dúvida, entre nós, sobre quem mais tem recebido, mais pesa o dever de colaborar para que milhões de criaturas humanas saiam da miséria e possam desfrutar de condições verdadeiramente humanas de vida, o que só acontecerá se ascenderem à plena cidadania que lhes tem sido negada por séculos, até hoje.

Recife, 26 de Junho de 2013
Dom Sebastião Armando, Recife

Obs: O Autor é Bispo Emérito da Diocese Anglicana do Recife
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – IEAB….
É Teólogo e Biblista
Assessor do CEBI, de lideranças de Comunidades Eclesiais de Base e de Escolas de Fé e Política

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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