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Movida pela saudade da festa de Santo Antônio, padroeiro de minha cidade, Barbalha – CE., liguei o Youtube para assistir (literalmente), vez que não podemos participar pessoalmente, como deve ser, e acessei a missa solene em honra de Santo Antônio, também padroeiro da Arquidiocese de Olinda e Recife, e da própria cidade do Recife, que estava sendo transmitida pela por aquele canal de internet.

Foto de Santo Antônio e do pau da bandeira em 2019.

Este ano não teve festa só a procissão e o andor do santo sobre um carro percorrendo as ruas no dia 13 de junho.

Santo Antônio é, também, padroeiro da Arquidiocese de Olinda e Recife, e da própria  cidade do Recife, onde foi homenageado com uma missa solene e festiva, presidida pelo arcebispo Dom Fernando Saburido, na Matriz de Santo Antônio desta cidade, celebração que assisti através da mídia, divulgada também pela Rádio Olinda e sobre a qual tecerei aqui algumas considerações, no tocante aos cantos e músicas que a integraram.

Logo no início fui tomada de perplexidade e confesso minha decepção, não com a celebração em si, mas com os cantos que lá foram entoados, por um coral, em completa descontextualização com os ritos e com a Palavra de Deus constante nas Leituras Bíblicas e no Evangelho.

Assim, a celebração foi iniciada com o canto “Amazing Grace”, que ficou famoso durante o trágico episódio das Torres Gêmeas nos Estados Unidos, o qual apesar de belo, não é um canto litúrgico e muito menos, apropriado para abertura de uma missa festiva como a que estava sendo celebrada, em louvor a Santo Antônio.

Após o Ato Penitencial, seguiu-se um hino do Glória entoado pelo coral, também completamente inadequado, porquanto o Glória é um hino antiquíssimo e venerável da Igreja Católica, sendo ele o próprio rito, cujo texto não deve ser mudado nem alterado com inserção de adaptações ou substituições que adulterem o seu sentido de canto essencialmente cristológico, como ensina a liturgia e é indicado no Missal Romano.

Na aclamação ao Evangelho, após o canto de Aleluia, faltou a antífona própria, que é cantada em solo, antes da proclamação do Evangelho e é parte integrante da aclamação aleluiática, sendo o canto da Aleluia e sua antífona, por si sós, suficientes como aclamação.

Em preparação para o Ofertório, o canto das Oferendas que precede o rito do Ofertório, era um canto que, por seu conteúdo piegas e intimista, era completamente desligado do rito e do seu significado, qual seja, uma bendição a Deus pelos dons: frutos da terra e do trabalho humano, que irão se transformar no Corpo e Sangue de Cristo, em oferecimento ao Pai, pelo próprio Jesus Cristo, momento em que os fiéis oferecem também sua vida.

Prosseguindo a celebração, foi entoado o canto do Santo, que tal como o Glória, é um canto do ordinário da missa cujo texto é tirado do Missal Romano, não devendo ser modificado, adaptado ou substituído, mas, devendo ser sempre cantado pelo texto original.

Porém, o clímax dos despautérios, deu-se no canto de comunhão que foi um desastre, visto que nem de longe cumpriu sua missão de integrar a mesa da Palavra com a mesa da Eucaristia e de unir os irmãos na comum união com Cristo, sendo ainda um canto igualmente intimista, cujo texto não fazia a menor referência à Palavra proclamada no Evangelho ou nas Leituras Bíblicas da missa do dia.

É de observar-se que esse tipo de cantos sem critério litúrgico, que foram usados na missa em louvor a Santo Antônio, provém da Renovação Carismática, que não prima pela liturgia, como é amplamente conhecido através das redes sociais. Entretanto é sabido que, na missa não se pode cantar qualquer coisa ao bel prazer dos músicos ou dos cantores, fora do que recomendam as diretrizes da Sagrada Liturgia, do Concílio Vaticano II, em que a prioridade do canto litúrgico é para o texto que deve ser de conteúdo bíblico, podendo ser acompanhado de instrumentos musicais, ficando, porém, a música em segundo lugar.

Ademais os cantos litúrgicos da celebração eucarística não podem ter caráter intimista e individualista, porquanto a missa é uma ação comunitária, em que toda a assembleia é parte do mesmo corpo de Cristo que se oferece ao Pai, por todos, não havendo, portanto, lugar para intimismo ou individualismo.  Por isso é que, ao reformar a Liturgia, o Concílio Vaticano II, sabiamente restaurou a participação ativa, consciente e frutuosa dos fiéis como destinatários da celebração litúrgica e como povo sacerdotal também celebrante do Mistério Pascal de Cristo.

Importa lembrar que uma celebração solene como a citada, em honra de Santo Antônio, padroeiro da Arquidiocese de Olinda e Recife e também da cidade do Recife, merecia uma preparação litúrgica mais cuidadosa com os cantos que fazem parte integrante da celebração e não podem ser desvirtuados dos ritos celebrados. Especialmente, em se tratando de uma arquidiocese rica em compositores de músicas litúrgicas, que são conhecidas e utilizadas na Igreja do Brasil e até de outros países, pela fidelidade aos textos bíblicos de onde se originam e pela beleza e harmonia das melodias em completa simbiose com os textos cantados, seria de esperar-se um melhor desempenho litúrgico musical nas missas da Arquidiocese.

Nesse sentido, vale ressaltar alguns compositores pernambucanos que se dedicaram à música litúrgica, como Pe. Sílvio Milanez e Pe.Geraldo Leite, já falecidos, e Reginaldo Veloso, pelo admirável acervo de música litúrgica que compuseram, destacando-se também, atualmente, Gilson Celerino, Frei Wanderson Campos, como novos compositores de música e canto litúrgico. Infelizmente, ao caso se aplica o velho ditado: “Em casa de ferreiro, espeto de pau”.

E, para finalizar estas observações, voltando ao canto “Amazing Grace”, este poderia perfeitamente ter sido entoado no final da missa, em homenagem aos milhares de mortos pela COVID19, particularmente de Pernambuco, mas também de todo Brasil, pois é um canto apropriado para esta terrível tragédia humana.

Aproveito para homenagear Santo Antônio também como padroeiro de Barbalha, com este Responso do devocionário popular, cantado nas trezenas desse querido e venerado santo.

– RESPONSO DE SANTO ANTÔNIO –
1. Se milagres tu procuras, pede-os logo a Santo Antônio.
Fogem dele as desventuras, o erro, os males e o demônio.

Refrão

Torna manso o iroso mar, da prisão quebra as correntes,
bens perdidos faz achar e dá saúde aos doentes.

2. Aflições, perigos cedem pela sua intercessão.
Dons recebem se lhe os pedem o mancebo e o ancião.

3.Em qualquer necessidade, presta auxílios soberanos.
De sua alta caridade fale a voz dos paduanos.

4. Glória seja dada ao Pai, glória ao Filho, nosso bem,
e glória ao Espírito Santo por séculos sem fim. Amém!

Obs: Imagens enviadas pela autora

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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