Se já é celeiro do Estado há tantas e tantas décadas, agora passa a ser, igualmente, celeiro de produtivos escritores, de homens que se debruçam sobre o computador, brotando, depois, dessa operação diurna, um livro, um a mais, no qual a pujança do itabaianense se revela e se esbalda. Centro dessa erupção tão benéfica, de lavras que se transformam em livros, a Academia Itabaianense de Letras bem desempenha seu papel de aglutinadora, em seu seio, de nomes que, no aspecto, lhe adornam de publicações novas, e, entre tantos, o destaque para cinco nomes em especial, por ordem alfabética: Antonio Francisco de Jesus – Saracura, Carlos Mendonça, José Marcondes, Luiz Carlos Andrade e Robério Santos.

O primeiro, a pintar de romance as cores da infância e da passagem pelo Seminário, com incursões na crônica, na poesia popular, mão leve, texto suave, parece ter nascido para três atividades específicas: escrever, publicar e divulgar. Se Dermeval Mangueira carregava quase trinta poemas em apenas um bolso do paletó, Antonio Francisco de Jesus – Saracura vive com as mãos superlotadas de livros. Para quem, em criança, vendeu farinha no mercado de Aracaju, o livro se tornou mais fácil de ser transportado. No momento, para não perder a embocadura, traz à tona Pássaros do entardecer, outro e novo romance, a desafiar leitura. Vale a pena.

Carlos Mendonça é, ao mesmo tempo, historiador, biografo e poeta, também popular. Quase um autodidata.  Eu diria, um herói. Um dia, descobriu carregar virtudes de escritor, e, começou a produzir livros de todo tipo, principalmente biografias, demonstrando ter faro para buscar nos arquivos o fato que procura. Do primeiro livro, sobre a vida de Francisco Teles de Mendonça, ao último livro, focando a trajetória de Serapião Antonio de Goes, coloca, no meio, uma série de biografias outras, uma das quais sobre Euclides Paes Mendonça e Manoel Francisco Teles. Tenho dito, em tom de brincadeira, que escreve um livro por semana.

O médico José Marcondes é o autor de Daqui, dali e dacolá – pequenas histórias da vida, justamente cento e onze, todas recheadas de um creme saboroso, que nós, itabaianenses, vamos deglutir com vagar para não perder nenhuma frase, na evocação de nomes e de fatos que tanto nos tocam. Outros livros deverão surgir, a qualquer momento, levando em conta que José Marcondes continua a escrever sobre tudo e sobre todas as coisas, e novas e pequenas histórias da vida deverão surgir para fazer companhia ao primeiro livro. Não estamos em época de filho único. É questão de tempo um outro.

Luiz Carlos Andrade, também médico, sem pejo algum de colocar no papel suas lembranças de menino, depois de lançar dois livros com temas médicos, já nos brindou com dois livros de crônicas, A memória trouxe de volta e Coisas da vida, onde fatos e fatos vividos ganham a roupagem da letra, assentando, em cada texto, toda a sua filosofia de vida, onde o sério e o  irônico se misturam e se confundem, se incorporando ao seu viver, vestindo a camisa do time dos filósofos, com Filomeno e Zéquinha das sete portas a puxar o estandarte. Novos textos estão sendo preparados. O terceiro filho, na crônica, portanto, em caminho.

O último é Robério Santos, polivalente até dizer basta, jornalista, poeta, fotógrafo, historiador, biografo, romancista, cronista, cineastra amador, e, por último, um cangaceirista de mão cheia (ufa!), fruto da paixão que se apoderou de sua mente em torno da epopéia vivida por cangaceiros nas primeiras décadas do século passado por esse nordeste a fora. Sua valiosa contribuição se veste das cores de vários livros, entre os quais, O cangaço em Itabaiana Grande, As quatro vidas de Volta Seca, e, agora, Zé Baiano. Talvez seja o maior cangaceirista de Sergipe. Como é um pacifista, não pode ser um cangaceiro nascido fora do tempo. Não conheço, entre nós, outro nome que tenha incursionado tanto no meio dos cangaceiros.

Cinco nomes, portanto, cada um diferente do outro, todos produzindo, em áreas diversas, salpicando, aqui e ali, de suas cores, a grande toalha da literatura sergipana, que, mercê da colaboração que cada livro representa, aumenta de tamanho, dando a Itabaiana a alegria de ver membros de sua academia de letras em constante trabalho individual, justificando, assim, robustamente, a realização de mais uma bienal do livro, ora lá, nas entranhas da cidade, ocorrendo. Afinal, Itabaiana, terra de Sebrão, sobrinho, Maria Thétis Nunes, Alberto Carvalho, Etelvina Amália de Siqueira, entre outros, não pode deixar a peteca cair. 14 de setembro de 2019.

Obs: Publicado no Correio de Sergipe
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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras
  

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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