Djanira Silva 15 de junho de 2020

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Olhei, vi, pendurada na parede, a imagem embalsamada que, por muito tempo ainda, me manteria presa à vida. Queria que com ela se esvaíssem os enganos multiplicados, divididos, somados e subtraídos de uma felicidade fugaz. Queria desviar a vista e deixar que se apagassem no ar mensagens escritas no passado com o sangue das minhas metamorfoses.

Abro os olhos. Ah! Meus olhos. Neles, sombras de tristezas tão vivas, tão presentes me fazem sentir entre os braços uma saudade amarfanhada se aninhando, se enroscando projetando no espelho uma imagem impossível. Ali, naquele momento, senti a dor dividida. A dupla imagem da tristeza escrita no brilho prateado e enganoso dos espelhos. Surgiu assim, de repente, como se fossem nuvens. Agora sei, existem tristezas alegres e tristezas tristes. As tristes são as que se vestem de luto, de melancolia. Cobertas de cinzas, austeras e silenciosas alimentam-se de lágrimas e soluços. Apagam os olhos desenham imagens descoloridas, perigosas. Espelhos sem luz guardados nos esconderijos do tempo.

As tristezas alegres vestem-se de saudade, de nostalgia. Devolvem-nos lembranças de momentos felizes, chegam assim como raios de sol desenham nas nuvens o sorriso do arco-íris.

Meus olhos. Ah! Meus olhos aos poucos se apagam. Águas paradas já não choram lágrimas de alegria. Rios presos nos cascalhos das enxurradas. Espelhos apagados, espelhos sem luz.

Obs: A autora é poetisa, escritora contista, cronista, ensaísta brasileira.

Faz parte da Academia de Artes e Letras de Pernambuco, Academia de Letras e Artes do Nordeste, Academia Recifense de Letras, Academia de Artes, Letras e Ciências de Olinda, Academia Pesqueirense de Letras e Artes , União Brasileira de Escritores – UBE – Seção Pernambuco
Autora dos livros: Em ponto morto (1980); A magia da serra (1996); Maldição do serviço doméstico e outras maldições (1998); A grande saga audaliana (1998); Olho do girassol (1999); Reescrevendo contos de fadas (2001); Memórias do vento (2003); Pecados de areia (2005); Deixe de ser besta (2006); A morte cega (2009). Saudade presa (2014)
Recebeu vários prêmios, entre os quais:

Prêmio Gervasio Fioravanti, da Academia Pernambucana de Letras, 1979
Prêmio Leda Carvalho, da Academia Pernambucana de Letras, 1981
Menção honrosa da Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1990
Prêmio Antônio de Brito Alves da Academia Pernambucana de Letras, 1998 e 1999 
Prêmio Vânia Souto de Carvalho da Academia Pernambucana de Letras, 2000
Prêmio Vânia Souto de Carvalho da Academia Pernambucana de Letras, 2010
Prêmio Edmir Domingues da Academia Pernambucana de Letras, 2014

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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