Há um sentimento em todo o mundo de que este tempo de Pandemia vai passar e que estaremos melhor do que antes. Nunca o “tudo passa” foi tão repetido em toda parte do planeta – se tornou quase um mantra de esperança universal! Que tudo realmente passe e permaneça o que aprendemos com esta crise.

Entretanto, será realmente que tudo vai passar? A Pandemia com certeza! Assim como as dores e maus tratos que este caos trouxe, para muitos, serão superados. Muitos sairão deste período realmente mais fortalecidos, mais habilitados para bem lidar com as adversidades. São aqueles que aprenderam a conviver bem com a escuridão, mas sem jamais perder o rumo dos horizontes iluminados. Encontraram no sofrimento da doença um sentido ressignificado para a saúde. Experimentaram na morte dos que amam, a dor em si mesmo e o fortalecimento da fé na ressurreição – vidas que não ficaram na Pandemia, mas seguiram nas vidas e nos afetos dos que cuidam e amam. Descobriram um conceito mais encarnado da própria ressurreição, de que a morte não finaliza a vida, mas faz parte dela, de um jeito novo, em tudo o que a pessoa se transformou em nós – ressuscitamos quando pelo cuidar, amamos o outro, mesmo antes de morrermos. Muitos já escolheram fazer da Pandemia, uma experiência de aprendizagem e crescimento! Muitos redescobriram o prazer no cuidar do outro, a satisfação de poder ser solidário com os que mais sofrem e o bem estar na empatia de ajudar quem tem pouca ajuda.

Muitos outros, infelizmente, ficarão apenas com uma triste história da Pandemia, das dores e mortes não reconhecidas, da maquiagem da informação que sufoca o saber para a superação – do pintar a crise com cores ideológicas para que a ignorância seja a força do poder. Estes não passarão com a Pandemia, pois já são por si um desastre à saúde de um povo!

É preciso escolher o “tudo passa”! Poder escolher é reconhecer em si a possibilidade de lidar com qualquer situação, por mais difícil que seja, numa perspectiva de enxergar muito além da escuridão. Na coragem do confronto, que exige toda necessidade de lidar, entramos em contato com a nossa própria força de superação e aprendemos com nós mesmos e também com os outros, na solidariedade, e crescemos juntos num movimento pascal, da morte para a vida, da escuridão para a luz.

Ainda que a situação de muitos seja mais grave ainda, com traços de impossibilidade de escolha, onde a dor parece paralisar a esperança, ainda assim, é possível decidir pela reação a favor da vida, que está encarnada na nossa vocação humana pelo desejo perene de ser feliz.

Marc Oraison, teólogo francês, nos alerta que vivemos situações na vida como se estivéssemos num quarto escuro fechado com os móveis desarrumados, quando alguém nos chama para fora do quarto convidando para sair, porque fora está a luz. Temos duas opções, onde a primeira é permanecer quieto no quarto para evitar a dor de tropeçar nos móveis e se machucar. Esta decisão abriga duas certezas, a de não sofrer com as dores e a de permanecer na escuridão. A segunda opção é escolher sair na direção da luz e de outros horizontes. Esta decisão traz consigo um risco e uma certeza. O risco é de sofrer com as possibilidades de quedas e dores na busca de sair da escuridão. A certeza é de que a luz e novas perspectivas são inevitáveis!

Que cada um de nós possamos nos atrair pela voz que chama para a luz, e seguir chamando muitos outros conosco. É preciso escolher o segurar na mão de quem oferta e o estender a mão para tantos outros. Façamos desta crise uma razão para viver na direção da luz, da coragem de buscar a nós mesmos e aos outros como parceiros de superação. Que nosso movimento seja sempre de saída, para gerar sentido de vida, metas, desafios, possibilidades…e sempre termos para onde irmos e chegarmos. Toda escolha tem um fim com as suas consequências!

Em tempo de Pandemia…e sempre, tudo passa! Que possamos escolher passar…e que fique com a Pandemia somente uma história para continuar ensinando à humanidade tudo que podemos para tudo superar.

Aos que escolhem permanecer no quarto escuro, nem tudo vai passar.

Que tudo realmente passe e permaneça o que nos fez melhor com este tempo de Pandemia.

Aos que ousam por luz e novas perspectivas…Tudo passa !

Ivan Rodrigues
[email protected]
Psicólogo, Educador e representante do Colégio Antares no Programa das Escolas Associadas da UNESCO.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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