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1 – Domingo da Promessa do Espírito
João 14,15-21

De hoje a 15 dias, nós Cristãos e Cristãs de tradição mais antiga celebramos PENTECOSTES: antiga “festa da colheita”, celebrada pelo povo judeu como “festa da promulgação da Lei no Sinai”. Foi justamente neste dia que, em Jerusalém, 50 dias após a Ressurreição de Cristo, aconteceu a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos, há 9 dias reunidos em oração, junto com Maria, Mãe do Senhor, à espera do Prometido.

15 dias antes, Jesus vem nos dar uma “prévia”, colocando a gente de sobreaviso: Aguardem o “ADVOGADO”, “O ESPÍRITO DA VERDADE”!… Se nossos corações se dispuserem a fazer o que Jesus nos manda, o Pai nos dará essa “Força Maior”! E quanto a gente precisa desse apoio, dessa luz, dessa energia, nesta hora!

Os dias de pandemia continuam sem perspectiva, sem luz no fim do túnel… A depender dos Poderes Públicos que atuam desde Brasília, seremos o país mais devastado pelo COVID-19. Sim, porque o fantoche-presidente e sua equipe ministerial nos condenam, sistematicamente, ao abandono: o SUS colapsado, gente morrendo à míngua em casa ou na entrada dos hospitais, agentes de saúde desprotegidos, infectados, afastados do serviço, mortos… o pagamento do auxílio emergencial, demoniacamente “organizado” para provocar a contaminação da população aglomerada, ou simplesmente, a sonegação… Indígenas, negros, ribeirinhos, favelados, povo da rua, encarcerados, a caminho do extermínio… governos estaduais e municipais desmoralizados pela demagogia criminosa… A lógica cruel do “Presidente”, conforme o Diretor do Hospital das Clínicas da USP, é esta: QUE MORRAM OS VULNERÁVEIS! Para que gastar com gente que já está pra morrer? Que morram logo! E vivam os jovens, os atletas, os saudáveis, os que merecem viver!. Isso se chama “eugenia”, limpeza, higienização racial. Coisa do tempo de Hitler, na Alemanha nazista. É  o que defendem milicianos nazifascistas acampados na Avenida Paulista e na Esplanada dos Ministérios, com discursos e gestos das hordas hitleristas de um tempo, um tempo de horror que parece estar voltando… Enquanto isso, nem o Congresso, nem o Poder Judiciário conseguem agir de modo firme, rápido e resolutivo, inertes ou acorrentados, quem sabe por que forças ou influências… Alegam, como desculpa, que lhes falta “apoio popular”… E, realmente, os Partidos Políticos de Esquerda, o Movimento Sindical, as Igrejas, não conseguem formular nem implementar uma estratégia ágil e eficaz de pressão…

“E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta, e agora, José? (…) E agora, José? José, para onde?”…

 O poema de Drumond, que remonta aos dias da Segunda Guerra (1940)… e foi musicado por Paulo Diniz, compositor pernambucano, nos “anos de chumbo” (1972)… diz exatamente o que se passa na mente e no coração de muita gente… Aos que procuramos ser, hoje, seguidores de Jesus, a nós, cabe, nesta hora de trevas, sermos presença lúcida, testemunhas corajosas e coerentes do Reino… sal fertilizante, luz aclaradora e fermento de transformação. Escutemos o primeiro dos antecessores de Papa Francisco: <<Não tenhais medo de suas intimidações, nem vos deixeis perturbar. Antes, declarai santo, em vossos corações, o Senhor Jesus Cristo e estai sempre prontos a dar a razão de vossa esperança a todo aquele que a pedir>> (1ª. Carta de Pedro 3,14b-15). Esta é a hora das CEBs, das Pastorais Sociais, dos Movimentos de Evangelização, das Comissões de Justiça e Paz: Cumpram seu papel profético, exerçam sua militância, “e nome de Jesus”, na força do Espírito! Por incrível que pareça, são as Torcidas Organizadas que parecem ter entendido a urgência desse chamado e estar enfrentando destemidamente o inimigo. Coisa do Espírito, que “sopra onde quer”… “Vinde, Espírito Santo. Enchei os corações dos vossos fiéis. E acendei neles o fogo do vosso amor”. Um amor militante, transformador, revolucionário!

2 – Festa da Ascensão do Senhor
Mateus 28,16-20

<<Hoje, nosso Senhor Jesus Cristo subiu ao céu: suba também com ele o nosso coração.

Ouçamos as palavras do Apóstolo: “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às terrestres” (Cl 3,1-2). E assim como ele subiu sem se afastar de nós, também nós subimos com ele, embora não se tenha ainda realizado em nosso corpo o que nos está prometido.

Cristo já foi elevado ao mais alto dos céus; contudo, continua sofrendo na terra através das tribulações que nós experimentamos como seus membros. Deu testemunho desta verdade quando se fez ouvir lá do céu: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9,4). E ainda: “Eu estava com fome e me destes de comer” (Mt 25,35).

Por que razão nós também não trabalhamos aqui na terra de tal modo que, pela fé, esperança e caridade que nos unem a nosso Salvador, já descansemos com ele no céu?

Cristo está no céu, mas também está conosco; nós, embora não possamos realizar isso pela divindade, como ele, ao menos podemos realizar pelo amor que temos para com ele.>>
Santo Agostinho

Sec. V – Sermão sobre a Ascensão, LH II, p. 828s

Essas palavras de um santo bispo de 15 séculos atrás, podem nos inspirar, ainda hoje, no sentido de vivermos plenamente a nossa “cidadania” celeste, já aqui, nesta terra de tristezas e tribulações.
Precisamos dar conta do que pedimos todo dia a Papai do Céu:

“SEJA FEITA A VOSSA VONTADE, ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU”!

Importante e urgente é demonstrar por nossas atitudes e ações que o “céu” pode começar aqui e agora.
Mantenhamos os corações ligados no Cristo Jesus. Ele está sentado à direita do Pai, mas está sempre conosco, “até o fim dos tempos”. Por respeito à nossa dignidade e por solidariedade para com todos os nossos irmãos e irmãs, sobretudo, os oprimid@s e excluíd@s, façamos tudo quanto estiver a nosso alcance para que os direitos de todos e todas sejam respeitados. Haja justiça, paz e felicidade para todos e todas.

E o céu já começará nesta terra, pois o Reino de Deus já estará “vindo” e se realizando entre nós.
Imaginem se todo cristão, toda “cristã” vivesse cada dia, cada instante, como dia, como instante, de fazer acontecer o Céu nesta TERRA, aqui e agora!
Mãos à obra, Companheiros e Companheiras, rumo à Terra Prometida!
Ajustando o pensamento e as palavras  de um grande Companheiro do Povo Brasileiro: Infelizmente, foi preciso acontecer uma pandemia, para muita gente se dá conta da desigualdade e das injustiças em que vivemos – ou morremos – neste nosso país, um país rico, cheio de pobreza e miséria por todos os cantos.
Cantemos com um profeta de nosso tempo:

<<Depende de nós,
se esse mundo ainda tem jeito,
apesar do que o homem tem feito,
se a vida sobreviverá!>>
Ivan Lins

3 – Recebam o Espírito Santo!
João 20,19-23

Qual é a nossa como cristãos e cristãs, hoje, aqui e agora?…

Estarmos de olho na realidade, analisá-la em profundidade, e, percebidos os desafios (VER), sermos capazes de discernir, à luz dos valores humanos e da nossa Fé, os “Sinais dos Tempos”, e escutar os “apelos” da História e do Deus da História (JULGAR), colocando-nos, como Maria, diante do anúncio do Anjo, à disposição de Deus, para a realização efetiva do seu plano de Salvação e Libertação, “assim na terra como no céu”, por força do Espírito Santo, que age em nós e através de nós (AGIR). Essa é a dinâmica da vida cristã.

Concretamente, nesse breve tempo de nossas histórias individuais e coletivas, nunca fomos tão desafiados. E os desafios estão na cara, só não percebe quem não quer ver. Triste é saber que existe esse tipo de “cegos” e são muitos. E esse fato, por si só, se constitui num “baita” desafio, a mais.

Vivemos, então, uma situação generalizada de pandemia… Os dias se passam, semana após semana, mês após mês, e não se enxerga a luz no fim do túnel. Cada semana, avança o número de infectados, dobra o número de mortos, e boa parte da população não se toca e não atende às orientações e comandos das autoridades sanitárias e governamentais responsáveis, continua saindo à rua, fazendo farra e festa. E muita gente, também, sequer tem condição de ficar em casa, porque precisa correr atrás do pão ou de um “auxílio emergencial”, que para muitos não chega, ou obriga à aglomeração na entrada dos bancos e aos riscos de contaminação. Ainda mais, não há condição, para muitos de ficar em casa ou se isolar, simplesmente porque sua precaríssima moradia não oferece espaço. Até quando?…

Como se não bastasse, o país se arrasta numa crise política, que embaralha e emperra cada vez mais a postura das Instituições públicas, das Organizações da Sociedade Civil, dos Movimentos Sociais, inertes, confusos, vacilantes, ou limitados nas possibilidades de ação e reação frente às ameaças e investidas descaradas e extremadas do autoritarismo fascista, que não mais fala se vai haver golpe ou não, só não marcou ainda o dia.

Eis aí o pecado do mundo! Frente a tudo isso, pode parecer simplista, mas a nossa Fé nos coloca hoje à escuta do Senhor. Se superarmos uma leitura clerical do Evangelho, iremos entender o que Jesus, hoje, nos diz: RECEBAM O ESPÍRITO SANTO!: plenos poderes para vencer o pecado do mundo, mal profundo que corrói por dentro a vida dos indivíduos e da Sociedade, rebatendo na vida do Planeta, devastado, apodrecido, doente.

Concretamente, nós, o povo, animados por essa Força Maior, precisamos sair às ruas e pressionar as Instituições e as Organizações que têm o poder de deliberar, decidir e resolver. Se a necessidade imperiosa de distanciamento social nos obriga a ficar em casa, por enquanto, vamos utilizando todos os meios de comunicação disponíveis, para abrirmos os olhos uns aos outros, nos animarmos uns aos outros, e irmos nos preparando para a grande arrancada libertadora, tão logo haja a possibilidade de nos manifestar e dar o grito da

Libertação: FORA OS INIMIGOS DO POVO! Fora os inimigos da Democracia Social, da Cidadania, da Dignidade de todos e todas, da Igualdade, da Justiça e da Paz.

Cristãos e Cristãs de todas as denominações, isso é, simplesmente, fazer acontecer o que pedimos no Pai Nosso: VENHA O TEU REINO! SEJA FEITA A TUA VONTADE ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU! PÃO EM TODAS AS MESAS! PERDÃO PARA E ENTRE TODOS OS PECADORES. VENCER A TENTAÇÃO MAIOR: O EGOÍSMO! LIBERTAR-NOS DE TODO MAL!  (cf Lc 11,2-4; Mt 6,9-13). Ação poderosa do ESPÍRITO em nós e através de nós, aqui e agora. AMÉM!

4 – Esta música, a mais recente composição do compositor nordestino Reginaldo Veloso, presbítero leigo das CEBs, surgiu tendo como inspiração a pandemia do Covid-19, que a humanidade enfrenta.

É a oração do Pai nosso revisitada, uma súplica ao Pai comum, para que possamos ver emergir um mundo novo, mais irmão, mais fraterno.

É entregue à Igreja no Brasil na semana de oração pela unidade dos cristãos. Quanto tem sido urgente a união entre os que crêem em Jesus! Quanto perdão precisa ser derramado entre nós!

A todos, uma boa semana de Pentecostes. Que o Espírito de Deus, qual promessa bendita, venha nos iluminar na construção deste mundo mais saudável.

Obs: REGINALDO VELOSO, presbítero leigo das CEBs (essa é minha condição eclesiástica atual, o que me deixa particularmente feliz)
– Membro do MTC (Equipe Maria Lorena – Recife)  (terminou meu “mandato” como “Assistente Regional”)

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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