III

Eita mania de limpeza! Nunca em sua vida, nem nos tempos de recém-casada, levou tanto tempo na faxina. Mas agora é que via gérmen em todos os lugares. Pensava consigo: “ainda bem que não consigo enxergar de verdade todos os gérmens que convivem conosco”. Agora era o medo irracional de que o famigerado vírus entrasse, sobrevivesse na sua casa e viesse pegar seus habitantes. Limpava automaticamente naquele movimento insano, sentiu sede e,  em gesto automático, bebeu toda água sanitária diluída naquele copo que deixou desinfetando…

          IV

Todos viram aquela mulher cair do nono andar. Todos pensaram que havia sido suicídio… somente ela sabia e infelizmente não contaria a ninguém… Diriam que não aguentou a pressão do isolamento… e ela só queria deixar a casa mais limpa. Assim, sentou-se na caixa do ar-condicionado para limpar a janela por fora…

Obs: A autora é poeta performática, membra da União Brasileira de Escritores (UBE), da Associação dos Amigos do Museu da Cidade do Recife (AMUC), parceira da Cultura Nordestina Letras e Artes. É integrante dos grupos “Confraria das Artes” e “Grupo de Estudos em Escrita Criativa”. Seus três primeiros livros publicados são coletâneas de poemas, Pura Impressão (2008), Um Coração que Canta (2011), Querido Diário Peregrino (2014). Seu quarto livro trata do gênero infanto-juvenil e é bilíngue: A menina e a árvore – The girl and the tree (2017). Seu quinto livro- Sessenta e um Poemas Para Uma Vida –  foi lançado em 2019. Tem participação em várias apresentações poéticas e performáticas. Contatos: www.bernadetebruto.com e [email protected]

Imagem da autora.