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Hoje vou falar sobre FÉ, essa senhora que está sendo posta à prova sempre, mas que, ultimamente, alguns dos que se dizem representantes de denominações cristãs, por suas posturas e comportamento, estão, realmente, exagerando e pondo em xeque a nossa fé. Não a nossa fé no divino, mas a nossa fé naqueles que se dizem representantes do divino.

Em fevereiro desse ano um padre da Arquidiocese de Olinda e Recife, através de seu Facebook, criticou o Papa Francisco de maneira desrespeitosa, quando ele recebeu o ex-presidente Lula no Vaticano.

Esse mesmo padre, em meados de maio, quando foi anunciado o Lock Down na Região Metropolitana de Recife, gravou um vídeo, largamente compartilhado,  dizendo que o Governo Estadual havia proibido as celebrações on line nas igrejas e disse uma coisa que me deixou cabreira: que essa proibição (que não aconteceu) abalaria a fé das pessoas.

E, dias depois, em uma reunião virtual, transmitida ao vivo, representantes de emissoras de televisão de inspiração católica, reunidos com o presidente, ministros e membros do Congresso, fizeram uma proposta, ao vivo, de vender suas próprias “almas”, oferecendo apoio ao governo federal em troca de verbas de campanha publicitária e outros benefícios para ampliação da rede dessas Tvs.

 Como a minha fé não se baseia em representantes do clero ou religiosos e religiosas de uma maneira geral, isso não me abala e não me surpreende. Fama, dinheiro, poder, são sedutores e têm ascendência sobre os que dizem abraçar uma causa, no caso a fé cristã, mas que ignoram o real sentido, a verdadeira proposta contida no evangelho que é partilhar e não acumular.

Desde a adolescência, quando fui apresentada à, então também adolescente, Teologia da Libertação, que enveredei por esse caminho e dele nunca me desviei. Acredito em um cristianismo que liberta, porque libertação é a proposta de Jesus Cristo. Quando ele diz em João 10, 10, “eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”, ele se dirigiu a toda a humanidade. E não apenas à uma parcela dela, caucasiana e rica.

Quando um representante de uma denominação cristã, seja católico ou evangélico, em lugar de partilhar alimento e vida, acumula bens, enquanto seus irmãos, muitas vezes ali do lado, passam fome, têm problemas de saúde, estão sem emprego ou uma moradia precária, está dado o sinal de alerta de que alguma coisa está muito, muito errada.

Fico me perguntando: como essas pessoas rezam o Pai Nosso? O que significa para essas pessoas a “opção preferencial pelos pobres”, direção deixada para os seus seguidores pelo próprio Jesus Cristo, em seu testamento, que pode ser lido através dos evangelhos?

Vou dar uma dica, essa deixada por Dom Helder Camara, em sua crônica OPÇÂO PELOS POBRES, escrita em outubro de 1976, para seu programa de rádio Um Olhar sobre a Cidade: “Opção pelos pobres é aceitar sofrer por eles, pela defesa dos seus direitos. Opção pelos pobres é não admitir a miséria que é insulto ao Criador”.

De todas as orações que ouvimos, desde criança, apenas uma, unicamente uma, nos foi ensinada pelo próprio Jesus. A oração ao Pai que Jesus nos disse que é Nosso. Nessa oração simples, curta, mas profunda, pedimos ao PAI NOSSO coisas muito sérias, essenciais à vida. Pedimos não pelo “meu pão”. Pedimos pelo “PÃO NOSSO”, pedimos pelo pão para todos e todas. Pedimos para que o Reino de Deus venha até nós, ou seja, que ele aconteça aqui e agora. Pedimos para ele perdoar as nossas ofensas da mesma maneira que nós perdoamos a quem nos ofendeu. Opa!! Será que a medida que queremos é mesma essa? Será que perdoamos o suficiente para pedir ao Pai Nosso que nos perdoe na mesma proporção?

E, para finalizar, vem o nosso pedido para que o Pai Nosso não nos deixe cair em tentação e ainda pedimos para que Ele nos livre do mal.

Pedimos muito e nos comprometemos pouco, essa é a verdade. Em toda a oração temos apenas dois compromissos: o de que vamos aceitar que seja feita a vontade do Pai Nosso e que o perdão a ser concedido seja proporcional ao perdão que concedermos. E, penso que, aí é que está o ponto crucial da oração: o compromisso NOSSO. E não apenas do Pai.

Pedimos para não nos deixar cair em tentação, mas não nos comprometemos a fugir da tentação, quando ela aparecer em nossa vida. Mas o fato de não fazer esse compromisso durante a oração, não nos livra de o fazermos em nossa vida.

Por isso, ao ver que padres, religiosos e religiosas, pastores, presbíteros, leigos, que se dizem comprometidos com a fé cristã e que dão excessivo valor aos bens materiais, me causa tanta indignação que, talvez, me cause dificuldade em rezar o Pai Nosso, porque é difícil perdoar a quem usa a palavra de Deus para benefício próprio, para acumular em lugar de partilhar e que, quando devia somar, divide, espalhando ódio, rancor, se contrapondo a quem, verdadeiramente, faz a opção pelos pobres.

Os meios de Comunicação de inspiração católica, cristã, deveriam evangelizar, divulgar a Palavra de Deus de maneira coerente com o evangelho e não se empenhar em divulgar o que vai de encontro à vida em plenitude.

Vender máscaras invisíveis, feijões de cura, desfilar com o ostensório pelas ruas e estimular a adoração de um Deus que não quer idolatria, quer respeito, pedir para que as pessoas doem a ajuda emergencial para a igreja e coisas do gênero, são, em minha opinião, crimes graves e essas pessoas deveriam ser processadas. Afinal o que são elas se não um Robin Hood às avessas, que tiram dos pobres para dar aos ricos?

Diante de tantos falsos profetas, hoje em dia munidos do poder das mídias, tradicionais e, mais fortes ainda, sociais, só resta pedir ao Pai Nosso que tenha piedade da gente, que ilumine o caminho dessas pessoas para que possam ser evangelizadas e convertidas e, assim, só assim, consigam entender o verdadeiro sentido das palavras do Seu filho, Jesus Cristo, quando diz que o maior mandamento de todos é o AMOR.

Obs: A autora é jornalista, blogueira e Assessora de Comunicação do IDHeC – Instituto Dom Helder Camara.
Site – jornalistasweb.com.br
blogs – misturadeletras.blogspot.com.br 

jornaloporta-voz.blogspot.com.br
encontrodapartilha.blogspot.com
 institutodomhelder.blogspot.com

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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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