5 – Todas as Pessoas Merecem Respeito e Condições de Ter Uma Vida Digna.

“Não se vendem cinco pardais por uma pequena quantia? No entanto, nenhum deles é esquecido por Deus.  Até mesmo os cabelos de vossa cabeça estão contados.  Não tenhais medo!  Vós valeis mais do que muitos pardais”.  (Lc 12, 6-7)

Na Campanha da Fraternidade de 1987 o tema era “Fraternidade e o Menor”, e o lema “Quem Acolhe o Menor, a Mim Acolhe”! (Mc 9, 37). A Campanha adotou o tema, Menor, por causa do grande número de meninos e meninas que se encontravam em situação de rua. Em conjunto com outros parceiros da época, aumentamos o contato e trabalho com esses menores. Em colaboração com o FUNCAP (Fundação de Crianças e Adolescentes do Pará) passamos a fazer os atendimentos em conjunto, principalmente quando um menino ou uma menina entrava em situação de conflito com a Lei.

Durante esta Campanha fomos convidados a dar palestras em vários lugares, principalmente nas escolas públicas. Este contato nas escolas ajudou a criar um certo vínculo com a sociedade, que nos ajudaria no curso, Orientação Para a Vida (OPV) destinado para os adolescentes e jovens das escolas do governo.

Com a coleta da Campanha da Fraternidade foi adquirido um terreno, onde passamos a nos reunir com a nossa clientela, mais de 100 crianças, adolescentes e jovens que acompanhávamos. O imóvel foi transformado para ser o nosso espaço permanente de encontros.

Irmão Ernesto Turk, da  Congregação de Santa Cruz e professor no Colégio Dom Amando, ajudou no plano da divisão do terreno (um antigo lixão e passagem de pedestres) de acordo com as atividades que queríamos desenvolver. Ele indicou o lugar mais favorável para a construção de uma casa onde teve inicio dos trabalhos com os jovens. A casa foi planejada para servir como secretaria/recepção, sala do diretor, banheiros da equipe e dos menores, sala dos educadores, refeitório, cozinha e depósito.  Mais tarde foi aumentado o tamanho da cozinha e depósito, acrescentado uma sala para a psicóloga e sala do assistente social.

 Até hoje essa casa ainda serve para atender as pessoas, principalmente na recepção das mães da PAMEN, que vêm encontrar alguém para uma orientação ou algo que precisam nas suas vidas e na vida familiar. Lá encontram alguém para escutá-las, sentem-se valorizadas como pessoas humanas e filhas de Deus. A elas são servidos merenda e, geralmente, levam alguns alimentos para ajudar em suas casas.

No ano de 2018 esta área foi  reestruturada graças a ajuda recebida da Congregação de Santa Cruz e do engenheiro e construtor, Roberto Branco.

No início de 1987 foram construídas duas malocas cobertas de palha, onde passamos a reunir com os menores que a cada dia vinha aumentando em número. Eles gostavam de chegar, deitar-se nos bancos das malocas e escutar músicas (principalmente as do Pe. Zezinho) em silêncio. No início do dia, esta prática ajudou para começar a direcionar as energias dos meninos para algo que dava mais sentido para as suas vidas.

As malocas serviram para que fossem desenvolvidos os primeiros cursos. Irmão Ricardinho da Congregação de Santa Cruz e professor de Biologia no CDA, deu as primeiras aulas de desenho e pintura, preparando os meninos para aulas de serigrafia. Irmão Ernesto Turk ajudava com aulas de desenho e cálculos. Nos anos “90”, com a entrada das meninas, Darenice Coimbra e a Olga Kzan davam aulas de dança nas mesmas malocas.

Quando mudamos para este novo local, tivemos que nos organizar para receber os meninos todos os dias da semana. Eles chegavam cedo e esperavam encontrar alguém que os recebessem. Precisamos colocar regras a respeito do que poderiam trazer para o nosso ambiente.

Proibimos entrarem com instrumentos de violência como faca, gilete, armas caseiras e de fogo, além de objetos roubados e drogas. Qualquer desobediência, neste sentido, merecia uma punição que eles sentiam muito: alguns dias sem poder comparecer conosco no Centro da PAMEN. Posso  dizer que não tivemos grandes problemas com eles para observarem as normas, pois não queriam perder a oportunidade de frequentar as dependências da PAMEN.

Também era necessário ter uma equipe mais permanente para atenderem esses menores e isso exigia pagamento de um salário. Precisávamos garantir o sustento do educador e a sua presença para atender aos menores. Além disso, os educadores precisavam de formação para poder desenvolver um trabalho diferenciado e exigente, com a mística própria da PAMEN. Alguns voluntários da AEC e da Catequese Escolar estavam disponíveis para ministrarem esta função.

Tivemos contato com o Padre Bruno, de Belém. Ele já tinha alguns anos de experiência atendendo menores. Ele tinha fundado o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR), e vários centros onde atendia os menores.  Após algumas visitas mútuas ele veio fazer um trabalho de formação em Santarém. O contato com o Padre Bruno continuou por vários anos e nos ajudou bastante para sabermos lidar com os menores em situação de rua.

Tivemos um trabalho em conjunto com a Juíza, Dra.  Maria Palheta e a FEBESP, com o apoio da Dra. Tércia, Procuradora de Justiça.

A Sra. Inêz Pinho de Carvalho era a responsável em articular as atividades em parceria com o MNMMR. Esta parceria incluía participação em encontros em Belém, Brasília e outros lugares, onde a presença de menores conscientes dos seus deveres e direitos, reivindicavam, junto aos Deputados e Senadores, ações que melhorassem o trabalho social da PAMEN. Entre os membros do Congresso sempre tinha políticos simpatizantes deste Movimento que agilizavam as nossas reivindicações. Mais tarde o MNMMR ajudou a preparar e aprovar o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) em conjunto com a PAMEN.

Padre Bruno visitava nosso Centro em Santarém para verificar como estávamos caminhando. Agradecemos seu apoio e as boas sessões de formação, importantes para a continuidade do nosso trabalho em Santarém.

Obs: Texto retirado do Livro do autor Pastoral do Menor, com a sua autorização.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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