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1 – Domingo do Bom Pastor
João 10,1-10

Ao longo dos quatro Evangelhos, Jesus, aqui e acolá parece dar uma parada pra se apresentar a seus discípulos e discípulas, revelando sua identidade e sua originalidade.

Ao longo do Evangelho de João, ele aparece, assim, mais de uma vez. Mas, o capítulo 10 deste Evangelho é particularmente significativo. Logo de início, Jesus se apresenta contrapondo-se aos que, de costume, se apresentam como “salvadores” do povo. Enquanto Ele se diz “porta” por onde as ovelhas entram e encontram segurança, ou saem em busca de pastos abundantes, que lhes propiciem vida em plenitude, conduzidas por um “Pastor” que só quer vê-las crescerem, os outros são todos um bando de “ladrões e assaltantes” que só querem dominar, tirar vantagem, sugar e matar.

Essa conversa vai continuar com novos lances, detalhes e enfoques, mas, por enquanto, já dá para a gente fazer uma boa reflexão, que nos permita discernir bem o que acontece, hoje, em nossas Igrejas e no conjunto das Religiões.

E a gente pode perguntar-se:

– Igrejas e Religiões estão sendo espaços de amadurecimento na fé, de imaginação e firmeza na esperança, de consciência de classe, espírito de iniciativa e luta, criatividade e empoderamento, no compromisso com sua comunidade eclesial ou religiosa, e com as grandes causas da Humanidade?…

– ou estão sendo currais de imbeciliza-

ção, onde o povo religioso só se ocupa de fazer o que mandam, repetir “ritos”, fazer e pagar promessas e “garantir o céu” pra depois da morte?

É bom, de cara, a gente perceber que o BOM PASTOR nada tem de “bonzinho”, nem a fé cristã, nada de adocicado e alienante…

 Um recado de PAPA FRANCISCO para os Bispos do Brasil reunidos em Assembleia:

 O padre Vilson Groh, que atua há três décadas na periferia de Florianópolis, espe-cialmente com crianças, adolescentes e jovens, foi recebido pelo papa no dia 16 de fevereiro passado (2017) e teve uma longa conversa com ele. O encontro foi marcado por forte emoção. Groh levou cartas das crianças ao papa: “As cartas diziam ‘o senhor é uma esperança para nós, que vivemos na periferia’. Elas pediram que orasse por elas, e contaram que havia muito sofrimento na periferia.”. Em resposta, o Papa gravou, no próprio celular de Groh, uma mensagem para as crianças. A seguir, “O Papa disse que a Igreja no Brasil e na América Latina é muito clericalizada (isto é, fica demais dependendo do clero, dos padres e bispos) e que é preciso romper com isso e abrir um tempo de prota-gonismo leigo” …  Francisco disse ainda: “É preciso se pensar, no Brasil, nas celebrações presididas por leigos formados, e não apenas por padres. O Papa disse que é fundamental ter em mente a formação de comunidades e que as Comunidades Eclesiais de Base são uma alternativa para a Igreja em saída”.

O Pe. Groh saiu da audiência vivamente impressionado com o Papa: “Creio que essa liderança do Papa começa a desinstalar a Igreja no Brasil, que ainda é muito para dentro, quando deveria ser para fora. A nossa vivência cristã não pode naturalizar a injustiça social. Nós nos acostumamos à miséria, à violência, à própria injustiça. Parece que não ouvimos o grito dos pobres. A espiritualidade de Jesus é itinerante, profética, ‘em saída’, ele vai ao encontro: exatamente do que o Papa deseja para a Igreja”. Retomando uma expressão cara ao teólogo Jon Sobrino, per-seguido por décadas pela Cúria Romana, Pe. Groh encerrou: “Viver o Cristo ressuscitado é abraçar os crucificados”.

O tema do protagonismo dos leigos é um dos eixos da 55ª Assembleia Geral da CNBB que está acontecendo até 5 de maio em Aparecida (SP – 2017). Dois dias antes do encontro do Papa com o Pe.Groh, o bispo emérito de Jales, Dom Demétrio Valentini, fez uma forte homilia, exatamente no Santuário Nacional de Aparecida, na qual apresentou a proposta de a CNBB assumir a figura dos presbíteros de comunidade, leigos, que passem a assumir a presidência da Eucaristia.        (reportagem Mauro Lopes)

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“MESSIAS” QUE NÃO FAZ MILAGRE NÃO É “O MESSIAS”!

Na terça-feira passada, 29.04, o Brasil somou 5.017 mortes por covid-19, segundo os números oficiais, e superou o total de mortos da China, país de origem da pandemia de coronavírus.Ao ouvir de gente da imprensa esse dado recente, o atual usurpador da Presidência da República assim reagiu:
-E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?
Sou Messias, mas não faço milagre!
Boa parte da opinião pública do país ficou estarrecida diante dessa reação. Inconsciente?… Desumana?… Irresponsável?… Cruel?… Qualquer um desses qualificativos, talvez, ainda deixe a desejar.

Desumanidade à parte, questionemos o “Mito”, eleito  numa eleição absolutamente adulterada, há quase dois anos atrás, como se fosse para muita gente um “Messias”, salvador da pátria. Efetivamente, este fulano que se adotou o título sugestivo de “Messias”, não passou no teste maior a que vêm  sendo submetidos todos os governantes do mundo. Pelas suas próprias palavras, demonstra que não se importa nada com o sofrimento extremo do povo, nesta hora. E esse é apenas o último de uma série de pronunciamentos desastrosos e estúpidos que o mesmo vem dando desde o início da crise, contrariando as orientações da OMS, desautorizando as diretrizes do próprio Ministério da Saúde, contradizendo as medidas tomadas pelos Governadores e Prefeitos dos Estados e Municípios da Federação, desorientando as pessoas e bagunçando a vida do país. Ele não só não faz milagre, como expõe ao risco de contágio, infecção e morte toda a população do país. Essa parece ser a missão genocida que o deus-Mercado, em tempos de  Neoliberalismo em crise, lhe confia, e ele efetivamente vai cumprindo, aos olhos inertes ou vacilantes das instâncias de Poder a Nação, de quem se esperariam atitudes firmes, rápidas e resolutivas.

Que diferença de Alguém que um dia assim se apresentou a quem, também num momento de  crise, o interrogava: “Vão e contem a João as coisas que vocês estão ouvindo e vendo: Cegos recuperam a vista e coxos andam; leprosos são purificados e surdos ouvem; mortos são ressuscitados e pobres recebem a Boa Notícia. E feliz aquele (aquela) que não se escandalizar por minha causa!” (Mt 11,5-6).

Eis o que caracteriza a identidade e autenticidade do verdadeiro Messias! Neste 4º. Domingo de Páscoa, ele se apresenta a nós como ”PASTOR” e “PORTA” das ovelhas, alguém comprometido com o bem das ovelhas… alguém que lhes oferece perspectivas de vida e felicidade… alguém que cuida, especialmente, das espoliadas, sofridas, abandonadas e lhes garante: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância!”

Mas é importante identificar esse Messias, Pastor e Porta, presente e atuante, hoje, aqui e agora, no meio da gente, na vida do povo. E, graças a Deus, são muitos os sinais de sua presença e atuação. É só ter “olhos de ver e ouvidos de ouvir”, para percebê-lo, por toda parte, primeiramente, em todas as pessoas que observam o isolamento social… em tantas e tão generosas inciativas de  voluntários, indivíduos e grupos, organizações garantindo à população mais desassistida, refeições, banho, material de limpeza e higiene pessoal, equipamentos de proteção, cestas básicas… na dedicação arriscada de Agentes de Saúde de todos os tipos e níveis, nas UPAS e postos de saúde, nos hospitais, nas ambulâncias e todo tipo de atendimento… nas lutas em todas as frentes dos Movimentos Populares, das Pastorais das Igrejas, dos Movimentos Sindicais, dos Partidos Políticos, comprometidos com as causas mais sérias urgentes do povo, da Classe Trabalhadora, nesta hora de tantos e tão grandes desafios. Aí estão os milagres! Aí estão os sinais! Aí está Messias, que se faz reconhecer pelos milagres,  Pastor que cuida do rebanho, Porta que se abre para a VIDA! Aleluia!

2 – Domingo d’Aquele que é Caminho-Verdade-e-Vida
João 14,1-12

A sabedoria popular nos alerta: “Quem não sabe para onde vai não chega a lugar algum!”. Hoje, como no tempo de Tomé e de Felipe, precisamos de rumo e de referências. Como cristãos e cristãs, a fé em Jesus que morreu e ressuscitou nos oferece o rumo e a referência.

Caminhamos neste mundo rumo ao REINO de DEUS, em outras palavras, a TERRA PROMETIDA, onde mana o leite da Justiça e o mel da Paz, coisa do Céu, que precisa acontecer na Terra, como nos ensinou o Mestre a pedir a seu Pai.

O ponto terminal da caminhada é Ele próprio, o PAI, que quer ser DEUS-COM-A-GENTE! (cf. Ap 21,3). E JESUS, ele próprio, é o CAMINHO. Ninguém chega lá, senão por Ele. Aliás, quem vê Jesus, vê o Pai. E quem crê em Jesus, quem vai por Ele, se empodera ao ponto de realizar, aqui e agora, juntamente como Ele, as obras do Pai, as ações de Deus, o Projeto da Vida, da vida em plenitude! Cultivar essa fé, caminhar por este rumo, adotar esta referência é o que buscamos a todo instante, todo dia, e muito especialmente no “Encontro de Irmãos” e na celebração da “Ceia do Senhor”… quando encaramos a vida, os “sinais dos tempos” (VER), à luz das Escrituras (JULGAR) e nos comprome-temos a fazer nossa parte (AGIR).

Respeitando todas as orientações do necessário DISTANCIAMENTO SOCIAL, com a luz da FÉ e a chama da ESPERAN-ÇA, mais do que nunca, nesses dias desafiantes, nesse tempo de trevas,  precisamos estar presentes às manifestações que se sucedem e multiplicam nas Redes Sociais… a todos os protestos… a toda expressão de luta da Classe Trabalhadora, do povo oprimido e excluído, contra as maquinações dos que conspiram contra a vida do povo. A seriedade e a coerência da nossa fé darão identidade, rumo e luz a nossa militância. Contra o VÍRUS, inconscientemente devastador, e contra seus conscientes e criminosos promotores, FÉ e RESISTÊNCIA, “em nome de JESUS!”

Obs: REGINALDO VELOSO, presbítero leigo das CEBs (essa é minha condição eclesiástica atual, o que me deixa particularmente feliz)
– Membro do MTC (Equipe Maria Lorena – Recife)  (terminou meu “mandato” como “Assistente Regional”)

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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