Recife, Rua Afonso Celso, 182- AP.902 – Tamarineira, 6 de abril de 2020.

O último suspiro                                                                                                           

Chegou à sua casa, embrulhado em um plástico, lindos pingos de açúcar! Deu água na boca.
Recordou da infância suspirando. Ajudava a mamãe a utilizar as claras que restavam de alguma receita, para transformá-la em neve branca misturada a raspas de limão. Depois, ficava parecendo uma linda nuvem branca, que era preenchida de potinhos verdes, e mais adiante era transformada em gotas salpicadas na forma para assar ficando parecida com pingos.  Uma gostosura poder degustar da infância agora tão longínqua. Não lembrou mais nada. Dos avisos, dos cuidados, da profilaxia… Foi seu último suspiro.

I

Recife, Rua Afonso Celso, 182- AP.902 – Tamarineira, 10 de abril de 2020.

Depois que tudo passou, suspirou aliviada. Olhou a sua volta e senti terrível espanto, como se agora se deparasse frente a frente com seu grande egoísmo. O que iria fazer com aquele quarto lotado de papel higiênico, guardanapos, lenços umedecidos, álcool gel e caixa e mais caixa de mascaras cirúrgicas?

II

Tudo limpo brilhando, reluzindo de tão esfregado o chão, os móveis, louças, talheres e panelas. Até os rejuntes dos azulejos e do chão estão embranquecidos! Olhou a sua volta. Nada! Não podia ficar sem fazer nada. Ficaria angustiada. Esse movimento era que estava garantindo a sua sanidade. Deparou com aquele lustre, sujo!!!! Maravilha. Foi correndo pegar todo kit de limpeza que colocou na mesa para seu projeto de limpeza e sem pensar, subiu na mesa de vidro para alcançar o lustre. Não queira saber o que ocorreu. Quando cabei esta história  vi a pobre tentando se agarrar no lustre suspenso num fragilíssimo fio….

Obs: A autora é poeta performática, membra da União Brasileira de Escritores (UBE), da Associação dos Amigos do Museu da Cidade do Recife (AMUC), parceira da Cultura Nordestina Letras e Artes. É integrante dos grupos “Confraria das Artes” e “Grupo de Estudos em Escrita Criativa”. Seus três primeiros livros publicados são coletâneas de poemas, Pura Impressão (2008), Um Coração que Canta (2011), Querido Diário Peregrino (2014). Seu quarto livro trata do gênero infanto-juvenil e é bilíngue: A menina e a árvore – The girl and the tree (2017). Seu quinto livro- Sessenta e um Poemas Para Uma Vida –  foi lançado em 2019. Tem participação em várias apresentações poéticas e performáticas. Contatos: www.bernadetebruto.com e [email protected]

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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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