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CARTA II

A meu amigo e irmão no presbitério, Everaldo

 Francisco
Um milagre da humanidade em tempos de lucro e vaidade

Vivemos numa época de uma forte contradição social… Um mundo em que a concentração de rendas é um clamor a Deus e para toda humanidade. Os afortunados mais ricos, os pobres mais miseráveis ….
O mundo passa por uma forte ausência de lideranças políticas e religiosas….
Os intelectuais diante do cenário mundial de grandes incertezas estão todos e todas em dúvidas sobre como se pode diagnosticar essa nossa realidade…
Os ignorantes e dementes ávidos de poder se enchem de certezas falaciosas para iludir o povo como arautos de más notícias, em defesa do capitalismo e da vaidade, onde o lucro é a medida de todas as coisas.

Temos um cenário econômico de expansão da fome em escala mundial. Os que são exilados aumentam no planeta. A natureza por todos os cantos do mundo está doente, o planeta está saturado de tanta poluição.

Aí, a natureza nos dá um milagre …. A humanidade parteja em seu seio, um ser humano… Francisco, o bispo de Roma. Onde toda a humanidade, sejam católicos, cristãos  de outras igrejas, os de outras religiões, devemos  aplaudi-lo em sua firmeza e coragem de, no vácuo das lideranças políticas, ser a nossa voz profética, que denuncia o mundo do lucro e da vaidade e anuncia um mundo novo de humanidade solidária comprometida com a justiça social.
Um ancião de lucidez humana, clareza intelectual, serenidade afetiva e de profunda centralidade mística. Esse velho bispo tem trazido profundas críticas ao nosso modelo capitalista de ser…. Nos convida a olhar os pobres, escutar as minorias e nos engajar na luta em defesa do planeta, na proteção da natureza, cujo capitalismo destrói em nome do acúmulo de riquezas. Ele tem se manifestado uma liderança em defesa da vida em todas as suas formas de ser no mundo, desde os microrganismos ao macrorganismos, o mundo humano e o planeta, habitat natural desses seres humanos que somos nós, precisamos ser incitados e nos engajar na defesa da vida.

Francisco um ser humano notável, que atento às minorias, toma para si o desafio de amor aos diferentes: negros, mulheres, índios, homoafetivos, os expatriados e, os empobrecidos pela ganância do capital financeiro, que gera guerras, acentuando os conflitos entre as culturas, para enfraquecer a resistência do povo na busca de alternativa diante do capitalismos.

O bispo de Roma, na sua senectude… Nos traz de volta a lucidez intelectual, nos exorta ao voltar no pensar, no buscar caminhos de humanidade para o nosso ser humano no mundo. Ele nos solicita na solidária relação humana a ver os sinais de mudança…. num pensar que traz da vida um mundo novo.

Somos desafiados a pensar nesses momentos de clausura. Mas, o pensar é sempre desafiador, mas, desde os tempos aurorias da humanidade o pensar nos chama a entreter e compreender o nosso ser no mundo. Somos chamando a encontrar como criar a nossa humanidade nos deixando ser interpelados pela vida, como nos falou o bispo de Roma, sim a vida é um nos interpelar, para que possamos encontrar uma compreensão para o nosso reinventar-se mediante as nossas possibilidades. Fico pensando: o que é mesmo pensar? E como o pensar nos é desafiador em tempos de crises profundas. Olhando para nossos antepassados, em todos os momentos da história da humanidade, foram sempre sacudidos intelectualmente pelos desafios da vida, e como foram obrigados a pensarem a encontrar uma compreensão para os seus dias nos tempos de outrora. Claro as velhas respostas nos são iluminadoras, no entanto temos de buscar uma nova compreensão para o tempo presente, despontando um futuro que nos seja humanizado.

Nesse momento a partir da fala de Francisco, me deixo ser interpelado no pensar, buscado deixar a vida no vislumbre dos meus olhos se manifestar. Temos que repensar e pôr severas críticas ao capitalismo, que pensa no lucro, acumulação e concentração de riquezas.
Amigo e irmão somos de tradição mística profética, que no partejo da fé, nos colocamos do perscrutar da existência, num amor à vida, nossa ética fundamental. E é olhando os princípios éticos que somos sacudidos pela vida ao pensar, auscultando o clamor da miséria no mundo inteiro. Como discípulos de Jesus o Senhor, temos e devemos usar todo o nosso entendimento para o pensar de um mundo novo. Viemos por muito tempo presos às pequenas utopias, elas nos são necessárias para manter viva a esperança do mundo novo que vem, mas chegou a hora de nos lançar na fé em águas, mas intempestivas diante da tempestade do momento presente. Temos que repensar tudo, nossos sonhos e esperanças, para uma nova leitura do amanhã que vem.

Essa peste não é só um desafio para as ciências biológicas. Ela é um desafio às ciências da natureza de forma geral, e sobretudo às ciências humanas. Temos aí a irracionalidade de muitos falsos lideres políticos que são de conluio com o capitalismo financeiro, a rejeitarem a inteligência. Não podemos nos iludir, eles vão tirar proveito quando a peste passar. Cabe a nossa inteligência, na firmeza do compromisso social com os seres humanos e com toda a vida no planeta pensar.

De minha parte amigo, estou no meu constante pensar uma outra proposta de modelo de racionalidade. Pois, a racionalidade metafísica que gerou a razão teológica, cartesiana e a razão científica e instrumental, ela se encontra em crise, já não consegue mais ler o mundo em sua complexidade, planetária e cósmica. Então nos perguntamos que modelo de racionalidade devemos partejar? Temos de reler a literatura dos antigos pensadores e ver o que ficou esquecido no pensar, que pode nos desvelar os mistérios da vida em seu novo falar. Sim é uma empreitada grande, porém excitante, para a nossa peleja intelectual. Empreitada essa, que não pode ser feita sozinho, é necessária a colaboração humana em todo o planeta, num mutirão da inteligência olhar os rastros do pensar no pensamento dos antepassados. Temos que nos voltar para toda tradição, seja ela ortodoxa ou não, pois os esquecidos pela racionalidade metafísica-científica também precisão ser visitados.

O velho bispo de Roma nos exorta ao diálogo, inter-religioso, ecumênico, social-cultural, político e intelectual. Nós, como intelectuais, precisamos responder a esse desafio, que a vida nos chama a pensar. Porque a vida é para ser vivida e pensada em nosso viver no mundo.
Outro sim, precisamos mergulhara na nossa tradição mística, judaicocristão, para nela nos voltar ao Paraíso originário, e ver o que ficou esquecido na nossa interpretação. Precisamos evocar o bafejo do Santo Espírito, para nele sermos interpelados ao interpretar as escritas, sabendo que elas foram escritas no bafejar do Santo Espírito, e é Ele que diz: ABBA, pai.

Em plena praça de São Pedro vimos os céus chorarem. O velho bispo escutando os sinos a badalar. O Divino em seu Amor nos abençoar… Venha a nós o teu Reino… um mundo novo vamos, na peleja da vida inaugurar. Que ser humano é ser humano se não transforma seu humano em um mundo melhor?

Maurício Soares
Auscultando o pensar,
No seguimento do Reino que vem

Obs: Imagem enviada pelo autor

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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