Dênis Athanázio 1 de abril de 2020

Como metáfora para a vida, comecei a pensar que existem pessoas que são vasos grandes de alma, nos dão espaço para crescer com elas e dentro delas, pois são húmus e terra fértil por natureza. Esses vasos acreditam no nosso florescer e alguns deles confiam mais em nosso potencial do que a gente mesmo.

Há alguns dias uma amiga estava me contando sobre os diferentes tipos de flores que cultiva em sua casa e, entre elas, a rosa do deserto. Só pelo nome já me encantei logo de cara. É muito enigmático e poético saber que uma rosa “decidiu” morar no deserto. Devido as suas diversas contingências para se viver, o deserto comumente carrega uma simbologia de tempos difíceis, escassez e luta.

Essa planta de nome bonito possui um caule bem desenvolvido em sua base para conseguir suportar fortes ventos e acumular água no difícil deserto africano. Assim como aquelas mulheres lindas e ao mesmo tempo letais dos filmes policiais que faziam os homens perderem as estribeiras, essa rosa possui uma seiva tão tóxica que é usada até hoje para caçar animais de grande porte por algumas tribos africanas.

Mas o que mais me chamou a atenção são as rosas do deserto vendidas e cultivadas em vasos. Seu crescimento é lento, e está diretamente ligada ao tamanho do vaso, que deve ser trocado a cada seis meses. Quanto maior o vaso, maior ela fica, mas se continuar no vaso pequeno, ela para de crescer e permanece no tamanho do vaso para sempre.

Como metáfora para a vida, comecei a pensar que existem pessoas que são vasos grandes de alma, nos dão espaço para crescer com elas e dentro delas, pois são húmus e terra fértil por natureza. Esses vasos acreditam no nosso florescer e alguns deles confiam mais em nosso potencial do que a gente mesmo. Eles não ficam sofrendo diariamente pelo medo de serem trocados por um vaso maior, pois entendem que suportam viver sozinhos ou que acharão outras rosas que caberão dentro do seu recipiente.

Os vasos pequenos de alma são aqueles que nos podam o tempo todo, são extremamente inseguros, não nos deixam crescer, pois temem o abandono. Esses nos diminuem o tempo todo quando percebem que podemos ficar maiores, então nos sufocam e achatam nossa existência até cabermos no mundo pobre deles, e assim como a rosa do deserto em vaso pequeno, acabamos por acreditar e aceitar que chegamos ao nosso tamanho final.

Mesmo sofrendo, inconscientemente muita gente prefere o “conforto” dos vasos pequenos por já conhecer o tamanho dele e, se trocá-lo, poderá se sentir perdido ao novo e maior ambiente que na sua fantasia pode ser aterrorizante.

As pessoas que conseguem aos poucos se olhar e ver que estão sendo diminuídas e impedidas de crescer começam a sentir um desconforto positivo, desses que nos fazem sair do lugar, forçar as grades e voar. Você olha para a sua história, lembra de onde veio e percebe que resistiu ao deserto e mesmo balançando, permaneceu de pé. Pessoalmente, sempre vi mais beleza na permanência do que no começo ou no fim de qualquer processo existencial.

Não sabemos o que acontecerá ou o que sentiremos após esse grito solitário de liberdade, pois experienciamos algo nunca visto, ou como canta Humberto Gessinger, “não tenho para onde ir, mas não quero ficar”.

Não podemos nos iludir, em algum momento de nossas relações podemos ser o opressor e o algoz, e, em outro, o oprimido e a vítima. Pra se ter essa consciência e buscar ser esse ambiente de crescimento e criatividade ao outro e a nós mesmos, temos que ter humildade (que vem do Latim humus, “terra”), palavra essa muito falada da boca para fora e não “digerida” da boca para dentro.

Corajosa e amorosamente devemos também entender o nosso limite e que podemos não ser o vaso que o outro precisa para o momento. Existem outros tantos vasos e flores no mundo e é muito perverso continuarmos com os que sabemos que não nos cabe ali.

Uma coisa é certa: ao se relacionar com um vaso grande de alma, você jamais será o mesmo, não mais desejará migalhas alheias, nem pessoas ao seu lado que o tempo todo te prejudiquem, diminuindo a sua potência de vida e lhe tirando a esperança. Quem felizmente encontrou alguém para dividir uma vida criativa com terreno fértil para crescer, florescer e vir-a-ser sabe que não estou exagerando. O único arrependimento é o de não ter tentando achar esse alguém antes.

Einstein escreveu de forma mais poética: “A mente que se abre a uma nova ideia, jamais volta ao seu tamanho original.”

Obs: O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.
Imagens enviadas pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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