Estou entre aqueles que entendem que o valor de uma sociedade pode ser medida pela maneira com que ela trata e acolhe seus membros mais vulneráveis, incluindo os idosos. Por isso, escrevo as linhas que se seguem. Durante meus estudos, na Inglaterra, para obtenção do meu título de Ph.D, esbarrei com esta “filosofia”, prima irmã do movimento eugênico (racismo internacional), muito popular no fim do século XIX e no início do século XX (até a Segunda Grande Guerra Mundial) e que, basicamente, tenta explicar (e defender/justificar) que também, na sociedade humana, os mais “fortes”, os “melhores” e os “superiores” são os que sobrevivem e governam. E que assim deve ser. E se a sociedade desperdiçar tempo, gastos e preocupações com os mais vulneráveis, ela acabará involuindo. Alguns membros dessa corrente chegam a defender que é inaceitável permitir que os incapazes e inferiores sobrevivam e se multipliquem. Os Darwinistas Sociais nunca desapareceram, mas ficaram “camuflados”, no “submundo”, depois que um deles, juntos com seus partidários, fez o que fez durante o nazismo. Mas não é que eles estão de volta! Tenho visto e ouvido “coisas” de autoridades brasileiras e de conhecidos, inclusive de muitas lideranças e formadores de opinião, dignas dos melhores teóricos dessa corrente de pensamento. Defendem, alguns ardorosamente, que se deve deixar o vírus se espalhar, “imunizando a população”, não se realizando nenhum confinamento social e que devemos ter uma vida normal, apesar da pandemia, com tudo funcionando. Em verdade, eles estão, subliminarmente, defendendo que se deixe morrer os mais vulneráveis e passemos “ao largo”, indo adiante, “virando rapidamente essa página”, apesar desse, vamos dizer assim, “pequeno dano colateral”, isto é, a morte de milhares de pessoas.E não são poucos. Valei-me Nossa Senhora! Aos concidadãos e autoridades brasileiras que estão com esse posicionamento, um aviso: vocês não tem idéia de com quem vocês estão se metendo. Essa gente, os darwinistas sociais e eugênicos, é barra pesada, poderosa, fanática e com profundas convicções pseudocientíficas. Hoje, vocês defendem que os vulneráveis brasileiros “se explodam”. Solidariedade a eles, só no discurso. Ações concretas, zero ou quase isso. Mas garanto a vocês que os darwinistas sociais e os eugênicos têm o mesmo sentimento por vocês, por mais que vocês estejam convencidos do contrário. Para eles, nós, mestiços, latinos, negros, índios, somos a “escória” da sociedade humana, responsável por todos os seus problemas e um perigo para ela. Por mais que “finjam” serem seus aliados, no fundo, eles vos desprezam. Se não conseguem ter compaixão com os mais vulneráveis do povo brasileiro, pensem ao menos nos seus próprios descendentes, que cada vez mais farão parte de nossa maravilhosa mistura genética e cultural, e que são, e serão vistos por eles, como o “esgoto” do mundo e que, portanto, também devem ser deixados de lado, exatamente como vocês estão fazendo com a população brasileira. ps: esse texto é em homenagem a minha recém chegada neta, Marina, e aos colegas profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate a essa tragédia que se abate sobre nós, honrando nossos juramentos e valores, e que, provavelmente, como na Espanha, serão cerca de 10% dos acometidos pela Covid 19 em nosso querido país. Que orgulho tenho de vocês! Valeu! Muitão! Bora continuar tentando salvar vidas e fazendo nosso melhor! Beijo no coração de cada um de vocês! Ah, e se vocês não merecem uma gratificação por risco de vida, não sei quem a possa merecer!

Obs: O autor, Prof. Dr. Aurélio Molina, Ph.D pela University of Leeds (Inglaterra) é membro das Academias Pernambucanas de Ciências e de Medicina, professor da UPE, Coordenador do Programa Ganhe o Mundo.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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