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Meus queridos amigos

Um gerente de fábrica se converteu e, no entusiasmo da conversão, disse um dia: “quero que o ruído das máquinas da minha fábrica se torne hino ao Deus, e que a fumaça de nossas chaminés lembre incenso”.

Tive a confiança de oferecer-lhe esta meditação: para que em tua fábrica, como desejas, os ruídos das máquinas se tornem hino ao Criador e Pai e o fumo das chaminés lembre incenso, é indispensável que tuas máquinas não triturem vidas e que o rolo negro que tuas chaminés vomitam não esteja impregnado do ódio e da revolta de teus trabalhadores.

Ele não escondeu a surpresa e a revolta que minha meditação lhe causou. E perguntou: “o Senhor pensa mesmo que as máquinas de minha fábrica trituram vidas, e pensa que há ódio e revolta dos trabalhadores contra mim?” E acrescentou: “queria que o Senhor visse a festa que eles me fazem no meu aniversário”.

Sem sombra de amargura e sem pretender julgá-lo e, ainda menos condená-lo, lembrei em que sentido as máquinas da fábrica dele trituram vidas. Ele, para aguentar a concorrência de fábricas modernas, que tem máquinas moderníssimas, foi obrigado a comprar máquinas que, segundo ele diz, só faltam falar. Sei que a concorrência é implacável. O sistema é cruel. Quem não entra nele é devorado.

Perguntei então: você se lembra do número de trabalhadores que você tinha? Você se lembra cada máquina moderna e ultramoderna quantos trabalhadores despediu? Ele reagiu rápido: “mas todo trabalhador dispensado saiu com todos os direitos respeitados…”

Aqui está uma das grandes ilusões — a de que adianta, ao ser dispensado, sair com uma soma de dinheiro como nunca o empregado dispensado tinha tido nas mãos, quando se sabe que, em dois tempos aquele dinheiro voa. É terrível o desemprego. É terrível o subemprego. É super terrível o boia-fria…

Ah! Se todas as pessoas de boa fé, bem intencionadas, se unissem para ajudar-nos a mudar, de modo pacífico, mas corajoso e decidido, as estruturas que acabam esmagando mais de dois terços da humanidade! Quarta-feira, 31.1.1979

Obs: *Mais uma das crônicas escritas por Dom Helder Camara para o seu programa de rádio UM OLHAR SOBRE A CIDADE, exibido na rádio Olinda às 06h55 de 01 de abril de 1974 a 22 de abril e 1983. Está crônica está publicada no livro “Meus Queridos Amigos”, que reúne 200, das centenas de crônicas lidas por Dom Helder ao longo dos nove anos de duração do programa.

 Imagem e texto enviados pelo IDHEC – Instituto Dom Helder Camara
. Ver AUTORIZAÇÃO do IDHEC no item OBRAS LITERÁRIAS.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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