Lourença Lou 1 de abril de 2020

há dias vivo a rotina
de café com leite e tédio
almoço entregue ao porteiro
e sobremesa roubada à capitu

leio versos de Emily Dickinson
invento gatos e lebres
cochilo com o repetir das notícias
e choro a fome de calçadas

há dias acordo nítida e funda
e finjo que não dói
ver toda uma geração
se extinguir nos respiradores

finjo que não dói desconhecer
em que nó da corda estarei
quando me for permitido escolher
entre âncoras ou velas ao vento

quando entendi que
sou menor que uma ervilha
me rendi à provisoriedade da vagem

quando entendi que
sou menor do que um vírus
entrei numa concha vazia de planos.

Obs: A autora é mineira. Formada em- Letras pela UFMG, pós-graduou-se na UEMG em Administração Escolar. Às vezes é prosa, outras, poesia. Participou de várias coletâneas, Livro da Tribo, revistas e jornais literários, impressos e virtuais, com poemas, crônicas e contos. Publicou três livros de poesia pela Editora Penalux: Equilibrista (2016), Pontiaguda (2017), Náufraga (2018). Ainda este ano publicará seu primeiro livro de contos e o quarto de poesia.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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