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domsebastiaoarmandogameleira.com

O negro véu
da noite ao cair
nos envolvia em trevas
que ainda mais escuras
pareciam, sombras
contra as luzes da cidade.

Ao cruzar as vias
o sinal luminoso
indicava caminhos
diferentes
que se cruzam.

De repente
inesperada visão
de crianças
irmãos no sangue
e na sina
saídas da noite
quais anjos
quase negros:
o mais velho, adolescente
costas vergadas
coluna feito plataforma
projetava o pequeno
malabarista do fogo
arte de circo
em improvisado palco

súplica viva
na mimosa coroa
de jasmins coloridos
a enfeitar o retrovisor
de automóveis
saídos do luxo
do brilho de vitrinas
ofuscantes
ofensivas
agressivas
àqueles rostos infantis
tristes
cansados
apagados.

Prosseguimos rua afora
costas – agora nós – vergadas
sob o peso
de absurda impotência:
esmola engana
mascara, vicia
negá-la
receber sem dar
faz sofrer muito mais
sentir de crueldade
a vergonha de quem pode
frente a frente
desmascarado
definitivamente julgado
por quem não pode…

Carregamos nas mãos
em concha
quais relíquias sagradas
aquelas singelas flores
pétalas murchas
de lágrimas não choradas
de nossas contradições.

19.09.2015 (Após termos visto, Madalena e eu, em sala de cinema do Shopping Center Recife, o filme “Que horas ela volta?”, com Regina Casé)

Obs: O Autor é Bispo Emérito da Diocese Anglicana do Recife
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – IEAB….
É Teólogo e Biblista
Assessor do CEBI, de lideranças de Comunidades Eclesiais de Base e de Escolas de Fé e Política

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