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Quem conhece a trajetória de Dom  Demétrio Valentini tem consciência de que foi ele quem colocou Jales no mapa. Antes dele, confundia-se Jales com Lajes-SC. Por conta de sua atuação em nível nacional na Coordenação das Pastorais Sociais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, presidente da Caritas Brasileira, membro titular co Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, órgão de assessoramento da Presidência da República e, em nível internacional, em inúmeros conclaves como o Conselho Episcopal Latino-Americano, Jales ficou conhecida.  

 Fluente em cinco idiomas, autor de livro e de inúmeros textos que repercutiram dentro e fora do Brasil, mais longevo articulista-colaborador do Jornal de Jales, o prelado completou 80 anos na última sexta-feira, dia 31 de janeiro. Dois dias antes, ele foi ouvido pelo J.J. (D.R.J.) 

J.J. – Que tal chegar aos 80 anos?

Dom Demétrio – Para mim a surpresa não foi tanto chegar aos oitenta. Surpresa maior foi constatar como tanta gente quer celebrar esta façanha de completar mais uma década. Se dependesse de mim, já estaria convidando a todos para celebrar os 90. Mas como não sei se vou fazer outra proeza igual, concordo com o pretexto dos 80.   Vamos fazer festa e nos alegrar, agradecidos a Deus pelos anos que vamos vivendo.

 J.J. – Como tem sido sua rotina após se tornar bispo emérito?

Dom Demétrio – Estou residindo em Jales, na casa que a Diocese construiu para ser a “casa do bispo emérito”. Continuo inserido na vida da Diocese, participo de diversas celebrações, e sempre encontro o que fazer, diante da pergunta que Dom Luciano costumava fazer: “em que eu posso ajudar?”

J.J. – Por que o senhor escolheu ficar em Jales após a “aposentadoria”?

Dom Demétrio – Podia escolher entre a Diocese de origem, no caso a Diocese de Erexim. Ou a “diocese de destino”, no caso a Diocese de Jales.

Optei pela Diocese de Jales, onde fui bispo durante 33 anos. De certa maneira, continuando a dimensão missionária do chamado que Deus me fez, me destinando a ser bispo de Jales.

J.J. – Fazendo uma retrospectiva, qual o grande legado de seus 33 anos à frente da Diocese de Jales?

Dom Demétrio – Deu para consolidar a vida da Diocese, fortalecendo sua organização pastoral e sua administração financeira.  A Diocese de Jales está agora muito bem servida, com suas diversas estruturas pastorais, e com a capacitação de muitas pessoas, viabilizando a participação de todos na vida da Igreja.

Um dado concreto espelha bem a caminhada realizada: quando cheguei, só havia dois padres que eram diocesanos. Durante meus 33 anos de bispo tive a alegria de fazer 42 ordenações sacerdotais. Agora a Diocese conta com um presbitério consistente e diversificado.

J.J. – O senhor mantém contato permanente com o atual bispo, Dom Reginaldo Andrietta? E com os padres e religiosas da diocese?

Dom Demétrio – Uma das graças sempre desejada nas dioceses vacantes, é o bom entrosamento com o novo bispo que chega, com a situação encontrada na Diocese. Graças a Deus o novo bispo foi muito bem recebido, facilitando a continuidade da ação pastoral e ao mesmo tempo enfrentando as novas situações que vão aparecendo.

Com os padres, depois de minha renúncia, ficou facilitado o relacionamento de estima e amizade, que julgo muito importante.

J.J. – O que o senhor tem achado do pontificado do Papa Francisco?

Dom Demétrio – E´ um grande Papa, e a história se encarregará de comprovar. Ele vem enfrentando, com firmeza e ao mesmo tempo com muita paciência, as situações de descontentamento no interior da própria Igreja, que procedem geralmente de pessoas marcadas por tendências fundamentalistas.Esperamos que Deus lhe dê muita saúde e sabedoria para conduzir a barca de Pedro, mesmo em tempos de ventos e tempestades!

J.J. – Quando estava na ativa, o senhor chegou a integrar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, órgão de assessoramento da Presidência da República. Tem falado com o ex-presidente Lula?

Dom Demétrio – Não, faz muito tempo que não mantenho contato com pessoas ligadas à situação política.

J.J. – Qual sua impressão do governo do presidente Jair Bolsonaro?

Dom Demétrio – Às vezes acontecem situações inesperadas, onde algumas pessoas acabam assumindo responsabilidades para as quais não estavam preparadas. A sorte lhes dá uma preciosa oportunidade de mostrarem que se tornam capazes de superar suas limitações, e de  prestar um serviço válido para a sociedade.

Que o Presidente Jair Bolsonaro aproveite bem esta oportunidade, e mostre que é capaz de melhorar o que ele pensa, o que ele diz, e o que ele faz como Presidente do Brasil.

J.J. – O senhor participou ativamente da vida comunitária, inclusive integrando comissões que foram a São Paulo e Brasília fazer reivindicações. Em sua opinião, Jales melhorou ou piorou durante os seus 33 anos como bispo?

Dom Demétrio – Jales se consolidou como “centro de região”, pois na verdade Jales não seria viável sem o peso econômico dos municípios que a circundam.

 Mas, como todo o País, Jales sofre uma estagnação, que requer uma permanente atenção para valorizar ao máximo os recursos disponíveis. Jales precisa aprender a administrar a precariedade, para amenizar a crise já existente, e evitar o seu agravamento.

J.J. – Se tivesse que começar tudo de novo, o senhor trilharia o mesmo caminho?

Dom Demétrio – Sim e não. Continuaria buscando consensos para administrar os desafios existentes. Mas certamente precisaria encontrar novas soluções para os problemas novos que se apresentam.

Aproveito para agradecer a todas as pessoas, que me confortaram de maneira surpreendente com a calorosa celebração dos meus 80 anos de vida.

A gente continua se desejando “Ad Multos Anos”. Pessoalmente já tenho meus “muitos anos”. Mas se Deus me conceder ainda outros, aceito com alegria, e agradeço de coração! 02 de fevereiro de 2020

Obs: O autor é Bispo Emérito de Jales.  

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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