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ALELUIA! O AMOR VENCEU A MORTE! ALELUIA!

 1 – ALELUIA!

 Esperamos 40 dias para voltar a cantá-lo.
E cantar “Aleluia!” é mais que entoar um louvor qualquer, por qualquer motivo.
Cantar “Aleluia!” é um canto de vitória, é louvar o Deus verdadeiro, Aquele que é!
Cantar “Aleluia!” é se alegrar por Aquele que não ilude nem decepciona.
Cantar “Aleluia!” é felicitar-se por Aquele que está sempre presente, o Eterno Companheiro, Aquele que nunca falta.
Cantar “Aleluia!” é celebrar Aquele que ouve sempre os clamores dos oprimidos e excluídos, que têm fome da sua justiça.
Cantar “Aleluia!” é saltar de alegria, como Maria, por Aquele que está sempre passando para libertar e conduzir para a Terra Prometida.
Assim foi no Egito, no tempo de Moisés, quando o povo hebreu amargava a escravidão. Assim foi na vida de JESUS de Nazaré, o carpinteiro filho de Maria e de José, que anunciou o Reino de Deus aos empobrecidos, denunciou a hipocrisia religiosa e todo tipo de preconceito e exclusão, foi perseguido e crucificado, e ressuscitou ao terceiro dia para nos trazer a PAZ, a reconciliação, a vida nova e a esperança de um Mundo Novo e da Vida em plenitude! Cantar “Aleluia!”, enfim, é celebrar a “passagem” de Deus na vida de uma Igreja que, seguindo a Jesus no caminho da Cruz, se compromete com a transformação da Sociedade, colocando-se generosa e corajosamente a serviço do Bem Comum, solidarizando-se com as lutas dos Movimentos Sociais Populares por Políticas Públicas que atendam às necessidades básicas dos que mais precisam, nessa conjuntura de pandemia:

– garantia de emprego para todos os/as empregados/as…

– garantia de ajuda emergencial para todos/as os/as informais…

– garantia de equipamentos de proteção individual para todo/as os/as agentes de saúde, em serviço aos infectados/as…

– garantia de informação veraz e pontual, impedindo a divulgação de gestos e palavras que confundem a população e sabotam as orientações das autoridades sanitárias…

– garantia de vigilância e segurança sanitárias para que se cumpram as medidas de distanciamento e isolamento social, evitando o alastramento do vírus…

 2 – O APAGÃO LITÚRGICO
Quando uns sinais se apagam, para que outros sinais despontem!

 “A noite é bela, porque somente durante a noite, é que
podemos enxergar as estrelas”
Card. Suenens

Uma Semana Santa diferente. Uma oportunidade inédita de aprendizado. A graça do momento! Porque, para quem tem a felicidade de ter “olhos de ver” (cf Lc 10,23), “tudo é graça!”.

De fato, o povo de cultura cristã, especialmente, a Igreja Católica, ao longo de séculos, vem desenvolvendo uma prática religiosa centrada nos Sinais Sacramentais, apostando tudo nas celebrações dos Sacramentos, sobretudo da Eucaristia. Nessas atividades celebrativas,  esgota-se a maior parte dos recursos e esforços humanos e pastorais, o tempo maior de ação e dedicação dos presbíteros. É o que a crítica teológica denomina de “sacramentalismo”.

Alertados e instados pelas autoridades sanitárias de todos os níveis e em todos os recantos do Planeta, as Igrejas, as autoridades eclesiásticas, com lamentáveis e temerárias exceções, quase que consensualmente, orientam seus fiéis a ficarem em casa, porque, no momento, a barreira mais eficaz à disseminação do vírus é o distanciamento ou isolamento social. Todos os grandiosos eventos religiosos da Semana Santa, estão sendo cancelados, ou reduzidos a celebrações com a presença de um número mínimo de pessoas, transmitidos pela mídia convencional ou pelas redes sociais. Do Vaticano à mais pequenina capela, nos rincões mais remotos, é assim que se vem procedendo, desde o Domingo de Ramos. É um verdadeiro “apagão litúrgico”.

Essa percepção me ocorre, justamente, quando me ponho a refletir sobre a mensagem desta Quinta-Feira Santa. É no mínimo curioso que o quarto Evangelho, escrito por João, ao narrar a Última Ceia, no clássico cap. 13, descreva, com detalhes a cena do Lava-Pés, e omita o que é destaque nos três Evangelhos sinóticos, repetindo o que escrevera Paulo no cap. 11 da sua primeira Carta à Comunidade de Corinto: a partilha do pão e do vinho, em sua memória. Ambas as leituras são proclamadas na celebração desta noite.

Segundo João, depois de ter lavado os pés dos discípulos, Jesus, conclui: “Pois bem, se eu lavei os pés de vocês, eu que sou o Senhor e o Mestre, vocês também devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam do modo como eu fiz (…). Se vocês entenderem isso, serão felizes se o praticarem” (Jo 13,14-15.17).

De olho nas palavras de Jesus reportadas por João, vamos ler, como que, em paralelo, quanto relata Paulo: “De fato, eu mesmo recebi do Senhor aquilo lhes transmiti. A saber: Na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus pegou o pão, e dando graças o partiu e disse: ‘Isto é meu corpo, que é para vocês. Façam isto em memória de mim’. Do mesmo modo, depois de cear, pegou também o cálice e disse: ‘Este cálice é a nova aliança no meu sangue,  façam isto em memória de mim’” (1Co 11,23-25).

O mesmo Jesus que, na Ceia narrada por João, lava os pés dos discípulos, aparece em Paulo e nos três primeiros Evangelhos, tomando o pão e o vinho, entregando-lhes, como alimento, seu corpo e seu sangue… O mesmo Jesus que em Paulo e nos sinóticos sentencia “façam isto em memória de mim”, é Aquele que, no Evangelho de João, ordena “vocês também devem lavar os pés uns dos outros”; e acrescenta como “bem-aventurança”: “Se vocês entenderem isso, serão felizes se o praticarem”.

Não é difícil imaginar que João, tendo escrito seu Evangelho depois de todos os demais, tenha querido alertar as Comunidades cristãs para o essencial, talvez já não tão claramente percebido, como se dissesse: “Queridos e queridas, não adianta comer o pão e beber o cálice da Ceia do Senhor, se vocês não lavam os pés uns dos outros… Se vocês não cuidam uns dos outros… Se vocês não fazem o que sugeri na parábola do Samaritano… Se vocês não estão dando a vida uns pelos outros como eu dei por vocês (cf Jo 15,12-14). Não adianta comer a Ceia em minha memória, se vocês não praticam o lava-pés no dia a dia.

Será, então, que a oportunidade, a graça que Deus nos está concedendo neste momento de “apagão litúrgico”, é justamente essa: “Aproveitem esse momento de não poder celebrar os Sacramentos, a Eucaristia, para perceber tudo quanto está acontecendo no meio de vocês (queira Deus!) e ao redor de vocês!?… Tanta gente se desdobrando para fazer sua parte, colocando-se a serviço de quem mais precisa, nesta hora de calamidade pública: arrecadação de cestas básicas, preparo e oferta de refeições ao povo da rua, confecção e distribuição de máscaras; Sindicatos de Trabalhadores/as, Movimentos Populares, Parlamentares, Governadores, Prefeitos e Juízes, e o próprio Ministro da Saúde, unidos na garantia de direitos da Classe Trabalhadora e de medidas abrangentes e eficazes de proteção para toda a população, especialmente os mais vulneráveis; e, sobretudo, Agentes de Saúde, dedicando-se no limite de suas forças, alguns, algumas literalmente dando suas vidas pela salvação do seu povo. Que beleza ver os agentes de saúde, médicos/as, enfermeiros/as e demais servidores/as homenageados/as em todo o Brasil e pelo mundo afora. Que emocionante vê-los reverenciados na China, como “Mártires do Povo”. Eis aí o Lava-Pés: o mandamento de Jesus sendo posto em prática! Eis aí a “presença real de Jesus” na vida, no dia a dia do povo! E somente essa “presença real” de Jesus na vida do povo, é que consubstancia e autentica a “presença real” Jesus na celebração eucarística.

Parece que o aprendizado da hora é este: Deus nos está convidando a fazer uma pausa altamente pedagógica. Aos que durante tanto tempo fomos tão assíduos na celebração da Santa Missa… aos que estivemos durante tanto tempo encantados, adorando a Jesus na hóstia consagrada… aos que até agora só o enxergamos nos “Sinais Sacramentais”, ele nos convida a abrir os olhos para os “Sinais dos Tempos”, todos esses gestos de solidariedade que se multiplicam e ampliam, perto de nós e pelo mundo todo, “pois tive fome e vocês me deram de comer, tive sede e me deram de beber, era estrangeiro e me acolheram, estava nu e me vestiram, estava doente e me visitaram, estava na cadeia e vieram me ver” (Mt 25,35-36).

Oxalá a Humanidade, países e mundo globalizado, indivíduos e sociedade, saiamos todos/as mais humanizados/as, capazes de construir um novo Sistema, que mantenha o  Planeta saudável e sustentável; as Economias, solidárias; as Políticas, clara e decididamente, a serviço do Bem  Comum, do Bem Viver!

E as Igrejas e Religiões santifiquem e honrem  o nome de Deus, Pai-e-Mãe de todos e todas nós,    colocando-se a serviço da “Vinda do Reino do seu Reino”, na medida em que se consagram à realização a sua santa vontade “assim na terra como no céu”, isto é, servir à  causa da Vida em plenitude! (cf Jo 10,10). Neste sentido, nós católicos, nesta Quinta-Feira Santa, poderíamos edificar-nos com as palavras de uma santa muito querida, que no final de sua breve existência, escrevia: “Sem dúvida, é uma grande graça receber os sacramentos; mas, quando o Bom Deus não o permite, está bem do mesmo jeito. Tudo é graça”.

3 – CELEBRAR A PÁSCOA, EM TEMPOS DE PANDDEMIA.

Páscoa é a festa maior dos judeus e dos cristãos.
Os judeus celebram a passagem libertadora de Deus,
quando os israelitas sofriam a escravidão no Egito
e puderam atravessar o mar, a pé enxuto, liderados por Moisés,
saindo deserto afora, em demanda da Terra Prometida!
É a festa da Vida e da Liberdade.
O povo cristão celebra a passagem libertadora de Deus
na escuridão do sepulcro em que jazia Jesus de Nazaré,
ressuscitando Aquele que dera sua vida por amor à Humanidade!
Da Páscoa antiga, resultou a libertação política de um povo.
Da nova Páscoa, resulta a libertação profunda
do coração do ser humano, com todas as consequências:
Aqueles e Aquelas que creem no Ressuscitado e vão por Ele
se libertam do egoísmo, raiz de toda injustiça e violência,
aprendem a servir e dar a vida pela felicidade do seu povo, e ensaiam um Mundo Novo,
onde as pessoas passam a ter um só coração, uma só alma,
e cultivam atitudes e estruturas de partilha e solidariedade,
de maneira que ninguém passe necessidade
e todos repartam entre si, na liberdade e com alegria, o pão da fraternidade.
É a festa da nova Criação, do recomeço de tudo!
É uma retomada, na fé, do caminho iniciado por Abraão…
É uma nova experiência de libertação, de caminhada para a Terra Prometida!
É a realização das antigas Profecias!
É o novo Ser Humano, que renasce da conversão, da mudança de vida,
celebrada pelo Batismo na Morte-e-Ressurreição do Senhor!
É o Mundo Novo que se alimenta na Ceia do Pão e do Vinho,
Sacramento maior do Corpo e do Sangue, da vida entregue por nós!
Em torno da Mesa do Ressuscitado, experimentamos sua PAZ,
e nos apressamos, na força do Espírito do Cristo, em retomar os caminhos do cotidiano,
anunciando por toda parte esta mesma Paz,
por um novo estilo de vida, por uma militância que não se cansa de lutar,
por uma vontade eficaz e criativa de fazer o AMOR acontecer
em todas as expressões e estruturas da vida humana, aqui e agora!

E que sentido tem tudo isso, em tempos de pandemia?…
Há alguma coisa no ar, mais forte que o vírus da morte…
Mensagens nos chegam de toda parte, e nos surpreendem pelo forte teor de ESPERANÇA:
Vamos sair dessa, indivíduos e sociedade, diferentes, melhores,
mais humanos e humanas, mais solidários e solidárias…
Desenha-se uma nova Economia, que, não só preservará o que resta do Planeta,
mas resgatará tudo quanto andou sendo devastado e poluído…
e que compartilhará por igual os recursos da Terra e os frutos do Trabalho,
garantindo que cada pessoa contribuirá segundo as suas capacidades
e receberá conforme as suas necessidades,
de modo que não haverá necessitados, necessitadas, entre todos e todas.
Arquiteta-se uma nova Política, com a participação de todos e todas, na elaboração e decisão das políticas públicas, que promoverão a dignidade e a felicidade,
o Bem Comum, o Bem Viver de todos e todas.
Ninguém será nem se sentirá humilhado, oprimido ou excluído por ninguém,
humilhada, oprimida ou excluída por ninguém.
E será a passagem libertadora e vivificadora do Deus da Vida, em Jesus Cristo,
na força do Espírito,
fazendo acontecer, em todos os cantos da terra, o Reino da Vida em plenitude,
assim na terra como no céu.
E cantaremos todos e todas, a uma só voz o ALELUIA da RESSURREIÇÃO, para sempre!

Obs: REGINALDO VELOSO, presbítero leigo das CEBs (essa é minha condição eclesiástica atual, o que me deixa particularmente feliz)
– Membro do MTC (Equipe Maria Lorena – Recife)  (terminou meu “mandato” como “Assistente Regional”)

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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