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Conheci faz muito tempo uma jovem tímida.
Que mentia.
Escondia a timidez atrás de um nariz levantado e um sorriso desenhado nos lábios.

Ela chorava rios, mas sempre nas quinas onde não havia possibilidade do pranto ser surpreendido.
Depois atarraxava novamente seu sorriso azul na cara e voltava sobre seus passos.

E ela gostava de mastigar em azul seu riso porque era assim que ela imaginava o céu.

Hoje ela aprendeu que sorriso bonito é branco, de nuvem que desmancha na boca.

E que a lágrima que entra tem que encontrar uma porta de emergência, nem que seja escondida pelas escadarias do olho.

E que não tem que se mentir a dor, porque essa escapa da alma pelos poros e pelos.

E descobriu também que não se deve escolher pessoas pra acompanhar a solidão da gente.
A própria solidão se encarrega disso.
E busca, atenta observa,
até o dia em que nos conta em segredo sussurrado, se algeme agora, é esse o eleito.
Muitos duvidam da sabedoria e da escolha, mas a solidão sempre soube que caminho tomar, que estrada dobrar, nessa caça.

E a menina cresceu e aprendeu que não é a embalagem bonita, a matéria estuante de vida, as noitadas ébrias de risadas histéricas, o encontro de corpos no cio, o movimento contínuo, que fazem a trilha.

Não!

O que faz a leveza, a duração da qualidade, a sensação de que tudo está no lugar exato e que é esse o nosso universo é exatamente o oposto.
É o avesso de tudo isso.

É o olho que segura o outro olho, mesmo que já não haja mais o antigo brilho.
É o corpo que respeita a passagem do tempo do outro corpo e, mesmo assim, ainda o deseja.

É o conforto das mãos ainda dadas, uma fechada na outra, apesar da força do aperto ser menos urgente e mais necessidade adquirida, o contato está ali a mostrar que valeu cada segundo.

É o sabor da taça de vinho saboreada até o fim, lado a lado, sem pressa, sem medo, apenas sorvendo cada gole como novo, como único.

Essa menina nunca perdeu a timidez, mas não mais a disfarça.
Quando sorri seu sorriso, agora de nuvem, seus olhos se apertam e formam riscos que não moravam ali, mas ela não liga mais pra essas marcações da vida, apenas vive.
Apenas segue.

E quando sente o rosto quente se tingir de rosa não o esconde mais no queixo. Deixa que vejam e faz disso sua marca.

E finalmente encontrou a paz na companhia que a solidão lhe apresentou e lhe sussurrou um dia, pegue, se algeme, nunca mais se solte.

Esta será sua prisão e sua guia, seu prado aberto e sua fronteira, sua sorte, sua vida inteira… E sua morte.

(elza fraga)

Espalhando palavras desenhadas e dando crédito.

Obs: Imagem enviada pela autora

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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