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CARTA I

Ressuscitar é renascer é vida nova
À meu amigo e irmão no presbitério Luis Carlos

Bom Dia!!!
Feliz Páscoa!
Um santo e abençoado domingo da ressurreição.
E no primeiro dia da semana vieram ao sepulcro,
Era cedo, bem de manhã o sol ainda não era nascido,
Aleluia… Aleluia!!!
Bendito seja o Deus de Israel que nos deu um poderoso salvador,
A pedra tinha sido rolada do túmulo,
A pedra que os construtores rejeitaram se tramou a pedra fundamental.
Aleluia!
Eles entraram no túmulo e estava vazio,
Viram e acreditaram…
Aleluia!
As mulheres têm o protagonismo da fé,
Foram ao túmulo e de repente um grande tremor,
Por que buscar entre os mortos Aquele que está vivo?!
Foram as mulheres que anunciaram a ressureição,
Gesto de atitude e de carinho, na esperança da nova vida.

Ressuscitar! Dia da esperança, numa confiança que Deus faz de tudo um Bem. Não há males que não traga um Bem! Deus é sempre presente em todos os momentos da vida, mesmo na sepultura, aí Deus estar. Tenhamos coragem o mal vai passar. Em meio a toda a tristeza, sobre o silencio da vida há um cantar… Aleluia! O Senhor nos liberta do ferrão da morte. Vamos a Galiléia e vamos lá recordar tudo que o Senhor nos ensinou. Na Galiléia se encontra o mar da esperança humana, somos carentes de amor, e no amor somos libertos.

São tantos os dilemas humanos, um desânimo sempre nos acompanha. Quando pensamos que as coisas estão se encaixando, elas desandam. A vida é um sacolejar da existência, sempre encontramos os temporais: afetivos, econômicos, políticos e religiosos.

Afetivos, trazemos em nosso corpo as marcas das feridas amantes. Porque são as pessoas que amamos, aquelas que mais nos machucam? E dizem elas nos amarem, e de fato acreditamos que de fato exista amor. Vivemos uma ausência afetiva muito grande, sempre fazemos a experiência do abandono de sermos mal amados, pelas pessoas que amamos.

Economicamente, damos o máximo para termos uma situação financeira, mas confortável, mas parece que o mundo econômico que criamos, privilegia o conforto para uma restrita minoria. Trabalhamos feito loucos, somos burros de carga, e não conseguimos o necessário para uma vida humana digna, isso quando temos um emprego, os que somos desempregados, somos condenados a viver fazendo bico, e ter uma vida financeira de miséria.

A política, a forma como nós organizamos o poder, é uma podridão de plena corrupção, os governantes em vez de estarem administrando e legislando para o bem comum do povo, são coniventes com o sistema econômico, que só visa o lucro, sobre a miséria do povo. A política é realizada para manter as pessoas no abandono. Estamos assistindo por todo o mundo o aumento considerável da miséria. Os pobres ficando ainda mais pobres, e os ricos, que são uma pequena elite econômica se mantendo no poder, para explorar o povo.

No aspecto religioso, vivenciamos o aumento do sentimentalismo religioso, onde as igrejas, se preocupam com a salvação individual e espiritual das pessoas para uma vida além, levando a nos preocupar com uma vida depois da morte, onde a alma é desvinculada do corpo. A religião é um pietismo moral, e pieguismo espiritual. Religião é negócio de milagres, diante da miséria afetiva e econômica que vivemos hoje, os pregadores da má notícia se espalham para enganar o povo com suas curas, onde por trás o que se encontra mesmo nessas práticas é a exploração religiosa da fé, num iludir o desejo inerente de transcendência do ser humano.

É diante desse contexto que podemos falar de ressurreição. Uma experiência mística, de reanimação das nossas forças. Sim Senhor, eu creio que estás vivo, que ressuscitastes dos mortos, e, És vivente entre nós. Pois, nossa fé é uma fé no ressuscitado, que nos traz uma vida nova. Todos e todas morremos com Cristo para esse mundo, e sabemos que mundo é um conjunto significativo, morrer para esse mundo é dizer que o mundo é simplesmente mundo, ele não é a nossa salvação.

O mundo é uma realidade significativa. Nós os humanos fazemos o acontecer das coisas, e o mundo que fazemos, é um mundo, de moralidade moralista, quem não liberta as pessoas do pecado, mas as aprisiona na norma, os planos desse mundo não são de liberdade física e espiritual das pessoas, mas de dependência, onde as pessoas vivemos na depressiva opressão moral.  Toda a severidade com o corpo tem ares de sabedoria, mas, são ares mesmos, pois na verdade o que nos exigem não tem nenhum valor para o nosso crescimento místico espiritual em nossa humanidade, que anseia por Deus. O mundo significativo religioso muitas vezes cheio de piedade, que se reveste de um espiritualismo hipócrita, onde se busca pela mortificação se unir ao sacrifício de nosso Senhor, quando na realidade é a satisfação da sua própria carne, manifesta no ego da autossuficiência de si mesmo (Cl 2, 20ss). Esse é o mundo que temos de nos libertar e morrer para ele.

Somos ressuscitados e ressuscitadas em Cristo, portanto temos que procurar as coisas do alto. Esse alto é uma realidade extramundana? É um além fora da nossa atmosfera planetária? Uma realidade pós morte? Como pode ser uma realidade fora desse mundo, se vivemos a fé no ressuscitado aqui no mundo? fé é uma realidade mundana, pois quando não mais formos aqui e estivermos em glória não teremos mais fé. O apóstolo Paulo já nos falou: a única coisa que permanece é o amor, a fé e esperança vão passar, porque em-Deus, não mais teremos fé, já o temos face-a-face. Procurar as coisas do alto, é procurar se elevar ao projeto de Deus. As coisas do alto é um mundo novo, liberto da injustiça social, um mundo de iguais nas diferenças, que foi mostrado e inaugurado pelo ensinamento e morte de nosso Senhor. É descobrir a vida nova que nos manifestou O Senhor. As coisas da terra, são coisas do passado, onde o significado do  mundo era o mundo do sagrado opressor, que iludia a todos com a lei, piedades carismáticas fundamentalistas, e falsos milagres que nos distanciam do verdadeiro evangelho, que é a construção de um mundo liberto da ambição do vil opressor. Procurar as coisas do alto, é ver em Cristo o autêntico sacramento de amor para a humanidade. É em cristo que nos movimentamos no mundo com profunda liberdade, sendo todos e todas inseridos no novo mundo, onde todos e todas vivemos o amor solidário para com toda a humanidade.

Celebrar a ressurreição é viver a vida nova desvelada por nosso Senhor. Dia de páscoa é nossa passagem, um renascer na vida nova, somos homens e mulheres renascidos em Cristo, que nos revela o amor do Pai. E participar da vida de Cristo é ser-Deus e para- Deus, sendo pertencente aos seus mistérios que vivemos por antecipação na sagrada liturgia. E nossa pertença a Deus não é uma pertença lá na outra vida. Mas, uma pertença vivida nos mistérios litúrgicos que nos lança na história, pois crescemos em Deus no mundo, e testemunhamos o pertencimento a Deus no mundo, é no mundo que o amor de Deus é completamente manifesto. É a partir do Amor de Deus, que podemos ter o critério para ver, o que é o desamor do mundo. Nosso Senhor nos deu o critério para ver qual é a situação humana no mundo e como podemos nos libertar do mal, criando um mundo novo, tendo como manifestação as realidades do alto. Isso é: o projeto de Deus. Um mundo com um sentido de liberdade, liberto da injustiça social, fruto do erro de percepção de adão e Eva (Cl 3, 1-4).

Um excelente almoço de Páscoa!
Sexta-feira da paixão morreu o ser humano velho, apegado ao consumo e a vaidade, isso é uma idolatria;
Morreu o mundo de significação maldosa,
Onde irmãos desconhecem irmãos, e a injustiça gera fome.
Somos em Cristo renascidos homens e mulheres novos,
Através do conhecimento,
Ressuscitamos para a vitalidade sendo imagem de Deus, como diz o apóstolo Paulo, somos todos e todas, em Cristo uma só humanidade, não há preto ou branco, hétero o homo, ricos e pobres, mulheres ou homens, cristão ou não cristãos, expatriados ou nacionalizados, somos todos e toda humanos, uma só humanidade, todos e todas somos filhos e filhas de Deus.

Esse é o nosso almoço de Páscoa… nossa ressurreição, um ser humano liberto dos velhos sentidos egoísta, e agora participantes da vida nova que surge na ressurreição de Cristo.

Ele o primeiro dentre os mortos a ressuscitar,
É a cabeça da igreja seu corpo místico,
Deus é a plenitude de tudo, em cristo em tudo habita,
E Nele reconciliou todas as coisas em seu amor,
Por seu sangue derramado na cruz a paz foi estabelecida.

O Senhor nos conceda a sua graça,
Nos proteja e nos guarde,
A força do ressuscitado nos liberte de todo mal,
A bem-aventurada sempre virgem em seu jubilar-se hoje,
Nos traga seu Filho aos nossos corações.
A força do mandacaru, sempre sendo símbolo de nossa resistência na luta por um mundo novo.

Mauricio Soares
Na perscruta do Reino que vem

Obs: Imagem enviada pelo autor

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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