Wilson Gorj 15 de março de 2020

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A primeira fase de sua vida foi marcada pelas histórias de aventura, preferencialmente aquelas ambientadas no mar. Não é de admirar que o seu livro predileto fosse o Moby Dick, no qual mergulhara várias vezes, relendo-o sempre com igual empolgação. Entretanto, adulto, viu-se obrigado a trocar as leituras marítimas por outras menos imaginosas. A partir de então a aridez dos livros técnicos veio ocupar-lhe os dias.
Assim foi até o dia em que terminou numa cama de hospital, padecendo de grave enfermidade.
Como não tivesse família nem parentes próximos, contava unicamente com a assistência de um amigo, na verdade um colega de trabalho, a quem pediu um favor, acompanhado deste argumento: “Sei que posso morrer a qualquer hora. Mas, enquanto estiver vivo, pelo menos não quero morrer de tédio”. Queria, portanto, que o outro lhe arranjasse um livro. Não qualquer livro. Tinha de ser um que falasse do mar: “Uma história marítima”.

*

No dia seguinte, o colega lhe trouxe a encomenda. Assim que leu o título, sentiu uma grande onda de emoção subir-lhe a garganta e, com força, arrebentar-se nos olhos. Mais do que um livro, aquele seria um portal através do qual teria de volta toda sua infância povoada de aventuras e mistérios.
Ainda trazia a vista marejada, quando o colega se despediu, deixando-o a sós com o livro.

*

Ao livro: urgia singrar-lhe as páginas!
Enfunadas as velas da imaginação, partiu rumo à longa viagem…

*

Partida sem volta. No peito inerte, jazia o livro com as páginas voltadas para baixo, emborcado feito um barco devolvido à praia.

Obs: O autor é escritor e editor. Também é sócio-proprietário da Editora Penalux.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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