João Baptista Herkenhoff 15 de março de 2020

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As cinzas, impostas na fronte dos fiéis, na Quarta-Feira de Cinzas, constituem uma lição de vida.

Revelam a transitoriedade das coisas.

Advertem que as vaidades são ilusórias.

Lembram a todos nós que somos pó e em pó nos tornaremos.

“Memento homo, quia pulvis es, et in pulverem reverteris.”

Lembra-te, homem, de que és pó e em pó te hás de tornar.

Não só a Igreja Católica celebra o tempo quaresmal.

Também as Igrejas Luterana, Presbiteriana, Anglicana e outras Igrejas Cristãs debruçam-se à face do mistério do Cristo que foi crucificado e ressuscitou.

O Papa Francisco tem estimulado o Ecumenismo.

Devido a seu Humanismo e  Humildade. a palavra de Francisco tem merecido a ausculta até de ateus ou supostos ateus.

Uso a expressão supostos ateus para me referir a algumas pessoas que se declaram atéias mas que, a meu ver, ateus não são.

Quem acredita na Dignidade Humana não é ateu. Quem luta por um mundo de Justiça não é ateu. Quem quer os bens partilhados não é ateu.

Quem só pensa em si é ateu.

Quem se coloca contra qualquer projeto de governo que pretenda distribuir melhor a riqueza é ateu.

Quem ataca o Papa, mesmo se declarando católico, porque o Papa abraçou um determinado líder politico, é ateu porque não acredita, nem no Papa, nem na Igreja que ele preside. Submete o Papa a sua opinião pessoal.

Este nosso Francisco não é Francisco I, nem Francisco II, como era de tradição no nome dos Papas e também no nome dos Reis. É apenas Francisco, Francisco e nada mais.

 Jesus Cristo pode estar em toda parte.  Mas está sobretudo nas favelas, nos hospitais, nas prisões. Ali onde estão os pequeninos, os desabrigados, os marginalizados, ali está o Cristo Libertador, como anúncio de Esperança, consolo dos aflitos, auxílio dos que sofrem.

Podemos traduzir de várias formas a advertência das Cinzas, como exemplificamos a seguir.

 Lembra-te, tu que exerces função pública de destaque e deténs uma cota de poder, tua função é transitória, os que hoje te bajulam amanhã te desprezarão, procura servir com devotamento à causa pública pois o que fizeres de bom será consolo e alimento de tua alma quando a penumbra chegar.

Lembra-te, tu que estás a produzir tesouros no domínio das ciências, das artes ou das letras, os dotes do espírito podem fenecer e nem mesmo tens a garantia de desfrutar para sempre de lucidez intelectual. Foge do orgulho e da empáfia.

Lembra-te, tu que estás vivo e fulgurante, que o túmulo é o teu destino final. Respeita a reverencia a morte, cultiva a memória dos que partiram.

 As cinzas dizem a todos, cristãos ou não cristãos, crentes ou incrédulos, que tudo é passageiro porque realmente somos pó e em pó haveremos de nos tornar.

Obs: O autor é magistrado aposentado (ES), escritor, professor, palestrante. 
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