Padre Beto 1 de março de 2020

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Um jovem começa, a contragosto, trabalhar como “Nokanshi”, uma espécie de agente funerário responsável por preparar o corpo, colocá-lo no caixão e enviar a pessoa que morreu para o outro mundo, agindo como um guardião entre a vida e a morte. O jovem começa, então, a sofrer o preconceito, tanto por sua esposa quanto pelas pessoas a sua volta. Porém, em “A Partida”, de Yôjirô Takita, justamente através da morte é que todos começam a descobrir o verdadeiro sentindo da vida.

Ao se manifestar na sinagoga de Nazaré, Jesus (Lc 4, 21-30) é elogiado pelos seus conterrâneos. Imediatamente, Jesus inicia um discurso de crítica a eles chegando a afirmar que um dia eles farão cumprir o provérbio que diz: “Médico, cura-te a ti mesmo”. Afinal, diz Jesus, nenhum profeta é bem recebido em sua pátria. Mas, por que Jesus critica seu povo diante da popularidade? Por que ele procura ser impopular frente aos “aplausos” recebidos da comunidade de Nazaré? Simplesmente porque Ele sabe o que está por detrás desta popularidade. Ele conhece a mentalidade de sua própria gente. A popularidade não é fruto da aceitação de sua palavra e da procura em vivê-la, mas sim de um individualismo grupal. A comunidade de Nazaré se sente orgulhosa de ver nascer um novo líder e deste pertencer a Nazaré. Jesus se faz impopular para desconstruir esta imagem que exclui todas as outras pessoas que não pertencem a Nazaré e não são judeus. A mesma mentalidade encontramos hoje em nossa sociedade de consumo. Nós somos incentivados a ser individualistas e criar um “marketing pessoal” ou, caso não somos capazes de fazer isso sozinhos, precisamos pertencer a um grupo ou movimento que nos dê este “poder” de ser visto como melhor que os outros. O Brasil precisa ajudar as vítimas do Haiti, pois isto nos dá mais visibilidade frente ao mundo, ainda que tenhamos brasileiros vivendo as mesmas situações em nossa própria terra. É preciso incentivar o carnaval reativando o “sambódromo”, apesar de termos outras questões mais importantes a serem resolvidas. Mas esta mentalidade não está presente somente na política. Por incrível que pareça, pertencer a um grupo para ser melhor que os outros é uma doença que contamina as religiões. Eu sou católico, por isso sou melhor que os outros. Eu pertenço a determinado movimento religioso como Renovação Carismática ou ECC, e assim me sinto melhor que os outros. Eu sou ministro da eucaristia o que me dá um status melhor diante da comunidade. Eu sou sacerdote e, portanto, portador de um poder que os leigos não possuem. E é claro, que o poder econômico exclui os demais de minha convivência. Nós criamos ilusões vestindo uma determinada “camisa” e distorcemos o próprio sentido de tudo para atingirmos o poder. Nos dividimos em tribos que excluem os demais. Porém, se prestarmos muita atenção na mensagem de Jesus encontraremos atitudes opostas a esta. Em Mt 23, Jesus critica os fariseus e diz aos seus discípulos: “Quanto a vós, não permitais que vos chamem ‘Rabi’, pois um só é o vosso mestre e todos vós são irmãos. A ninguém na Terra chameis de ‘Pai’, pois um só é vosso Pai, o Celeste. Não permitais que vos chamem de ‘guias’, pois um só é vosso guia, o Cristo. Antes, o maior dentre vós será aquele que vos serve.” Dele mesmo, Jesus diz: “O filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20). O cristão precisa se conscientizar de que não é a “camisa” que vestimos ou a tribo à qual pertencemos o importante, mas o que realmente fazemos e com que intenção fazemos.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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