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Até algum tempo atrás, o Brasil era tido como país católico. O Presidente eleito, Tancredo Neves, ainda se sentia à vontade para dizer que o Catolicismo, “apesar de não ser a Igreja oficial, era, sem dúvida, a “Igreja nacional”. A crise global da civilização, porém, com seu dinamismo desagregador e agravada entre nós pelo acelerado processo de urbanização e democratização da sociedade civil, leva-nos a perceber que hoje em dia já estamos num país de franco pluralismo religioso. Ajunta-se a tudo isso o enorme poder dos meios de comunicação, facilmente manipuláveis pelo apetite de dinheiro fácil e de prestígio pessoal, chegando-se para isso a produzir com escandalosa quantidade “milagres” e “prodígios”, com descarada exploração da credulidade pública. Tudo isso conduzido por deplorável autoritarismo pastoral, íntimo aliado de poderosos grupos políticos reacionários e igualmente autoritários. Inumeráveis são os grupos que se designam a si mesmos de “Igreja” e, de uma forma ou de outra, se desejam em continuidade com a Reforma Protestante, o que não deixa de ser uma lástima para a boa fama da Reforma. Para além do campo cristão, vão ocupando espaço outras religiões, a começar daquelas que estão na raiz de nossa nacionalidade, aborígenes e afro-ameríndios. O Candomblé ou Xangô, por exemplo, já não se sente clandestino, antes, se manifesta em público com renovada dignidade e orgulho de suas raízes e identidade negras. Muita gente tem assumido a identidade espírita, tanto na classe popular como na classe média; e religiões orientais vão-se disseminando paulatinamente. Naturalmente, não podem ser ignorados o Judaísmo, com sinagogas plantadas há séculos, e o Islamismo. Sem falar do crescente número de pessoas que se declaram sem religião, agnósticas e mesmo convictas do ateísmo.
Em nossa infância, a imagem que tínhamos da Igreja cristã era a de um bloco praticamente monolítico. Claro que, em certos ambientes, se mencionavam algumas Igrejas Orientais antigas e dissidentes, já nos primeiros séculos de nossa era, como a Igreja Copta (Egípcia) e a Etiópica, por exemplo, mas esses ramos menores da Cristandade não chegavam a causar a impressão de haver divisão no Catolicismo. É verdade que ficávamos sabendo algum dia que tinha havido a ruptura de 1054, com a separação entre a Igreja do Oriente que se considerava “ortodoxa”, quer dizer, testemunha da reta doutrina católica, e a Igreja do Ocidente que reafirmava o Catolicismo romano como a verdadeira ortodoxia cristã. De qualquer forma, porém, tratava-se de duas grandes expressões institucionais da mesma Igreja Católica. Naturalmente, na raiz da divisão, tiveram seu papel traços étnicos, valores culturais em conflito, costumes litúrgicos próprios, expressões peculiares de institucionalidade, sem falar de condicionamentos políticos. Não era difícil enxergar entre os motivos da separação a predominâncias de aspectos culturais e diferenças de sensibilidade e linguagem, mais que de ruptura propriamente doutrinal. Dai, falar-se de “cisma” e não de “heresia”. A Reforma Protestante do século XVI foi tida como “heresia”; mas a história medieval nos ensina o quão problemática é essa qualificação sempre aplicada com certa facilidade a quem de nós discorda no raciocínio e na formulação. Já com mais de quatro séculos na Europa e em seguida no continente norte-americano, em nosso meio só se manifestava timidamente em certos ambientes restritos, sobretudo de classe média, o que não chegava a desafiar a hegemonia do reinante Catolicismo. Só mais recentemente é que se achegou aos ambientes populares, particularmente mediante a corrente pentecostal originária dos Estados Unidos da América do Norte.
A situação atual já é bem diferente. Acentua-se em todo o mundo o pluralismo no seio da Igreja cristã. Baste pensar nos Estados Unidos da América do Norte. Na África e em nosso Continente afro-ameríndio, com a multiplicação de Igrejas a cada esquina, algumas ainda referindo-se a ramos já conhecidos do Cristianismo, como Luteranismo, Presbiterianismo, Batista, Pentecostalismo… outras, “independentes”, inventando-se a si mesmas, bastante marcadas, é verdade, pela herança “pentecostal”, mas, ao mesmo tempo, assumindo matrizes religiosas populares, até mesmo pré-cristãs, como no caso brasileiro, da cosmogonia e do animismo aborígene e africano que transparecem nas igrejas chamadas de pós-pentecostais.
Nesse contexto pluralista no próprio seio da Igreja Cristã, o Cristianismo parece mudar a própria imagem. Já não se apresenta mais em forma monolítica, reunindo Ocidente e Oriente debaixo da mesma identidade “católica”. Nem mesmo se restringe aos grandes blocos surgidos a partir da Reforma: Igrejas Ortodoxas, Igreja Católica Romana, Igreja Luterana, Igreja Reformada ou Presbiteriana, Comunhão Anglicana, Igrejas Batistas e outros ramos menores. Tem-se a impressão de que o Cristianismo está indo bem além do modelo “igreja” e se transforma num imenso e plural movimento de “espiritualidade”, incontrolável, no qual questões doutrinais e litúrgicas, e até mesmo institucionais, parecem agora ter menos peso e o que mais importa é a relevância ou não da prática cristã para a redenção de uma humanidade que já não sabe por onde andar em meio à profunda crise de valores em que estamos mergulhados(as), ou mesmo em perigoso atoleiro.
Daí decorre que o Ecumenismo se torne hoje em dia dimensão obrigatória na relação entre as Igrejas e as religiões. A questão central porém já não pode ser meramente “religiosa” ou institucional, mas se deve interpretar ao pé da letra, o Ecumenismo compreendido como o direito de todos(as) a permanecerem na mesma casa, como imenso leque de variadas expressões. “Ecu” vem de “oíkos”, em grego, que quer dizer “casa”; “menismo” vem do verbo “ménein”,”permanecer”. Era a expressão usada pelo Império Romano para designar os povos contidos nos limites do território imperial, todos a formar uma imensa “casa” na qual o “pater famílias” era o imperador. Hoje temos de reinterpretar o termo no sentido universal, todos os povos com direito a “permanecer na casa” comum do mundo, com suas variadas expressões de ser. Já não pode, nem de longe, ser visto como “retorno à unidade” anterior à Reforma e nem mesmo como simples diálogo teológico entre diferentes confissões de fé e agora estendido ao pluralismo religioso. O que vem ao centro é a fé, não simplesmente a religião, a fé compreendida como “práxis” da libertação humana: praticar e pensar um Caminho no qual os seres humanos se sintam salvos do desespero e do sem sentido de uma vida debaixo de múltiplas formas de opressão. A fé diz respeito a uma determinada práxis (ação/reflexão), mediante a luta pela conquista da liberdade, ou seja, a caminhada de libertação, sempre inacabada, já que a liberdade é a dimensão da transcendência humana. Trata-se de humanizar-se mediante a experiência de ir-se tornando livre, o que é justamente fazer a experiência da Transcendência, mistério que tem o poder de nos reunir pela força do Amor, concretizado em serviço recíproco, em perdão mútuo e em partilha dos bens.
Essa experiência concreta é capaz de trazer à unidade humana, pois faz com que a Verdade proclamada possa verificar-se (mostrar-se verdadeira) na Verdade praticada. Crentes, não só de Igrejas mas também de religiões diferentes vão poder encontrar-se e reconhecer-se em fraternidade. É claro que isso vai naturalmente muito além de “religião”, pois essa diz respeito a valores culturais, costumes e instituições de cada povo. A fé, na verdade, vai muito além de religião, de crenças e de costumes e tradições. Sabemos que a própria fé bíblica tem, intrinsecamente, uma dimensão de “ateísmo” enquanto faz crítica radical de todas as imagens de Deus que construímos em nossa imaginação. Toda imagem é sempre, de algum modo, “ídolo”, isto é, deus a nossa imagem e semelhança. (cf. Dt 5, 5-11; Sb 13-15)). O caminho de superação da idolatria é justamente o já indicado: Deus mesmo constrói Sua imagem, o homem e a mulher, para estarem à frente de Sua obra e dela cuidar (cf. Gn 1 e 2). Os salmos nos dizem que temos de permanecer “em busca da face do Senhor” e na atenta escuta de Sua Palavra na história. Toda imagem é sempre projeção humana a fechar-nos em círculo narcisista, busca de nossa própria face. A Bíblia não nos chama a “olhar” para os ídolos sempre construídos por nós, reflexo de nossa própria face, antes, chama-nos a “escutar” : “Escuta, Israel” (Dt 6, 5). Ora, escutar é sempre voltar o ouvido a uma voz que nos chega de fora e que chama a perceber a realidade das pessoas e das coisas para além de nós mesmos(as). É sempre atitude e gesto de abertura à alteridade, ao que está para além de nós, nos ultrapassa e transcende. “Escutar” (em latim, “audire” leva na prática a “ob-audire”, isto é, “voltar o ouvido” para perceber a realidade, necessidades e exigências para além de nós, é daí que deriva o termo “obedecer”: obedecer não equivale a submeter-se, sujeitar-se, é dirigir a escuta e voltar-se às necessidades de outrem, isto é, servir, pôr-se à disposição. Muito teríamos a aprender do mestre filósofo judeu Emmanuel Levinas.
Dom Helder Camara nos deixou definição lapidar de Ecumenismo. Em entrevista a queima-roupa, no aeroporto de Paris, durante o Concílio Vaticano II, assim se expressava: “Quando nós, as Igrejas cristãs, decidirmos assumir realmente as preocupações de Deus, que são as questões da vida de Seu povo, chegaremos então a ter vergonha de nossas divisões, pois nos parecerão coisas tão pequeninas”. Sim, dizia um antigo bispo da Diocese Anglicana do Recife: “Continuamos divididos por razões de mortos, enquanto nosso povo vivo de hoje nos dá todos os motivos para nos unirmos”. Eu mesmo costumo dizer: “A realidade de nosso povo não nos pergunta primeiro por nossas “confissões de fé”, mas por soluções de fé”. Se “confissões de fé” (leia-se: “confissões de religião”) frequentemente têm o triste poder de nos separar, a busca de “soluções de fé” para problemas da vida tem o admirável poder de nos reunir em ações de amor e de esperança, ou seja, de redenção. Há um ano atrás, mais ou menos, escutei de um senhor do interior de Pernambuco uma admirável definição de oração: “É recolher-se em Deus para dispor-se a trabalhar pela transformação deste mundo”. Eis o cerne do que chamamos de “espiritualidade”.
Esta perspectiva nos desloca na direção de retorno a Jesus e é o que se tem feito com afinco e ao mesmo tempo com muita dificuldade desde o século XIX. O Apóstolo São Paulo nos ensinava que só Ele é a rocha, a pedra de fundamento, tudo mais está entre pedra e areia (cf. 1Cor 3). Uma das tragédias do Cristianismo, porém, tem sido a dificuldade de superar o “monofisismo” de fato e reduzir a relação com Jesus a “cultuá-Lo” como ser divino. Lembro-me de um poeta e cantor italiano, Fabrizzio de Andrei, muito escutado nos anos sessenta, ateu, mas apaixonado por Jesus, que dizia: “Os cristãos julgaram muito difícil imitar Jesus, por isso disseram que é Deus, pois um deus não se imita, um deus se cultua, não digamos: Laudate Dominum, mas laudate hominem, Jesus homem, nosso irmão!” Interessante, a afirmação doutrinal da Igreja não é que Jesus é Deus E homem, mas que é Deus feito homem. Mas amiúde o interpretamos erradamente e o resultado desse dualismo é privilegiar a dimensão divina em detrimento da real encarnação. “O Verbo se fez carne” (cf. Prólogo do Evangelho de São João,1º), quer dizer, assumiu a precariedade da condição de criatura, frágil, incompleta, em construção, mortal. Comumente, porém, recaímos na antiga heresia monofisita que atribui a Jesus uma única natureza dominante, a divina, e sua humanidade se esvai. Na verdade, nunca nos devemos desviar do esquema traçado na Epístola aos Filipenses: “Ele se esvaziou de Si mesmo e tomou a condição de escravo, tornando-se semelhante aos seres humanos e, mostrando-se em figura humana, humilhou-se, tornou-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2, 7-8). Jesus não é Deus com aparência humana, mas “Deus feito homem”. Sua encarnação significa que aceitou radicalmente a condição de ser um homem diante de Deus. Mesmo sendo um homem perfeitamente em Deus, sem a ilusão de poder-se separar. Aqui reside Seu mistério. É essa a única maneira humana, autêntica e possível, de vivenciar a consciência de Sua divindade. Não se tratava de se sentir Deus enquanto homem, mas de se sentir um homem diante de Deus, inseparável porém de Deus. Foi a meditação que São João tentou fazer em seu Evangelho (cf. Jo 5). Dizer que Jesus é Deus é proclamar que é um homem que se experimenta completamente em Deus, sem nenhuma possibilidade de iludir-se, de aderir à idolatria, embora a isso tenha sido intensa e insistentemente tentado, como vemos nos evangelhos.
É por isso que não falamos apenas de fé em Jesus como Filho de Deus, mas temos toda a legitimidade para falar da ”fé de Jesus”, aquela atitude que se expressou, por exemplo, no limite extremo da oração no Jardim das Oliveiras e da hora da cruz: “Meu Deus, meu Deus por que me abandonaste?” Pergunta a que a humanidade faz eco desde sempre e que Jó gritou em forma que se fez clássica e que repetimos ainda hoje a partir de nossa própria experiência do silêncio de Deus diante dos impasses da condição humana. Mas Jesus teve fé, o que quer dizer que se identificou com Deus e com seus projetos, obedeceu e se entregou: “Em Tuas mãos entrego minha vida”. Ele não é apenas objeto de fé, mas sujeito de fé, com quem podemos nos identificar, ao imitá-lo em Sua dedicação e obediência a Deus. Não apenas nos falou sobre o Caminho (cf. At, 9, 2), mas o assumiu até o fim e em Sua própria carne no-lo revelou (cf. Mc 8-10). Em outras palavras, Sua espiritualidade se faz espelho para nossa própria caminhada. Deixou-se guiar pelo Espírito de Deus e d’Ele aprendeu os princípios e os valores profundos, capazes de nos conformar ao jeito de ser da divindade. Mostrou por Sua maneira de viver que o único caminho de realização de plena humanidade é o do Amor, ou seja, só o Amor nos humaniza e humanizar-se significa, na verdade, divinizar-se, já que o Amor é Deus, como nos mostra bem São João no conjunto de sua Primeira Epístola (cf. particularmente capítulos 3 e 4). O grande Leonardo Boff, há anos atrás, belamente o formulava: “Tão humano assim só pode ser Deus”.
Jesus nos convida insistentemente a segui-Lo, a acompanhá-Lo para assimilar os traços de Sua espiritualidade. A saber, de Sua caminhada humana diante de Deus, Filho diante do Pai. O convite é para seguimos na “imitação de Cristo”, pois só assim praticaremos nossa verdadeira condição de filhos e filhas, irmãos e irmãs d’Ele, se d’Ele e com Ele aprendemos a caminhar. Se é “o Autor e Consumador da fé” (cf. Hb 12, 2), só nos resta segui-Lo. “Espiritualidade” é caminho de vida, deixar-se impulsionar por um espírito que nos arrasta como o vento, quer seja caminhar com o Deus vivo (cf. Jo 3), quer entregando-nos aos ídolos “mudos” (cf. Sls 135 e 146). O resultado será sempre nos tornarmos semelhantes ao que adoramos (cf. Sl 146), como se deu com Jesus que foi exaltado e se Lhe concedeu “um Nome que está acima de todo nome” (Fl 2, 9), “estabelecido Filho de Deus com poder pelo Espírito Santo” (Rm 1, 4; cf. At 10, 37-38). Nos evangelhos temos a memória de Jesus para nos guiar em Seus passos. É preciso voltar aos evangelhos para que possamos redescobri-Lo. Quem sabe, eles nos reservam surpresas inauditas e viram de ponta-cabeça nossa religião e costumes piedosos. E se descobrirmos que religião está intimamente ligada a poder, a encobrimento dos mecanismos de opressão dos pobres, a elaboração de ideologia que mascare a violência dos sistemas dominantes, a condenação a morte? Quem duvidar que leia os relatos da Paixão nos evangelhos!
Quando o Cristianismo se faz cada vez mais “movimento” plural de “espiritualidade”, não nos resta outra direção, senão aproximar-nos da direção mesma do “movimento de Jesus” pelo qual Ele próprio esperava que se manifestasse o Reino de Deus como “Xalôm”, “Bem-viver”, felicidade já começada neste mundo (cf. Gn 2; Mt 10 e Lc 10; Ef 2), modelo de convivência a que hoje nos convidam os povos que, com desprezo, os países do imperialismo e da opulência chamavam de “primitivos”. “Primitivos”, sim, se isso significa que, em sua simplicidade de viver, conseguiram permanecer mais fiéis às “primícias”, às raízes primárias e fontes da vida, em bem maior integração e harmonia com a Natureza e entre si; conscientes de que “não é a Terra que se deve a nós, nós é que nos devemos à Terra”, e nos devemos umas pessoas às outras, segundo o que apropriadamente dizia com toda convicção o poeta Ferreira Goulart: “É evidente que o sentido da vida são as outras pessoas”. Jesus não viveu para Si, entregou-se, viveu para além de Si mesmo, experimentou a infinita Transcendência da Vida, que se manifesta concretamente na transcendência das pessoas, do Universo (Natureza) e do Futuro.
Voltar a Jesus em tempos de treva, voltar ao Evangelho, voltar à vivência de comunidade com o olhar mais amplo sobre a sociedade em que vivemos são para nós hoje o grande desafio. Absurdamente, Jesus tem sido identificado com Igreja ou denominação religiosa. E esta por sua vez identificada com religião e religião que se centraliza na celebração de cultos e em observância de “usos e costumes”, religião corrompida por estruturas de poder mundano. Que tristeza pensar que se chega ao ponto de identificar a condição de crente com a de pagador de “dízimos e ofertas”. Observa-se facilmente que um dos momentos centrais do culto é o da coleta, não a “coleta” nome antigo para a oração comunitária, mas a coleta de dinheiro vivo. Onde está a intrepidez de pastores e pastoras, de padres e bispos, de lideranças leigas para defender o rebanho e alargar o olhar na direção da sociedade e enxergar os pobres e, como bons pastores, defendê-los. Se devemos nos valer de ritos, que esses sejam simplesmente “sacramentos”, isto é, sinais e instrumentos da presença de Cristo em nós e através de nós, para indicar Sua presença entre nós “para a vida do mundo”. O que temos visto é o lançar mão do poder dos meios de comunicação, facilmente manipuláveis pelo apetite de dinheiro fácil e de prestígio pessoal, chagando-se para isso ao charlatanismo, à exploração da credulidade pública, à produção superabundante de “milagres e prodígios”, tudo isso conduzido por um deplorável autoritarismo e centralismo pastoral, íntimo aliado de grupos políticos reacionários e igualmente autoritários.
Se o Nome de Deus é tão lamentavelmente “profanado entre as nações”, e a Igreja cristã oferece ao mundo o triste espetáculo de falso profetismo, já tão enfaticamente denunciado pela Bíblia, se é assim, em meio a tanta treva, não nos resta senão voltar a Jesus e a Seu Caminho. Não será fácil, mas tem sido e sempre será aí a fonte da Liberdade cristã. O movimento monástico nasceu desta maneira, pequenos grupos que se juntavam no deserto para reencontrar-se com o Jesus dos evangelhos e daí interpelaram o mundanismo da Igreja que começava a se aliar ao Império e aos costumes de uma sociedade corrupta e decadente. Nunca devemos esquecer as Bem-Aventuranças proclamadas por Jesus aos pobres (cf. Lc 6, 20-26) e a todas aquelas pessoas que optam por irmanar-se com pobres e pessoas e grupos oprimidos e perseguidos (cf. Mt 5, 1-12). Que aí esteja a “lâmpada para nossos pés, lâmpada para nossos pés e luz, luz para nosso caminhar!” (Sl 119, 105).
Obs: O Autor é Bispo Emérito da Diocese Anglicana do Recife
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – IEAB….
É Teólogo e Biblista
Assessor do CEBI, de lideranças de Comunidades Eclesiais de Base e de Escolas de Fé e Política
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